Ouvindo...

Participe do canal e receba as notícias do Atlético no WhatsApp

‘Crias’ do Atlético dividem ‘apê' em Portugal e seguem parceria em nova fase na Europa

Jogadores deixaram o sub-20 do Galo após queda no Campeoanto Brasileiro e tentam ‘recomeço’ em Portugal

Dudu e João Rafael, ‘crias’ do Atlético, que hoje atuam na Europa

De Belo Horizonte para o interior de Portugal, dois ex-companheiros de Atlético embarcaram juntos em uma nova fase da carreira e da vida. João Rafael e Dudu, ambos com 20 anos, deixaram o sub-20 do Galo após uma temporada difícil e agora dividem casa e adaptação em Felgueiras, cidade da região Norte do país, onde defendem o Felgueiras 1932, clube da Segunda Divisão Portuguesa.

Mais do que companheiros de time, os dois viraram parceiros de casa. E se dividir a cozinha, o banheiro e a rotina do dia a dia já é um desafio por si só, fazer isso em outro país, com cultura, clima e idioma diferentes, torna tudo ainda mais intenso. Mas, segundo eles, estar juntos nessa jornada tem feito toda a diferença.

“A gente já era amigo no Atlético, né? Então quando recebemos a notícia de que íamos juntos para Portugal, foi só alegria. Nunca tinha saído do Brasil, então tudo isso dava um certo medo. Mas ter o Dudu aqui, dividir casa com ele, ajudou demais. As coisas estão fluindo bem, graças a Deus”, conta João Rafael.

Dudu concorda:

“Chegar em outro país é um impacto grande. Mas com o João aqui, morando junto, a gente se ajuda. Isso faz tudo ficar mais fácil. E também é novidade pra nós. No Brasil, cada um morava no seu canto. Agora a gente aprende a conviver, a se organizar. Está sendo uma experiência legal.”

Uma casa, dois jogadores e um plano

O improviso virou rotina. Logo nos primeiros dias em solo português, os dois tiveram que organizar a logística da casa. Quem lava, quem cozinha? A resposta veio na prática.

“A gente teve aquela conversa básica: ‘o que cada um sabe fazer?’ O Dudu já foi logo falando: ‘Cara, não sou bom de cozinha’. E eu já cozinhava em BH, então ficou decidido: eu cozinho e ele organiza, lava a louça. Faxina é com os dois. Cada um faz seu papel e dá tudo certo.”

Dividir o teto também trouxe uma troca constante de experiências. Um catarinense e um sul-mato-grossense agora compartilham mais do que o sonho do futebol. Trocando risadas, receitas improvisadas e conselhos de treino, Dudu e João Rafael encontraram uma fórmula caseira para driblar a saudade e o frio europeu — que, aliás, já começou a incomodar.

“Ainda nem começou o inverno de verdade, e a gente já tá de calça e meia o dia todo”, brinca João. “Dizem que o primeiro inverno é o mais difícil. Vamos ver se a gente sobrevive.”

Leia também

Adaptação além do campo

Na cidade de pouco mais de 50 mil habitantes, o choque cultural também pegou os dois de surpresa.

“É tudo muito diferente. Aqui você não vê muro, os portões ficam abertos, as crianças brincam na rua. É uma tranquilidade que a gente não está acostumado. Tem muita coisa antiga também, o povo preserva a cidade de um jeito que eu acho bonito”, relata João.

A barreira linguística, apesar do idioma em comum, também exigiu atenção.

“Eles falam rápido, têm umas expressões diferentes. Mesmo sendo português, é difícil de entender às vezes. Mas a gente está pegando”, completa.

Uma nova chance após a queda

Tanto João Rafael quanto Dudu fizeram parte do elenco sub-20 do Atlético que foi rebaixado no Campeonato Brasileiro da categoria em 2025. Um capítulo doloroso para os dois, mas que também serviu como virada de chave.

