O avanço do cultivo de cacau no Norte de Minas, especialmente em Jaíba e Janaúba, tem despertado a atenção de produtores do Triângulo Mineiro, que buscam na região um modelo de diversificação agrícola bem-sucedido. A fruticultura transformou o Norte do estado em referência nacional, impulsionada pelo clima favorável, irrigação e solo produtivo. Nos últimos anos, o cacau ganhou espaço em áreas não tradicionais, muitas vezes implantado em consórcio com culturas como a banana.
Produtores de Uberaba visitaram, o último final de semana, propriedades da região para conhecer inovações no plantio, manejo, adubação e controle de pragas. O objetivo é trocar experiências e reduzir erros na implantação da cultura no Triângulo. Para o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Uberaba, Vinícius Rodrigues, “é importante trazer os produtores para conversar com outros produtores sobre as experiências que cada um tem tido, para a gente errar menos nas nossas plantações”.
O grupo visitou três grandes propriedades que implantaram o cacau recentemente e seguem testando métodos para otimizar processos produtivos e ampliar a presença no mercado internacional. O analista técnico do Sistema Faemg Senar no Norte de Minas, José Jhones Matuda, destacou que “o Norte de Minas hoje exporta tecnologias da cultura do cacau, com plantio fora de ambientes convencionais, para outras regiões do Brasil”. Ele reforçou ainda que o potencial agrícola regional é favorecido pela disponibilidade de água, seja por irrigação utilizando água do Rio São Francisco ou por captação subterrânea, além do solo fértil. Segundo Matuda, “o que vemos aqui é uma realidade totalmente diferente: produção em larga escala, com excelente produtividade e qualidade”.
A viagem também motivou produtores iniciantes, como Juliano Severino, que já trabalha com hortaliças e algumas frutas e agora planeja iniciar o cultivo de cacau em Uberaba após conhecer propriedades consolidadas no Norte de Minas. Ele considera a experiência decisiva para avançar no novo projeto e afirma que “ver plantações em pleno desenvolvimento trouxe informações valiosas para começar o novo investimento”.
Objetivo é fortalecer a cadeia produtiva e consolidar Minas Gerais como novo polo do cacau no Brasil.
A diversificação tem sido uma necessidade após as perdas na bananicultura causadas pelo Mal da Fusariose (Mal do Panamá). Um exemplo de adaptação é a Fazenda Lajeado, do produtor João Marcelo, que adotou o cacau há quatro anos e hoje possui 70 hectares plantados, com previsão de chegar a 115 hectares em 2026. A expectativa é alcançar produtividade de 180 arrobas por hectare. Segundo João Marcelo, “são todos de mãos dadas buscando o fortalecimento da cultura; não é fácil, mas é prazeroso, e a gente vai conseguir produzir e chegar lá”.
A pesquisa acadêmica tem tido papel essencial nesse processo. O engenheiro agrônomo e especialista em fitotecnia da Unimontes, professor Victor Martins Maia, explicou que os estudos iniciados há mais de uma década permitiram consolidar informações específicas para regiões como o Cerrado. Ele afirma que a pesquisa “dá segurança maior para os produtores na adoção do plantio comercial e das tecnologias geradas”, além de aproximar universidade e setor produtivo. Para Maia, Minas Gerais tem “potencial para se tornar o terceiro maior produtor de cacau do Brasil, com regiões como Norte, Noroeste, Triângulo e Zona da Mata apresentando condições excepcionais”.
O gerente regional do Sistema Faemg Senar em Uberaba, Ricardo Tuller, ressaltou que conhecer a realidade do Norte de Minas é fundamental para orientar projetos no Triângulo. Segundo ele, “antes de iniciar a implantação, é importante ver o que está dando certo e o que não deu tão certo, para evitar erros e evoluir”. Tuller também destacou a relevância das parcerias entre entidades e produtores para multiplicar conhecimento.
A expansão do cacau em Minas tem apoio do projeto Agro+Verde, desenvolvido pelo Sistema Faemg Senar em parceria com a empresa Cargill, com meta de fomentar o plantio de 2.900 hectares no estado. De acordo com José Jhones Matuda, o objetivo é “fortalecer a cadeia produtiva e consolidar Minas Gerais como novo polo do cacau no Brasil”.