O Brasil vive um dilema que desafia economias de renda média em todo o mundo: como escapar do patamar em que o crescimento é suficiente para reduzir a pobreza, mas insuficiente para gerar prosperidade ampla e duradoura. Essa situação, conhecida como “armadilha da renda média”, é descrita pelo Banco Mundial como a dificuldade de países elevarem sua renda per capita acima de US$13.835 anuais, limiar que marca a transição para o grupo das nações de renda alta.
A experiência internacional mostra que, para cruzar essa fronteira, não basta crescer em quantidade — é preciso crescer em qualidade. O salto de produtividade depende da sofisticação da estrutura produtiva, da capacidade de inovar e de gerar produtos e serviços de alto valor agregado. Esse avanço requer investimento contínuo em educação, ciência e tecnologia, além de um ambiente institucional que estimule a competição, o empreendedorismo e a eficiência.
O Brasil, entretanto, enfrenta um risco adicional: o de envelhecer antes de enriquecer. Com o rápido envelhecimento da população e a estagnação da renda média, o país pode se tornar uma sociedade madura, mas sem a base econômica necessária para sustentar o bem-estar de sua população. Evitar esse destino exige acelerar o crescimento econômico de forma sustentada, o que passa necessariamente por uma estratégia de transformação produtiva.
O contexto global oferece oportunidades raras para essa virada. As tensões geopolíticas e a corrida pela segurança energética e alimentar, somadas à transição para uma economia de baixo carbono, colocam o Brasil em posição vantajosa. O país tem uma matriz energética limpa, vastos recursos naturais e capacidade de produzir alimentos com boa produtividade — bases sólidas para liderar uma nova fase de crescimento sustentável.
Mas aproveitar essas oportunidades exige visão de longo prazo. O Brasil precisa converter suas vantagens naturais em capacidades tecnológicas e industriais, promovendo inovação em cadeias produtivas verdes, bioeconomia, energia renovável e tecnologias digitais. E, sobretudo, deve garantir mobilidade social, ampliando o acesso à educação de qualidade e à formação técnica — condição essencial tanto para aumentar a produtividade dos trabalhadores quanto para que o progresso econômico se traduza em progresso humano.
Sair da armadilha da renda média não é tarefa simples, mas é possível. Requer estratégia, coordenação e, principalmente, confiança em um projeto nacional de desenvolvimento. O futuro do Brasil depende da capacidade de transformar oportunidades em produtividade — e crescimento em prosperidade compartilhada.
Aldemir Drummond, é professor na Fundação Dom Cabral e Coordenador da iniciativa Imagine Brasil.

