Abraçada pelo público presente na Arena Paris Norte, a boxeadora Imane Khelif garantiu pelo menos o bronze nos Jogos Olímpicos de Paris. Neste sábado, ela derrotou a húngara Anna Luca Hamori nas quartas de final do peso-meio-médio (até 66kg), por decisão unânime (5-0).
Para ir à final, ela precisará derrotar a tailandesa Janjaem Suwannapheng na próxima terça-feira (6). Khelif, que tinha todos os motivos para ser só alegria, se emocionou bastante ao deixar o ringue. Durante a semana que passou, ela foi acusada de ser atleta transgênero e esteve sob ataque até de lideranças políticias de vários cantos do mundo.
Argelina possui condição genética rara, mas não é trans
Segundo informações da agência de notícias Reuters, a boxeadora Imane Khelif é uma mulher que nasceu com uma condição rara chamada de Diferenças de Desenvolvimento Sexual, ou DDS. A condição envolve genes, hormônios e órgãos reprodutivos.
Algumas pessoas com DDS são criadas como mulheres, mas possuem cromossomos sexuais XY (Geralmente, as mulheres têm cromossomos XX, enquanto os homens têm pares XY. Porém, Khelif e Lin nunca se identificaram como homens, transsexuais ou intersexo — que se refere a pessoas com características sexuais masculinas e femininas).
Indivíduos com DDS também possuem altos níveis de testosterona no sangue, em uma quantidade semelhante a de homens, além da capacidade de usar a testosterona que circula em seus corpos. Por isso, a participação de atletas com essa condição é debatida entre entidades internacionais.
As categorias femininas consideram que esportistas que passam pela puberdade masculina conseguem ter uma vantagem física importante. Além dos níveis mais altos de testosterona, os benefícios incluem ganho de massa muscular, vantagem esquelética e contração muscular mais rápida. Em esportes de combate, como o boxe, isso se tornar um problema de segurança.
Por que atletas foram desclassificadas de mundial, mas puderam competir em Paris 2024?
As boxeadoras foram desclassificadas do campeonato mundial do ano passado, realizado em Nova Delhi. De acordo com as regras da Associação Internacional de Boxe (IBA), atletas com cromossomos XY são proibidas de competirem em eventos femininos.
Khelif foi desclassificada horas antes da luta pela medalha de ouro. Já a bicampeã mundial Lin perdeu a sua medalha de bronze por não conseguir atender aos critérios da IBA. Porém, em Paris, é o Comitê Olímpico Internacional (COI) que cuida das disputas do boxe.
O COI organiza a modalidade desde a Olimpíada de Tóquio, em 2021. Isso acontece desde que a IBA foi destituída de seu status como órgão regulador global do boxe pelo próprio COI, por questões éticas e de governança. Portanto, a IBA, liderada pela Rússia, não supervisiona a qualificação olímpica dos atletas do boxe.
Como o COI tem regras sobre diversidade de gênero na competição feminina, as