O Papa Leão XIV celebrou sua primeira Missa de Natal durante a noite, na quarta-feira (24), na Basílica de São Pedro. A Missa contou com a presença estimada de 6000 pessoas no interior da basílica, enquanto outras 5000 pessoas se reuniram do lado de fora, na Praça de São Pedro, segundo o Vaticano.
Em sua primeira mensagem de Natal, o
A mensagem convida à conversão do olhar e da vida: não há lugar para Deus sem acolhida ao ser humano, especialmente os pobres e excluídos. O Natal chama a Igreja e o mundo à gratidão, à fé, à caridade e à esperança, transformando os cristãos em mensageiros de paz e de uma humanidade renovada.
A seguir, confira o texto completo da homilia do Papa na Noite de Natal:
Queridos irmãos e irmãs,
Por milênios, por toda a terra, os povos levantaram os olhos para o céu, dando nomes às estrelas silenciosas e vendo nelas imagens. Em seu anseio imaginativo, tentaram ler o futuro nos céus, buscando no alto uma verdade que faltava embaixo, em meio às suas casas. Contudo, como quem tateia no escuro, permaneceram perdidos, confundidos por seus próprios oráculos. Nesta noite, porém, “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; aos que habitavam numa terra de profunda escuridão, uma luz resplandeceu” (Isaías 9,2).
Eis a estrela que surpreende o mundo, uma centelha recém-acesa e ardente de vida: “Hoje vos nasceu, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lucas 2,11). No tempo e no espaço — em nosso meio — vem Aquele sem o qual não existiríamos. Aquele que dá a sua vida por nós vive entre nós, iluminando a noite com a sua luz de salvação. Não há escuridão que esta estrela não ilumine, pois à sua luz toda a humanidade contempla a aurora de uma vida nova e eterna.
É o nascimento de Jesus, Emanuel. No Filho feito homem, Deus nos dá nada menos que a si mesmo, para “nos resgatar de toda iniquidade e purificar para si um povo que lhe pertença” (Tito 2,14). Nascido na noite está Aquele que nos redime da noite. O indício do dia que desponta já não deve ser procurado nas distantes regiões do cosmos, mas ao nos inclinarmos para baixo, na estrebaria próxima.
O sinal claro dado a um mundo obscurecido é, de fato, “um Menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lucas 2,12). Para encontrar o Salvador, não é preciso olhar para cima, mas para baixo: a onipotência de Deus resplandece na impotência de um recém-nascido; a eloquência da Palavra eterna ecoa no primeiro choro de um bebê; a santidade do Espírito brilha naquele pequeno corpo, recém-lavado e envolto em panos. A necessidade de cuidado e de calor torna-se divina, pois o Filho do Pai partilha a história com todos os seus irmãos e irmãs. A luz divina que irradia deste Menino ajuda-nos a reconhecer a humanidade em cada nova vida.
Para curar a nossa cegueira, o Senhor escolhe revelar-se em cada ser humano, que reflete a sua verdadeira imagem, segundo um desígnio de amor iniciado na criação do mundo. Enquanto a noite do erro obscurecer essa verdade providencial, então “não há lugar para os outros, nem para as crianças, nem para os pobres, nem para o estrangeiro” (Bento XVI, Homilia, Missa de Natal na noite, 24 de dezembro de 2012).
Essas palavras do Papa Bento XVI continuam sendo um lembrete oportuno de que, na terra, não há lugar para Deus se não houver lugar para a pessoa humana. Recusar um é recusar o outro. Mas onde há lugar para a pessoa humana, há lugar para Deus; até mesmo uma estrebaria pode tornar-se mais sagrada que um templo, e o seio da Virgem Maria tornar-se a Arca da Nova Aliança.
Maravilhemo-nos, queridos irmãos e irmãs, com a sabedoria do Natal. No Menino Jesus, Deus dá ao mundo uma vida nova: a sua própria, oferecida por todos. Ele não nos dá uma solução engenhosa para cada problema, mas uma história de amor que nos envolve. Em resposta às expectativas dos povos, envia um Menino para ser palavra de esperança. Diante do sofrimento dos pobres, envia Alguém indefeso para ser a força que permite reerguer-se. Diante da violência e da opressão, acende uma luz suave que ilumina com salvação todos os filhos deste mundo.
Como observou Santo Agostinho, “o orgulho humano te pesava de tal modo que somente a humildade divina podia levantar-te novamente” (Santo Agostinho, Sermão 188, III, 3). Enquanto uma economia distorcida nos leva a tratar os seres humanos como mera mercadoria, Deus se faz como nós, revelando a dignidade infinita de cada pessoa. Enquanto a humanidade busca tornar-se “deus” para dominar os outros, Deus escolhe tornar-se homem para nos libertar de toda forma de escravidão. Será que este amor será suficiente para mudar a nossa história?
A resposta virá assim que despertarmos de uma noite mortal para a luz de uma vida nova e, como os pastores, contemplarmos o Menino Jesus. Acima da estrebaria de Belém, onde Maria e José velam o Menino recém-nascido com o coração cheio de admiração, o céu estrelado transforma-se numa “multidão da milícia celeste” (Lucas 2,13). São exércitos desarmados e desarmantes, pois cantam a glória de Deus, da qual a paz na terra é a verdadeira manifestação (cf. v. 14). De fato, no coração de Cristo pulsa o vínculo de amor que une céu e terra, Criador e criaturas.
Por isso, exatamente há um ano, o Papa Francisco afirmou que o Natal de Jesus reacende em nós o “dom e a tarefa de levar esperança onde a esperança foi perdida”, porque “com Ele, a alegria floresce; com Ele, a vida muda; com Ele, a esperança não decepciona” (Homilia, Missa de Natal na noite, 24 de dezembro de 2024). Com essas palavras, teve início o Ano Santo. Agora, ao aproximar-se o encerramento do Jubileu, o Natal torna-se para nós um tempo de gratidão e de missão: gratidão pelo dom recebido e missão de dar testemunho dele diante do mundo. Como canta o salmista: “Anunciai dia após dia a sua salvação. Proclamai entre as nações a sua glória, entre todos os povos as suas maravilhas” (Salmo 96,2-3).
Irmãos e irmãs, a contemplação do Verbo feito carne desperta em toda a Igreja um anúncio novo e verdadeiro. Anunciemos, portanto, a alegria do Natal, que é festa de fé, de caridade e de esperança. É festa de fé, porque Deus se faz homem, nascido da Virgem. É festa de caridade, porque o dom do Filho redentor se realiza no amor fraterno que se doa. É festa de esperança, porque o Menino Jesus a acende em nós, tornando-nos mensageiros da paz. Com essas virtudes no coração, sem medo da noite, podemos sair ao encontro da aurora de um novo dia.