A causa da morte do ex-presidente do Chile, Sebastián Piñera, foi atribuída a uma asfixia por submersão após a queda do helicóptero em que pilotava no Lago Ranco, na região de Los Ríos.
A informação foi confirmada pela promotora Tatiana Esquive, do Ministério Público chileno.
A morte por asfixia por submersão ocorre quando uma pessoa é privada de oxigênio devido à imersão na água. O ex-presidente pode ter ficado preso no helicóptero, levando a morte por afogamento.
Entusiasmado e sempre ativo, Piñera, havia completado 74 anos em 1º de dezembro e era conhecido por pilotar seu próprio helicóptero, inclusive no dia das eleições.
Lós Ríos é uma área de férias a 920 km de Santiago, onde se encontra o Lago Ranco. As outras três pessoas que estavam a bordo do helicóptero sobreviveram ao acidente.
A autópsia do corpo durou quatro horas, com exames radiológicos e coleta de amostras. A causa do acidente está sendo investigada.
Casado com Cecilia Morel, pai de quatro filhos e com nove netos, Piñera foi presidente do Chile duas vezes, entre 2010-2014 e 2018-2022.
O ex-presidente terá as honras de um velório de chefe de Estado pelo governo de Gabriel Boric.
Quem era o Sebastián Piñera?
Economista com diploma de Doutorado na Universidade de Harvard (EUA), Piñera era um empresário bilionário, que se tornou um dos homens mais ricos do Chile. A revista Forbes chegou a avaliar sua fortuna em 2,4 bilhões de dólares (11,9 bilhões de reais).
Seus investimentos eram distribuídos em variados setores, incluindo finanças, mídia, aviação e até futebol.
Filho de um ex-embaixador, foi o único grande empresário chileno abertamente opositor a Pinochet e, no plebiscito de 1988, declarou abertamente voto contra a permanência do regime militar, que começou em 1973 com a deposição do presidente Salvador Allende .
Após ingressar na política, ele se afastou dos negócios, apesar de nunca abandonar totalmente as empresas, mantendo cargos no conselho de administração, por exemplo, da LAN Airlines (atual Latam), do clube de futebol Colo Colo e de um canal de televisão.
Piñera foi eleito senador com a volta da democracia em 1989, com uma campanha independente. Após assumir o mandato, filiou-se à Renovação Nacional (RN), de orientação conservadora e liberal. Em 2001, foi eleito presidente do partido.
No Senado, ele se alinhou com a centro-esquerda em votações fundamentais no Congresso, o que fez ser visto com desconfiança pelos setores radicais da direita.
Liderou a renovação da direita na chamada “Patrulha Juvenil”. Nesse período, surgiu o apelido: “A Locomotiva”.
Em 2005, se candidatou à presidência pela primeira vez, alianhado a direita democrática. Com 25,41% dos votos, perdeu o pleito para Michelle Bachelet, a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do Chile, de orientação política de esquerda.
Piñera voltou a se candidatar nas eleições presidenciais em 2009, quando derrotou Frei Ruiz-Tagle no segundo turno com 51,60%. Em 11 de março de 2010, assumiu o cargo se tornando o primeiro presidente de direita desde o retorno da democracia, após a ditadura de Pinochet (1973-1990).
Em seu primeiro governo, liderou os trabalhos de reconstrução do país após o potente terremoto de 27 de fevereiro de 2010, e o bem-sucedido resgate dos 33 mineiros presos no Atacama.
Fiel ao seu estilo, percorreu o mundo com uma mensagem de vida dos trabalhadores presos no interior de uma mina de cobre no deserto chileno.
Piñera exerceu o cargo até 11 de março de 2014, sendo sucedido por Michelle Bachelet, que retornou ao La Moneda após o primeiro mandato de 2006-2010.
No Chile, não é permitido reeleição para cargos no Executivo de forma consecutiva.
Em 2017, ele voltou a ser eleito presidente no segundo turno contra Alejandro Guillier, com 54,57% dos votos. Sebastian Piñera tomou posse para o novo mandato em 11 de março de 2018.
Protestos
O segundo governo Piñera foi marcado por protestos que abalaram o Chile no segundo semestre de 2019.
Os atos exigiam mudanças sociais e econômicas substanciais, após o aumento do valor da passagem do metrô que culminaram em manifestações com grande repressão policial.
Inicialmente, Piñera minimizou a gravidade dos protestos, rotulando como “um ato de vandalismo”. Diante da escalada dos conflitos, Piñera declarou “estado de guerra” em 18 de outubro de 2019 e impôs toque de recolher em Santiago.
A resposta do governo aos protestos foi criticada por organizações internacionais de direitos humanos devido à acusações de violações de direitos fundamentais.
Sob pressão popular, Piñera fez algumas concessões, como suspender o aumento da tarifa do metrô e anunciar um pacote de reformas sociais.
Em resposta à demanda central dos manifestantes, Piñera convocou um plebiscito para decidir se o Chile deveria ter uma nova Constituição.
O referendo foi aprovado em 2020, com 78% de aceitação, evidenciando a necessidade de reformas estruturais do país após o regime de Pinochet.
Peñera foi sucedido pelo presidente Gabriel Boric em 2022, um ex-líder estudantil de esquerda, que foi um dos principais opositores do seu governo e apoaidor da nova constituinte.
Até janeiro de 2024, a nova constituição chilena ainda não foi aprovada e segue em discussão.
*Com informações de AFP e CNN
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