“Foi um momento muito difícil. A gente tentou de tudo. O grupo se uniu, mas as coisas não aconteciam. É algo que vai ficar marcado na carreira”, disse Dudu.

João completa:

“Muita lesão, mudanças no elenco, e o resultado não vinha. Foi frustrante. Mas a base do Atlético é forte e já está se reerguendo.”

Apesar do baque, os dois levaram aprendizados importantes do período. Hoje, veem a mudança para Portugal como uma oportunidade de recomeço.

“Aqui é outra cultura de jogo. Muito embate físico. A gente até conversou e decidiu se dedicar ainda mais à preparação física, treinos extras, academia para estar sempre pronto”, conta Dudu.

O gol no Mineirão e o cabelo raspado

Dudu Cruz comemorando gol pelo Atlético no Mineirão

Mesmo com a temporada conturbada, Dudu guarda uma memória especial: o primeiro gol como profissional, no estádio do Mineirão, contra o Democrata-GV, pelo Campeonato Mineiro. Foi, também, o primeiro gol do Atlético na temporada.

“Foi um momento único. Não passava pela minha cabeça que eu ia fazer gol. Fiquei sem dormir na véspera, mas aconteceu”, lembra com orgulho.

Já João Rafael teve sua estreia contra o Aymorés, também pelo Estadual, mas outra lembrança em comum entre os dois é o famoso “trote” de iniciação no profissional: o ritual da cabeça raspada.

“Eu escapei algumas vezes, mas fui curioso e me dei mal. Saí do quarto, fui olhar a bagunça e fiquei careca”, ri João.

“No meu caso, achei que tinha escapado. Mas no hotel não teve jeito. Me pegaram no quarto e já era”, completa Dudu.

Futuro na Europa (e longe de casa)

Agora, o foco é construir uma carreira sólida no continente europeu. Os dois enxergam em Portugal um trampolim — e não cogitam voltar tão cedo ao Brasil.

“Gostei muito daqui. No começo foi difícil, mas hoje penso em ficar, crescer aqui. A gente amadurece como pessoa e atleta”, afirma Dudu.

João concorda:

“A gente escuta os brasileiros que estão aqui há mais tempo falando que vale a pena. A chance de jogar uma Primeira Liga, até ir para outros países. Estou muito feliz aqui.”

A saudade da família, claro, pesa. Ambos se acostumaram a viver longe de casa desde cedo, mas agora o mar no meio do caminho tornou as visitas ainda mais raras.

“Esse ano eu sei que não vou conseguir ver minha família. Talvez no fim do ano, mas acho difícil. A gente tenta manter contato todo dia, contar como foi o treino, o jogo. Isso ajuda a aproximar”, afirma João.

João Rafael, com a camisa do Felgueiras

Mesmo longe do Galo, os dois seguem acompanhando o clube de origem e mantêm contato com os colegas da base.

“Falo muito com o Louback. A gente ainda acompanha os resultados, os meninos que estão subindo. É um carinho enorme pelo clube”, afirma João.

“Eu converso direto com o Iseppe. Tem muita gente boa na base, como o Vitão, que agora está até careca também”, brinca Dudu.

No final das contas, o que poderia ser um processo solitário de adaptação virou uma jornada compartilhada, repleta de aprendizados e de cumplicidade. João Rafael e Dudu sabem que os desafios ainda são muitos, mas estão prontos para enfrentá-los juntos, dentro e fora de campo.

Enquanto dividem tarefas, planos e marmitas em Felgueiras, os dois seguem construindo a própria história. E, quem sabe, essa parceria que começou na base do Galo ainda vai render muitos capítulos felizes na Europa.

Rômulo Giacomin é repórter multimídia da Itatiaia. Formado pela UFOP, tem experiência como repórter de cidades da Região dos Inconfidentes, e, na cobertura esportiva, passou por Esporte News Mundo, Estado de Minas, Premier League Brasil e Trivela.