Em contatos com o entorno do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, o governo brasileiro ouviu que há interesse em manter a obra do gasoduto que levará gás natural da megajazida de Vaca Muerta, na Argentina, até Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
O projeto do gasoduto Presidente Néstor Kirchner foi firmado pela gestão do peronista Alberto Fernández e é considerado “estratégico” pelo novo governo da Argentina. A mensagem foi enviada pela equipe de Milei à embaixada brasileira em Buenos Aires dias antes do segundo turno das eleições presidenciais.
Aliado de Lula, Fernández vinha pedindo financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os tubos de aço que serão usados nas obras.
Ao longo do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu sinalizações positivas de que o empréstimo a Argentina deveria acontecer.
“Fico muito satisfeito com as perspectivas positivas de financiamento do BNDES à exportação de produtos para a construção do gasoduto Presidente Néstor Kirchner. Estamos trabalhando na criação de uma linha de financiamento abrangente das exportações brasileiras para a Argentina“, declarou Lula, em junho de 2023.
O presidente Lula (PT) já foi chamado de “comunista” e “corrupto” por Javier Milei durante a campanha presidencial. Após o resultado do segundo turno, no último domingo (19), Lula desejou “boa sorte e êxito” ao presidente eleito, sem mencioná-lo nominalmente.
O gasoduto entre a jazida de Vaca Muerta, no oeste argentino, e a fronteira com o Rio Grande do Sul está em licitação pelo governo do presidente Alberto Fernández - que passa a faixa para Milei no próximo dia 10 de dezembro.
O projeto é visto pelo atual governo argentino e pela diplomacia brasileira como peça fundamental na integração energética entre os dois principais países do Mercosul.
O empreendimento levaria para Uruguaiana praticamente a mesma quantidade de gás do que o Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), com preços mais baixos em relação aos praticados no mercado brasileiro. Da cidade gaúcha, o insumo energético poderia subir para São Paulo e abastecer a indústria da região Sudeste.
Se o cronograma de obras for cumprido, o projeto pode ser concluído entre o final de 2024 e o início de 2025.
Lula não quer ser ‘amigo’
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta terça-feira (21), que não precisa gostar “do presidente da Argentina”. Sem citar Milei, Lula prevê problemas políticos no continente e disse que os chefes de Estado terão que sentar para resolvê-los.
“Estamos vivendo algumas confusões na América do Sul. Não é mais a mesma de 2002, 2004 ou 2006. Nós vamos ter problemas políticos e, ao invés de reclamar dos problemas políticos, nós temos que ser inteligentes e tentar resolvê-los.”, disse Lula em cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco - a escola de diplomacia brasileira.
“Eu não tenho que gostar do presidente do Chile, da Argentina, da Venezuela. Ele não tem que ser meu amigo. Ele tem que ser presidente do país, eu tenho que ser presidente do meu país. Nós temos que ter política de Estado brasileiro e ele do Estado dele. Nós temos que sentar na mesa, cada um defendendo os seus interesses”, declarou Lula.
“A gente tem que chegar num acordo. Essa é a arte da democracia. É a gente chegar num acordo”, acrescentou o mandatário.
*Com informações da CNN Brasil