Neste domingo (6), o Dalai Lama comemorou seu 90º aniversário com uma mensagem de paz, enquanto um novo impasse com a China reacende o debate sobre sua futura sucessão como líder espiritual do Tibete.
Durante a semana de celebrações, o
A China, que controla o Tibete desde os anos 1950, reagiu afirmando que o processo de reencarnação do Dalai Lama deve contar com a aprovação do governo central de Pequim. Isso abre a possibilidade de uma disputa entre dois nomes reivindicando o mesmo posto espiritual.
Durante o aniversário, monges trajando vestes vermelhas entoaram cantos em templos nas montanhas do Himalaia, onde vive o Dalai Lama e uma numerosa comunidade tibetana há décadas.
“Sou apenas um monge budista comum. Normalmente não celebro aniversários”, declarou o líder em vídeo. Apesar disso, incentivou seus seguidores a aproveitarem a data para cultivar valores como a compaixão e a paz interior.
“Embora o progresso material seja importante, é essencial priorizar a serenidade da mente, desenvolvendo o coração bondoso e sendo compassivo não apenas com os próximos, mas com todos os seres”, afirmou. “Assim, vocês estarão ajudando a tornar o mundo um lugar melhor.”
Vestido com seu tradicional traje budista e uma capa amarela, o Dalai Lama também assistiu a danças preparadas em sua homenagem antes das orações.
“Uma vida sem arrependimentos”
As comemorações encerraram uma semana de homenagens a Tenzin Gyatso, considerado a 14ª encarnação do Dalai Lama, figura central em uma tradição de mais de seis séculos.
Na véspera, o líder — vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1989 por sua luta pacífica pela autonomia tibetana — disse esperar viver por mais “30 ou 40 anos”. “Tenho 90 anos e, ao olhar para minha trajetória, vejo que não desperdicei minha vida”, declarou. “Quando chegar a hora de partir, não terei arrependimentos. Morrerei em paz.”
Reconhecido internacionalmente como símbolo da causa tibetana, o Dalai Lama recebeu diversas mensagens de felicitações, incluindo uma do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que o descreveu como “um símbolo eterno de amor, compaixão, paciência e ética”.
Como país que acolheu o Dalai Lama e milhares de refugiados tibetanos, a Índia pode ter papel crucial caso surja uma disputa entre o sucessor escolhido pelo gabinete do líder espiritual e outro nome apoiado por Pequim.
Apesar das tensões entre China e Índia por influência na região sul-asiática — agravadas por um confronto militar em 2020 na fronteira do Himalaia — os dois países vêm tentando reatar relações.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, também homenageou o Dalai Lama, reafirmando o compromisso do país em defender os direitos humanos e as liberdades do povo tibetano.
Presente às celebrações em McLeod Ganj, o ator americano Richard Gere, defensor histórico da causa tibetana, afirmou que o Dalai Lama representa “o altruísmo, a compaixão genuína, o amor e a sabedoria”.
*com informações da AFP