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Conselheiros do Botafogo criticam ação do clube social contra a SAF

Clube carioca entrou com pedido para que Eagle Football Holdings apresente R$ 155,4 milhões em garantias, aumentando a crise política no Glorioso

John Textor, proprietário da SAF do Botafogo, entre João Paulo Magalhães Lins e Durcesio Mello, atual e ex-presidentes associativos do clube carioca

Em resposta à ação judicial movida contra a SAF do Botafogo, membros do Conselho Deliberativo do Glorioso divulgaram um documento com críticas à iniciativa do clube social, que tem João Paulo Magalhães Lins como presidente.

O grupo entende que o movimento “apenas prolonga o conflito” entre a SAF e a Eagle, grupo de John Textor e controlador do futebol alvinegro desde 2023.

“A iniciativa da atual direção do Clube Social de recorrer à Justiça não protege o Botafogo: ela representa um movimento político de grupos que, após conduzirem o Clube a uma situação de insolvência, buscam agora retomar a influência perdida no futebol”, diz trecho da publicação.

A carta foi assinada por Vinicius Assumpção, Tom Meirelles, Mauro Sodré, Marcos Cortesão, Luiz Octávio Baptista Vieira, Jorge Magdaleno e Charles Domingues.

A versão da SAF

Após a notícia da ação vir a público, a SAF do Botafogo se pronunciou, na terça-feira (25), declarando que cumpre com todas suas obrigações estipuladas no acordo. A nota também enfatiza os yítulos conquistados pelo Botafogo desde que o clube se tornou SAF.

“A SAF informa que cumpre integralmente as obrigações estipuladas no acordo firmado por seus acionistas por ocasião da transferência de ações para a Eagle Football e seu acionista majoritário, John Textor. A SAF reitera seus esforços na renegociação e quitação da dívida histórica bilionária do Botafogo de Futebol e Regatas, reconhecida e homologada pelo Poder Judiciário e pelos credores do clube”, diz trecho da nota. Leia aqui.

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Entenda o caso

O Clube Social ingressou com uma ação na 23ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) pedindo que a empresa apresente R$ 155,4 milhões em garantias - valor equivalente a 10% do passivo que a própria Eagle declarou existir.

No processo, o Botafogo também solicita a nomeação de um interventor judicial para atuar diretamente na administração da SAF e a suspensão imediata de qualquer operação de venda de jogadores ou outros ativos da empresa.

O clube ainda pede que a Justiça proíba a distribuição de dividendos à Eagle até que seja apresentado um plano formal para regularizar a dívida acumulada.

A ação destaca que Eagle e John Textor, acionista e representante da empresa no Brasil, vêm trocando acusações sobre a origem do rombo financeiro. O clube afirma que ambos atribuem responsabilidade um ao outro, mencionando desde suposta má gestão até possíveis desvios de recursos e obrigações não cumpridas.

O documento ressalta, no entanto, que não há qualquer indicação de que o clube associativo, detentor dos outros 10% da SAF, tenha contribuído para o prejuízo.

Representantes do Botafogo argumentam que o conflito entre os sócios majoritários pode levar tanto a Eagle quanto Textor a um cenário de insolvência ou falta de liquidez, o que justificaria a necessidade de garantias financeiras determinadas pela Justiça.

Além do ressarcimento mínimo de R$ 155 milhões, o Botafogo quer impedir qualquer negociação de atletas enquanto o passivo não for esclarecido. A intenção é assegurar que nenhum patrimônio da SAF seja comprometido até que haja transparência sobre a real situação financeira.

A ação também argumenta que o conflito entre Eagle e Textor ameaça diretamente a estabilidade da SAF, justificando a intervenção judicial como medida de proteção ao clube associativo e ao futebol profissional mantido pela empresa. O processo agora aguarda análise da 23ª Câmara do TJRJ.

Leia, na íntegra, a carta publicada por conselheiros do Botafogo:

“Caros amigos alvinegros,

O Botafogo vive um momento crítico. A disputa entre acionistas da EAGLE e da SAF Botafogo já prejudicou a atual temporada e ameaça agora comprometer o planejamento para 2026. É natural que todos nós, apaixonados pelo Clube, estejamos preocupados. No entanto, é justamente em momentos assim que responsabilidade, diálogo e serenidade devem prevalecer.

O Clube Social, detentor de 10% das ações da SAF e com assento no Conselho de Administração, poderia – e deveria – exercer sua influência por meio de conversas francas, internas e construtivas, buscando contribuir para a solução rápida desse impasse. Infelizmente, o que se viu foi a adoção de uma medida judicial sem qualquer diálogo prévio com a SAF ou mesmo com os Poderes do próprio Clube. Essa atitude não apenas prolonga o conflito, como enfraquece a relação institucional entre as partes, expondo o Botafogo a uma mídia que, em verdade, deseja ver o “Glorioso” voltar a ocupar um papel subalterno.

Os defensores da ação afirmam atuar para proteger o Acordo de Acionistas e os interesses do Botafogo. Mas é legítimo perguntar: quais interesses estão de fato buscando proteger? Na última reunião do Conselho Deliberativo, quando conselheiros cobraram informações sobre a relação com a SAF, muitos dos que agora se dizem defensores do “controle e da fiscalização” criticaram firmemente qualquer questionamento. Até outro dia, repetiam que a SAF, por deter 90% do capital, não deveria ser cobrada por quem possui apenas 10%. Agora, apresentam um discurso inverso. O que mudou de lá para cá? Que interesses foram contrariados? A quem serve esse movimento?

Desde sua criação, há três anos, a SAF promoveu investimentos evidentes em infraestrutura, profissionalização e nas equipes de futebol. O que foi construído é visível até para os mais céticos. Se há ajustes a fazer, eles devem ser debatidos internamente, com transparência e responsabilidade, nunca por meio de ações intempestivas que podem fragilizar o Botafogo.

A iniciativa da atual direção do Clube Social de recorrer à Justiça não protege o Botafogo: ela representa um movimento político de grupos que, após conduzirem o Clube a uma situação de insolvência, buscam agora retomar a influência perdida no futebol.

A torcida e os grandes botafoguenses não podem ser novamente enganados por aqueles que já destruíram nosso futebol, deixando um rastro de dívidas, crises e humilhações.

Reafirmamos nosso apoio à profissionalização do futebol do Botafogo, à SAF e ao trabalho liderado por John Textor. Isso não significa ausência de questionamentos – ao contrário, defendemos compliance, transparência e relações institucionais maduras, como demandamos na última reunião do Conselho Deliberativo. Mas entendemos que o caminho construído na gestão passada, com resultados claros, deve ser mantido e aprimorado. Ajustes são necessários, mas devem ser fruto do diálogo, nunca de ações intempestivas.

Queremos reviver dias como o 30 de novembro de 2024, quando o Botafogo voltou a mostrar ao país a grandeza que lhe é própria. E é certo que não será por meio dos mesmos que já afundaram o Clube no passado que construiremos o futuro que desejamos.

Que prevaleçam a razão, o bom senso e o compromisso genuíno com o Botafogo. Saudações Alvinegras!”

Jornalista e correspondente da Itatiaia no Rio de Janeiro. Apaixonado por esportes, pela arquibancada e contra torcida única.

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