Em sua terceira semana de trabalho no Espaço Lonier, no Rio de Janeiro, Renato Paiva está satisfeito com o “nível de absorção” do elenco do Botafogo às ideias de jogo propostas por sua comissão técnica. Nesta quinta (20), após a atividade aberta à imprensa no CT, o treinador português conversou com os jornalistas e reforçou que não fará mudanças radicais na equipe.
Neste sábado (22), o Botafogo enfrenta o Novorizontino em amistoso no Nilton Santos como parte da preparação para o início do Brasileirão e da Libertadores. Será a primeira oportunidade do torcedor ver o time atuando sob comando de Paiva, que projetou a equipe "à imagem” daquela que conquistou os dois títulos mais importantes na última temporada.
“Sei o que estamos trabalhando e queremos transferir do treino para o jogo. Contra o Cruzeiro já tivemos coisas interessantes daquilo que treinamos. É importante perceber que não trazemos nenhuma mudança radical, nenhum corte radical com o passado. Há muitas coisa bem feitas, por isso as taças estão no clube. O que fizemos foi perceber o que está bem feito e acrescentar coisas pontuais, nas quais acreditamos que pode ser um plus no jogo da equipe”, respondeu Renato Paiva.
“Esperamos que seja um Botafogo à imagem do que era, da equipe campeã, com algumas nuances diferentes, ofensivas e defensivas. Uma coisa é certa. Estão a treinar extraordinariamente bem. Foi o 14º treino. Parece muito, mas não é tanto. Para realidade brasileira, é bastante e estamos satisfeitos. Nossa expectativa é sempre ganhar. Primeira informação que trouxe aos jogadores é que não há amistosos. Não é para dar pancadas, mas é para ganhar. A cultura vencedora alimenta-se ganhando tudo o que seja possível. É o que vamos tentar fazer”, seguiu o treinador.
Renato Paiva chegou ao clube em 28 de fevereiro. O início de temporada do Botafogo foi ruim. Sob comando interino de Carlos Leiria, o time perdeu os títulos da Recopa Sul-Americana e Supercopa do Brasil, além da eliminação no Campeonato Carioca.
O treinador, adepto do jogo posicional, aproveitou o período sem partidas para apresentar os conceitos do jogo posicional, sistema do qual é adepto. Entre as características, estão a construção desde a linha defensiva e a amplitude da equipe, com jogadores posicionados próximos às linhas laterais - podendo ser atacantes, meias ou até os próprios laterais.
Na entrevista coletiva, Paiva respondeu sobre a função que os laterais terão em sua equipe e reforçou que deseja uma equipe capaz de surpreender do adversário na hora de finalizar.
“Os laterais, quero que tenham protagonismo quando atacamos. Nem sempre são os laterais que precisam estar na largura (abertos). A largura é inegociável no nosso jogo. Só por dentro, não é possível jogar. É preciso ter gente fora. Os laterais, os pontas, os meias. É nessa versatilidade que quero que o time ataque. Depois é o compromisso defensivo que precisam ter. Quero que façam gols. Quero que sejam uma ameaça muito forte aos adversários. Vamos criar dinâmicas para isso, sem que esqueçam da importância defensiva”, disse Paiva.
“Se trabalhamos isso e já vimos contra o Cruzeiro (laterais no ataque ao mesmo tempo e construção dos meias por dentro), é porque o nível de absorção está alto. Nesse aspecto, já perceberam a dinâmica que pedimos. Não nenhum jogador que jogue futebol que não queira fazer gol. Todos têm que ter essa capacidade de chegar à área, de surpreender adversário, desde que não desequilibre a parte defensiva. Esse é o grande desafio meu e de todos treinadores que jogam para ganhar títulos. Atacar com muita gente e defender com menos do que atacamos. Quando defende com menos, o posicionamento precisa ser rigoroso, precisa ser agressivo no momento de controlar as referências dos adversários”, concluiu.
Confira, abaixo, outras respostas de Renato Paiva, técnico do Botafogo:
Compactação do time
“Nós temos uma ideia de jogo que é posicional, a equipe tem que estar junta atacando e defendendo. Se está junta ao atacar, tem mais linhas de passes e dinâmicas interior e exterior, coloca mais jogadores na zona da bola. Dentro disso, a defender com menos é preciso ocupar as zonas e anular a transição do adversário. Preocupa no ataque e, no momento da perda, podemos acumular jogadores para pressionar a bola e que o adversário chegue ao nosso gol. Se não for possível esse primeiro momento, compactar atrás, juntos outra vez. Ao afastar as linhas, são as zonas que o adversário vai buscar. Quando a equipe está compacta e mais perto do gol adversário, o espaço está nas costas. Esse é o perigo, mas estamos trabalhando nisso. As grandes equipes no futebol mundial joga assim. O Botafogo jogou assim e ganhou os grandes títulos. O desafio é esse. Juntos dentro de campo e fora do campo. Nós e torcida.”
Mudança no posicionamento de Igor Jesus
“No sistema em que jogamos, 4-3-3 ou 4-2-3-1 como ponto de partida, não jogamos com dois centroavantes. Isso faz com que o 9 seja mais centralizado. O Igor não quis contar tudo, ainda bem. É um garoto inteligente e não quis contar tudo. Há zonas que atuam de forma preferencial por suas características. O zagueiro é zagueiro por atuar melhor na zona da zaga. O Igor faz outro tipo de movimento, ainda bem que não contou. O que queremos é que as jogadas terminem com o Igor na zona onde ele é muito bem. Se até lá, ele consegue atacar espaços, ligar jogo e arrastar a adversária, ajudar a equipe, ótimo. Quando a equipe se aproximar da área, quero que ele esteja na área.”
O treinador vai dar oportunidade a quem trabalhar bem. Os jogadores têm que ter alguma paciência com o posicionamento sem bola. O Santi tem coisas muito boas no jogo, outras nem tanto. É normal. Quando estive no Bahia, Santi e Gregore estiveram perto de serem contratados e não vieram. O destino nos junta aqui. Se será protagonista ou não, não sei. Eu gostaria que fossem todos. Os 11 que começam e os demais que entram. É a força do coletivo. Não vejo outra forma de ganhar títulos. O Botafogo é o exemplo disso. Se não é um coletivo forte, é impossível ganhar aquela final. Esse é o protagonismo que quero. Se o coletivo é forte, as individualidades vão aparecer.”
Trabalho integrado à base
"É algo que gostei que o clube ter olhado para mim nessa perspectiva. Tenho todo gosto de fazer isso, mas é uma chegada relâmpago. Foram 14 treinos, conversas individuais para mim são fundamentais. Não posso trabalhar com os jogadores sem conhecê-los. É muito importante para mim para, depois, saber como atuar com ele, dentro e fora de campo, saber o que esperar e impor metas, para poder responsabilizá-los. Não tive tempo. Com o tempo, vamos olhar isso. O Botafogo precisa. Como treinador, olho sempre primeiro para dentro. Só vou buscar fora se não houve.”