Ogundana Shola é o mais novo garoto do Ninho. A chegada do jogador nigeriano às divisões de base do Flamengo, é claro, chama a atenção, mas não aconteceu de um dia para o outro. Aumentando o investimento na captação de talentos, o departamento de futebol tem monitorado o futebol de base no continente africano desde 2020, inclusive com observadores in loco em competições locais.
“Entendemos que, pelo tamanho do Flamengo e pelo nível de jogadores que queremos ter na base, não podemos nos limitar. Temos que observar tudo. Temos observação na Europa, na América do Sul e temos visto cada vez mais o sucesso de jogadores africanos, que saem cedo da África, fazem a base na Europa e despontam lá. Por que não fazer aqui?”, explica Luiz Carlos, gerente geral da base do clube.
O crescimento da área no departamento de futebol é significativa. Em 2015, por exemplo, o clube tinha apenas dois scouts - ou observadores técnicos. Em 2019, o número já subido para 10 e, em 2023, são 15 profissionais responsáveis pelo setor. Isso apenas no futebol de base. O objetivo é buscar talentos para, no futuro, gerar retorno técnico no elenco profissional e financeiro ao clube.
Primeiro a América, depois a África
A atenção ao futebol do continente africano vem após um processo consolidado de observação na América do Sul. Nas últimas temporadas, o clube sempre teve representantes nas principais competições, como os Sul-Americano Sub-15, Sub-17 e Sub-20 e a Copa Libertadores Sub-20.
Em 2020, iniciou-se o acompanhamento por vídeo do futebol na África, com scouts sendo enviados a monitorar jogadores a partir de 2022. Foi o caso de Shola, com um scout indo à Nigéria conhecê-lo. O Flamengo também teve observadores na Copa Africana de Nações Sub-20, em 2022, nos Camarões.
"É um trabalho que vamos buscar ampliar cada vez mais. A ideia do clube é, alinhado com o pensamento da direção e do futebol profissional, é expandir o mercado sul-americano e outros, mas o africano é um que vamos acompanhar de perto”, comentou Luiz Carlos, em entrevista à Itatiaia.
Os estrangeiros entre os garotos do Ninho
Com Ogundana Shola, são quatro estrangeiros entre os garotos do Ninho atualmente. O atacante equatoriano Ariel Suárez, de 19 anos, e os colombianos Samuel Bello, lateral-direito de 18 anos, e o zagueiro César Benavides, 19. Todos foram captados através do trabalho do departamento de base.
Richard Rios, que hoje está no elenco profissional do Palmeiras, também chegou ao Ninho desta forma.
A adaptação dos jovens é uma das preocupações dos profissionais do Flamengo. Por isso, a busca por talentos na África terá um foco maior em países de língua portuguesa e inglesa. Nas divisões de base, uma parte dos profissionais já está capacitada com o idioma, inclusive outros jovens atletas.
É o caso do atacante nigeriano Shola, que, antes de assinar por empréstimo até a próxima temporada, também teve a performance observada pelo Flamengo em uma competição de base realizada na Itália.
Mais de R$ 250 milhões investidos em 10 anos
A estruturação do departamento e a melhoria dos processos só é possível pelo entendimento da importância das divisões de base para o Flamengo. O investimento não é de hoje. Desde 2013, o montante investido na formação de atletas cresceu significativamente, alcançando seu ápice em 2020, com R$ 53 milhões. Somadas as 10 últimas temporadas, foram investidos R$ 256 milhões na formação de atletas. com alojamento, alimentação, transporte, educação e assistência médica, entre outros gastos, segundo os números publicados pelo Flamengo nos demonstrativos financeiros.
O alinhamento com o futebol profissional É central para o processo de scout na base. O “meio de campo” entre base e profissional é tocado por Bruno Spindel, diretor de futebol, Fábinho SoldAdo, gerente, Carlos Noval, gerente de transição, e Renan Bloise, coordenador de scout, entre outros.
“O nosso desafio é sempre captar e desenvolver melhor o atleta para entregar ao profissional. Nos últimos anos, o Flamengo é um dos clubes que mais tem transição da base para o profissional, dando retorno técnico e financeiro. Os números são top entre os clubes do Brasil. O desafio é melhorar cada vez mais, gerando retorno técnico ao profissional e financeiro ao clube”, concluiu Luiz Carlos à Itatiaia.