Poucos dias após a Prefeitura de Contagem anunciar o
Três estações, localizadas no bairro Eldorado, apresentam o mesmo problema: a altura das estações não coincide com a altura das portas dos ônibus. Thiago Oliveira, morador do bairro Novo Riacho diz se espantar com a situação, uma vez que a obra se arrasta há anos na cidade e sequer foram inauguradas.
“As irregularidades não corrigidas vão impedir as pessoas de utilizar as estações, afinal, não será possível a abertura da porta do ônibus devido à diferença do nível”, afirma. A reportagem da Itatiaia visitou algumas das plataformas que apresentam problemas em sua estrutura. A estação Hospital Municipal, localizada na avenida João César de Oliveira, é uma delas. Com o auxílio de uma trena digital, foi possível constatar que a altura da plataforma marca 1,53 metro, altura que não coincide com as portas dos ônibus que atenderão a estação.
O técnico em segurança do trabalho, Samuel Lara, relata preocupação com o usuário. “Vai trazer risco à população. Nós estamos em uma estação em frente a um hospital. Pessoas com mobilidade reduzida correrão riscos se a situação não for corrigida”, diz.
A situação mais grave é da estação Fórum. Após a medição, foi possível constatar que na ponta de uma das extremidades da plataforma a trena digital chega a marcar 1,71 metro, enquanto na outra extremidade o valor registrado é de 1,21 metro. A aposentada Carmelita Machado, de 56 anos, se questiona sobre como serão os embarques. “Para a gente que já tem dificuldade de subir no ônibus comum, como que vai ser? Deveria ser melhor pensado para atender nós idosos, crianças e as pessoas com dificuldade de locomoção”, desabafa.
Plataformas de estações do SIM em Contagem apresentam diferença de tamanho com ônibus que circularão nas avenidas da cidade
O projeto
O plano de mobilidade urbana de Contagem conta com quatro grandes obras viárias, entre elas, a construção de uma trincheira em um dos pontos de maior gargalo no tráfego. Ele surgiu em 2014, após anúncio do repasse de R$ 220 milhões para obras de transporte pelo governo federal. Contagem foi a primeira cidade do país a formalizar o contrato do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) - Mobilidade Médias Cidades para ser contemplada com o financiamento destinado a obras em mobilidade urbana e transporte público.
O projeto previa a construção de três corredores exclusivos (Norte/Sul, Leste/Oeste e Ressaca), com 42,1 km de extensão, tendo como principais eixos as avenidas João César de Oliveira e David Sarnoff, na Sede/Eldorado e Cidade Industrial; e Via Expressa, dos bairros Água Branca ao Petrolândia.
Quatro terminais foram projetados para realizar a integração do sistema, distribuindo os ônibus entre linhas troncais, interbairros, circulares e alimentadoras. Ao longo do trajeto, três estações de embarque e desembarque no modelo das estações de transferência do Move de Belo Horizonte fariam a integração exclusiva com as linhas do Move metropolitano.
Início das obras e polêmicas
As obras tiveram início em julho de 2020 e a construção foi marcada pela polêmica do corte de árvores centenárias da avenida João César de Oliveira. Foram 244 exemplares de árvores cortadas, de espécies diversas e ficavam no canteiro central da via.
Em 2022, dois anos após o corte das árvores, nenhuma das dez estações para o corredor Norte-Sul prometidas estavam prontas. As intervenções estreitaram as pistas, provocando lentidão e engarrafamentos constantes na via. Apenas o Terminal Ressaca foi finalizado, mas não pode entrar em operação pela falta de integração. No mesmo ano, foi inaugurado o terminal Petrolândia, mas após 10 dias do início da operação o terminal foi fechado pelo mesmo problema do Terminal Ressaca - e segue até o momento sem previsão de nova inauguração.
Na época, a Transcon, órgão que administra o transporte público do município, afirmou por meio de nota que o terminal voltaria a operar no início de 2021. Já em 2021, do total de dez obras previstas para atender o SIM de Contagem, cinco estavam em andamento, três ainda não haviam sido iniciadas, uma estava paralisada, e apenas uma, a do Terminal Ressaca, estava pronta, mas não poderia entrar em operação sozinho. No mesmo ano, a empresa vencedora da licitação e responsável pelas obras do Corredor Norte-Sul abandonou o projeto após ser multada e notificada pelo não cumprimento dos prazos. Desta forma, foi convocada a segunda colocada na licitação para tentar dar sequência às obras de mobilidade urbana, no entanto, as obras continuam em 2024.
O que diz a Prefeitura
Questionado pela reportagem da Itatiaia, o subsecretário de Obras, Jaci Cota Teixeira, afirma que reconhece o problema do desnível das cabines e que serão necessárias obras de adequação para corrigir o nível na avenida. O subsecretário assume que há um problema na obra e justifica que isso ocorreu devido a uma falha. A obra deveria prever a necessidade da retirada de postes de energia para dar sequência às obras de alargamento das vias.
“Agora que conseguimos viabilizar junto a Cemig as alterações nas linhas de energia e poderão ser realizadas as obras para concluir o projeto com as alturas corretas”, esclarece.
Teixeira ainda afirma que a empresa que venceu a licitação abandonou a obra após ter sido notificada e multada pelo atraso na execução do projeto, o que teria sido, na sua avaliação, um dos principais fatores do atraso. O subsecretário ainda afirma que outros problemas, como a pandemia, a falta de material de mercado, na adequação de projeto e dificuldade na captação de mão de obra também contribuíram para que o SIM não fosse entregue.
À Itatiaia, a prefeitura de Contagem afirmou que todo o Sistema Integrado de Mobilidade (SIM) será colocado para operação em conjunto e que é “necessário aguardar a finalização de todas as obras, que incluem a implantação de mais dois terminais (Sede e Darcy Ribeiro)”.