‘Tenho um preço para não ir até o fim’, diz Flávio Bolsonaro sobre candidatura a presidente

Após culto em Brasília neste domingo (7), senador fala em negociação com o Centrão e cobra votação da anistia

Flávio Bolsonaro

Em sua primeira aparição pública após ser anunciado por Jair Bolsonaro como nome do seu grupo político para disputar a Presidência da República em 2026, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) adotou neste domingo (7) um discurso de críticas ao governo Lula, de ataque direto às decisões do Judiciário e de sinalizações sobre negociação política condicionadas à pauta da anistia. A declaração foi feita após um culto na Igreja Comunidade das Nações, em Brasília, templo que ele frequenta.

Logo no início da fala, Flávio disse que imaginava que Deus fosse agir, mas não sabia que tão rápido, quando se referiu a presença dos jornalistas na porta da igreja. Ele chegou a falar: “Deus já está convertendo a imprensa”, no começo de seu discurso. Sobre o momento político em que se encontra, quando questionado sobrea reação do mercado após seu nome ser cotado para concorrer ao cargo do planalto, o senador disse que tudo o que estamos vivendo é uma “tragédia anunciada” e afirmou acreditar que o Brasil não suportaria mais quatro anos sob o comando do atual governo.

Como candidato, Flávio diz que terá a possibilidade de mostrar que é um “Bolsonaro diferente”. “Um Bolsonaro muito mais centrado, um Bolsonaro que conhece a política, que conhece Brasília, um Bolsonaro que realmente vai querer fazer uma pacificação nesse país”, disse o senador.

“Assim como o mercado, eu também tenho a convicção de que mais quatro anos o Brasil não aguenta. Só que eles (o mercado) fazem uma análise precipitada. A partir de agora eu tenho a possibilidade, com essa exposição e a cobertura da imprensa, de mostrar um Bolsonaro diferente, um Bolsonaro muito mais centrado, que conhece a política, que conhece Brasília e que realmente vai querer fazer uma pacificação nesse país.”

Em seguida, acusou o governo federal de uso político da máquina pública e de estimular a divisão social: “O que a gente está vendo é o uso da máquina pública para perseguir opositores políticos, para alimentar cada vez mais a discórdia. Quem está sofrendo é o povo na ponta da linha, que não vê perspectiva, que vê as suas liberdades ameaçadas, que não acredita mais na classe política, nem no Judiciário.”

No entanto, quando perguntado se ele realmente levaria essa candidatura até o fim, respondeu que tem um preço para não ir até o fim, dando a entender que a sua desistência é negociável. “Tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho um preço para isso, só que eu só vou falar amanhã.” Ao longo de toda a conversa com os jornalistas, ele se recusou a detalhar que “preço” seria esse, mas estimulou o debate público: “Eu só quero que vocês pensem: o que está em jogo no Brasil e quanto vale eu retirar minha candidatura.”

Mais adiante, ao ser questionado se esse preço estaria relacionado à anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, Flávio respondeu de forma ambígua, mantendo o suspense: “Vou falar depois do intervalo. Não é só isso, não. Eu espero que a gente paute essa semana a anistia. Que os presidentes da Câmara e do Senado cumpram o que prometeram. Que deixem a maioria decidir. Isso é democracia.”

Críticas ao STF e defesa do Senado

Em um dos trechos da fala, Flávio Bolsonaro criticou uma recente decisão monocrática do Supremo Tribunal Federal, sem mencionar diretamente o ministro responsável, mas classificando-a como um ataque ao equilíbrio entre os Poderes.

“O que aconteceu na semana passada foi muito grave. Uma retirada na canetada de uma prerrogativa constitucional do Senado Federal. Tiraram os freios e contrapesos com base numa lei de 1950. Me pareceu muito mais uma blindagem. O Senado ficou exposto. Não estou promovendo guerra institucional, estou falando de resgatar a nossa democracia. O Brasil precisa ser redemocratizado.”

Durante a entrevista, Flávio também voltou a tratar da situação do pai, Jair Bolsonaro, que foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral e, segundo o senador, está impedido de manter comunicação normal. “Eu não falo com meu pai desde terça-feira (2) , porque ele não pode ter celular dentro de onde ele está. Mas o chefe do Comando Vermelho pode dar ordem de dentro do presídio. Isso é uma inversão total.”

Preso de forma preventiva, o ex-presidente Bolsonaro foi condenado à pena de 27 anos e 3 meses de prisão pela Primeira Turma. Além disso, tem restrições para se candidatar a cargos eletivos e ainda responde a outras investigações no Supremo Tribunal Federal.

Aliança com Tarcísio e aposta em São Paulo

Ao ser questionado sobre uma possível divisão na direita, especialmente com nomes como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado, Flávio negou qualquer racha e fez questão de exaltar o governador de São Paulo. “Para mim, o Tarcísio é o principal cara do nosso time hoje. Ele recebeu a notícia de peito aberto. Não tem vaidade. A gente vai ganhar a eleição, começando por São Paulo, com uma diferença ainda maior do que em 2022.”

Segundo ele, não há fragmentação, apenas união em torno de um “inimigo comum”: “Está todo mundo junto para tirar essa ameaça à democracia, essa ameaça às famílias brasileiras, esse governo que não combate os narcoterroristas e não enfrenta o crime.”

O senador disse que seu lado político é o caminho certo em 2026, o da prosperidade: "É isso que a gente vai buscar incansavelmente com seriedade, responsabilidade fiscal e dando segurança e abraçando, cuidando das pessoas que hoje estão aí necessitando do poder público, precisam de um político para ter o que comer, por exemplo, recebendo um Bolsa Família.”. A fala foi contra o discurso que, segundo ele, depende de uma virada de chave na cabeça das pessoas que “podem sair dessa situação, ganhar muito mais, 3, 4, 5, 10 vezes mais, terem o próprio negócio, sem depender de políticos, nunca mais nas suas vidas.”

Leia também

Reunião com líderes do Centrão

Ele confirmou que pretende iniciar conversas diretas com as principais lideranças dos partidos do Centrão: “Vou conversar com Valdemar, Rueda, Ciro Nogueira, Rogério Marinho e Marcos Pereira. Sem compromisso inicial. Mas todos vão ouvir que o nosso projeto é vencedor.”. A deixa foi clara: “Vem com quem vai ganhar. Esse é o momento de mostrar quem é leal ao Brasil.”

Encerrando a fala, após se dirigir aos fiéis que acompanhavam o culto, Flávio recorreu a uma metáfora religiosa para definir o papel que pretende exercer no cenário político: “Você não vê inseto indo para uma luz apagada. Você vê indo na luz que brilha, porque a luz incomoda, expõe, tira das trevas. É isso que eu quero fazer. O Brasil precisa de uma quimioterapia forte para voltar a respirar.”

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.

Ouvindo...