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Zagueiro detona clube após rescisão por briga: ‘Fui desrespeitado por ser nordestino’

Edson acusa adversário de ter cometido xenofobia em duelo pela Série B, corroborado pela quebra de seu contrato

Edson foi expulso na derrota do Botafogo-SP para o Coritiba

O Botafogo-SP rescindiu o contrato com Edson, que agrediu Zeca, do Coritiba. O zagueiro alega ter sido vítima de xenofobia por parte do lateral. As duas equipes se enfrentaram na sexta-feira (3), pela Série B do Campeonato Brasileiro.

Edson se revoltou com a decisão do clube paulista. Nas redes sociais, o defensor lamentou a postura do Botafogo-SP ao encerrar seu vínculo e desabafou:

“Fui surpreendido com a decisão de rescindir meu contrato por justa causa, o que me retira todos os direitos. Além de me tratar com desprezo num momento tão delicado, o clube ainda ‘viu uma brecha’ pra se beneficiar dessa injustiça e se esquivar de suas responsabilidades”, escreveu o jogador.

“Fui ofendido, humilhado e desrespeitado por ser nordestino e, no fim, quem está sendo punido sou eu. Saí da minha casa pra trabalhar, entrei em campo, me doei por uma vitória e saí dele ofendido e demitido. O Botafogo-SP perdeu a chance de mostrar grandeza e respeito à região mais discriminada do país. Perdeu a chance de se posicionar pelo certo”, completou.

Na partida disputada no Couto Pereira, Édson recebeu cartão vermelho por uma cotovelada em Gustavo Coutinho, atacante do Coxa. Em um momento de descontrole, o jogador do Pantera não aceitou bem a situação e deu um tapa no rosto de Zeca.

De acordo com o zagueiro, ele foi chamado de ‘nordestino de merda’ e ‘passa fome’ pelo lateral do time alviverde. O defensor explicou que a agressão aconteceu em um momento de cabeça quente, ‘em defesa de sua honra’. Édson registrou um boletim de ocorrência contra Zeca.

Confira o texto de Edson na íntegra

“Os últimos dias não têm sido fáceis, mas por respeito a quem me acompanha e se preocupa comigo, decidi me manifestar sobre mais uma situação humilhante que vivi.

Nesta quarta-feira (8), em reunião com a diretoria do Botafogo-SP, fui surpreendido com a decisão de rescindir meu contrato por justa causa, o que me retira todos os direitos. Além de me tratar com desprezo num momento tão delicado, o clube ainda “viu uma brecha” pra se beneficiar dessa injustiça e se esquivar de suas responsabilidades.

Sempre fui um atleta exemplar, dentro e fora de campo e, sinceramente, em todos os meus anos no futebol, nunca vi algo assim: um jogador que reage a um crime dentro de campo ser punido pelo próprio clube, e não apoiado.

Fui vítima de xenofobia trabalhando! Esperei um gesto humano, um posicionamento, um mínimo de empatia, mas o que recebi foi frieza, abandono e indiferença. Se nem meu próprio empregador me respeita, por que alguém de fora vai se importar?

Fui ofendido, humilhado e desrespeitado por ser nordestino e, no fim, quem está sendo punido sou eu. Saí da minha casa pra trabalhar, entrei em campo, me doei por uma vitória e saí dele ofendido e demitido.

O Botafogo-SP perdeu a chance de mostrar grandeza e respeito à região mais discriminada do país.
Perdeu a chance de se posicionar pelo certo.

Estou decepcionado e triste, mas sigo de cabeça erguida e com a consciência tranquila. Falei a verdade, defendi minha dignidade e as minhas origens. A minha luta agora é por justiça e respeito.”

Veja a acusação de Édson contra Zeca

“Na última sexta-feira (3), durante a partida contra o Coritiba pelo Campeonato Brasileiro, fui alvo de ofensas graves e inaceitáveis por parte do atleta Zeca, que me chamou, dentre outros termos, de “nordestino de merda” e “passa fome”.

Provocar e tentar desconcentrar o adversário dentro de campo é natural e todos nós sabemos que faz parte do jogo, mas essa fala ultrapassa todos os limites toleráveis e se torna um crime.

Eu nasci em Touros, no Rio Grande do Norte, tenho muito orgulho das minhas origens, do meu Nordeste e jamais vou permitir que qualquer pessoa tente diminuir a mim, meu povo, minha região e nossa cultura.

Futebol é um esporte que tem a rivalidade como característica, mas esse jogo mental jamais pode ser confundido com autorização para preconceito ou discriminação.

É importante eu falar também que eu fui expulso por outro lance, de jogo, e de forma justa. Sabendo que já estava fora da partida, acabei reagindo de cabeça quente às ofensas inacreditáveis que vinha sofrendo, tanto que é possível ver que, quando o juiz confirma minha expulsão, eu vou direto no Zeca para defender a minha honra. Não me orgulho da minha reação, mas ali, no calor do momento, foi a única forma que vi de me defender diante de falas tão desrespeitosas, absurdas mesmo.

Ontem, já mais tranquilo, tomei as medidas cabíveis para registrar um boletim de ocorrência sobre o caso, pois acredito que atitudes assim não podem ser normalizadas.

Hoje, vendo tudo tomar a proporção que tomou, decidi vir a público para que todos saibam a história completa. Espero que os órgãos competentes apurem o ocorrido e que situações desse tipo não se repitam nunca mais.”

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Nikolas Mondadori é formado em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduando em análise do discurso midiático. Trabalha como correspondente do Itatiaia Esporte do Sul do Brasil. Passou por Rádio Gaúcha, jornal Zero Hora e portal GZH.