Os anos 2000 não foram de boas lembranças ao torcedor do Atlético quando o assunto é goleiro. Após décadas de grande segurança debaixo das traves, o Galo se via desnorteado e não conseguia manter um nome de confiança no gol.
Renato, Mazurkiewicz, João Leite, Ortiz e Taffarel são alguns nomes muito conhecidos do atleticano, mas todos com sucesso construído no século passado. Já no novo milênio, foram raros os nomes que ganharam o verdadeiro apoio da massa, como Diego Alves. Mal sabiam que essa história mudaria em 2012.
Em negociação com o Grêmio e que envolveu a cessão do zagueiro Werley, chegava a Belo Horizonte o já consagrado goleiro Victor, à época com 29 anos e já campeão da Copa do Brasil (com o Paulista, em 2005) e vice-campeão da Libertadores (em 2007, com o Grêmio). Vestindo a camisa 83, ele rapidamente assumiu a titularidade que então pertencia a Giovanni.
A temporada 2012 de Victor foi importante na campanha do Atlético, vice-campeão brasileiro naquele ano. Assim como o arqueiro, outros nomes chegavam e começavam a trilhar um caminho que seria consagrado no ano seguinte, a exemplo de Jô e Ronaldinho, outros reforços daquela temporada.
O goleiro que usou os pés para fazer ‘só mais um ano’ virar história no Atlético
Em 2013, o Galo voltava a disputar a Copa Libertadores após 13 anos. Se o elenco de 2012 já rendeu elogios, o ano seguinte aumentou ainda mais a expectativa do torcedor. Gilberto Silva, Josué, Diego Tardelli, Luan e Alecsandro são nomes que impulsionaram a “grife” na Cidade do Galo, mas além de um grupo recheado de estrelas, com um início de ano impecável, faltava aquele “tempero místico” que o atleticano precisava.
Campeão Mineiro sobre o rival Cruzeiro e melhor time da primeira fase da Libertadores. Após um passeio sobre o São Paulo nas oitavas de final, o Atlético se viu na beira do precipício quando, na noite de 30 de maio de 2013, o árbitro chileno Patricio Polic marcava um pênalti para o Tijuana-MEX em pleno estádio Independência, em Belo Horizonte, nos acréscimos do segundo tempo.
O jogo estava empatado em 1 a 1, resultado que classificava o Galo após empate por 2 a 2 no México. Naquela noite, o futebol não foi vistoso, a bola não entrava, e os torcedores que vestiam máscaras do personagem “Pânico” viam, literalmente, um filme de terror no Horto. Quando o atacante Riascos partiu para a bola, só um jogador poderia salvar o ano do Atlético: Victor. E ele o fez.
Adiantado, diga-se, o goleiro alvinegro isolou a bola para a lateral com o pé esquerdo, no que mais parecia uma finalização do que uma defesa. O Tijuana ainda tentou uma pressão, mas o Independência “veio abaixo” com o apito final, instantes depois. O Atlético era semifinalista da Libertadores, e Victor era canonizado ainda no gramado do Horto.
Um ‘santo’ libertador
Dali em diante, ele não era “apenas o goleiro do Atlético”, mas também uma das grandes estrelas do time. Nas fases seguintes, o Galo precisou jogar duas disputas de pênalti para levantar o troféu inédito, e mais uma vez contou com a ajuda do agora “São Victor”. Na semifinal, diante do Newells Old Boys-ARG, ele defendeu a última cobrança; e na decisão, contra o Olimpia-PAR, defendeu a primeira.
O inédito título da América só veio em 24 de julho de 2013, completando dez anos nesta segunda-feira (24). Entretanto, após a noite de 30 de maio, “São Victor do Horto” já era um herói do Atlético. Para muitos, o maior da história do clube, mas de forma unânime, um dos grandes destaques de uma conquista inesquecível.
Logo no segundo ano de Atlético, Victor entrou para a história, de onde não sairá. Depois de 424 jogos, nove títulos e uma convocação para a Copa do Mundo como jogador alvinegro, o goleiro se aposentou em 2021. Homenageado e idolatrado, ele ainda pode ser visto pelos corredores da Cidade do Galo e ambientes de jogos do clube, seja nos pôsteres, murais, ou nas salas de reuniões, trabalhando como gerente de futebol do clube que aprendeu a amá-lo.