Belém. Quilômetros de tapumes metálicos cortam uma Belém abarrotada de propagandas do Governo do Pará antecipando construções grandiosas. O estágio das obras indica que mal começaram as primeiras etapas, mas o prazo de um ano e sete meses precisará ser suficiente para entregar uma cidade pronta para a COP30. Com candidatura encampada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a capital paraense foi escolhida para receber a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em uma edição inédita e histórica para o Brasil em novembro de 2025.
A infraestrutura de Belém, entretanto, é uma preocupação para o Governo Federal que, neste mês, criou uma secretaria própria em caráter extraordinário para preparar a cidade com vistas à COP. A lista de problemas é longa, começando pelo setor de hotelaria não comportar o número de pessoas esperadas — entre 55 e 80 mil. Há falhas no saneamento público, na coleta de lixo e na mobilidade urbana.
O cenário põe em xeque a capacidade da capital de abrigar centenas de delegações e chefes de Estado e um burburinho ventilou a hipótese de dividir o evento entre Pará, Rio de Janeiro e São Paulo. O governador paraense Helder Barbalho (MDB-PA) refutou imediatamente a especulação, e não foi o único. Na última terça-feira (26), em visita à Ilha do Combu, a trinta minutos de barco de Belém, o presidente Lula endossou ao lado do mandatário francês Emmanuel Macron que a COP pertence à cidade. Antes, na segunda-feira (25), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou que tudo estará pronto para a conferência.
Injeções bilionárias de dinheiro e parcerias com a iniciativa privada despontam entre as principais cartadas de Lula e Barbalho para tentar que a maior cúpula do clima do mundo aconteça sem transtornos na edição brasileira. A agitação começou ainda no ano passado, quando Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acordou com o governador paraense um financiamento de R$ 3,2 bilhões em crédito para apoiar obras estruturantes em Belém. A instituição aprovou ainda mais R$ 36,3 milhões para restauro do Complexo Mercedários. O conjunto arquitetônico reúne a Igreja das Mercês e o Convento dos Mercedários, dois edifícios históricos construídos em 1640. Será instalado ainda, conforme plano da Universidade Federal do Pará, um museu de ciências do patrimônio cultural da Amazônia.
A obra do Porto Futuro II também compõe o rol de edificações para a cúpula. A construção do espaço na área portuária começou a ser elaborada há oito anos, quando Barbalho era ministro da Integração Nacional de Michel Temer (MDB). A perspectiva é que sejam necessários R$ 300 milhões para concluí-la. Hoje, o espaço está cercado por tapumes e a operação corre acelerada. A grandiosa obra do porto é financiada pela Vale, e à mineradora também coube a execução de outra operação paraense: a construção do Parque da Cidade. A justificativa pela escolha do grupo de capital misto é dar celeridade às construções.
A alguns metros do local que receberá o Porto Futuro II, ainda à avenida Boulevard França, placas indicam a revitalização do tradicionalíssimo mercado Ver-o-Peso. A obra da Prefeitura de Belém com vistas à COP custará cerca de R$ 63 milhões e ainda não começou. Na última quarta-feira (27), o mercado completou 397 anos. O espaço é o principal ponto turístico da capital do Pará e a maior feira ao ar livre da América Latina.
Entre as obras imprescindíveis para a COP e ainda não iniciadas está a dragagem no porto do rio Guamá no leque de propostas contempladas pelo Novo PAC. Com rede hoteleira insuficiente no perímetro urbano, Belém deverá receber grandes navios para hospedagem cinco estrelas e para abrigá-los será necessário aumentar em quatro metros o calado para permitir a navegação dessas embarcações. O empreendimento está orçado em R$ 200 milhões. Hotéis também devem ser construídos no complexo do Porto Futuro II e há perspectiva da reforma de prédios históricos da Receita Federal e do INSS com o mesmo fim na tentativa de diminuir o déficit na rede de hospedagem. Essas obras também não começaram.
Enviada especial a Belém.