Caso Benício: médica teria tentado alterar prontuário após erro em prescrição de adrenalina

Defesa de médica alega que confissão foi feita ‘no calor do momento'; três depoimentos relatam tentativa de adulteração de prontuário

Caso Benício: médica assume erro e diz que menino morreu por dose de adrenalina

A médica Juliana Brasil Santos teria tentado adulterar o prontuário médico onde estavam prescritas as doses de adrenalina que mataram Benício Xavier, de 6 anos, em Manaus, no Amazonas, em novembro. As informações são de três testemunhas e foram divulgadas pelo delegado Marcelo Martins, segundo o G1.

“A médica teria tentado obter acesso à prescrição médica original para suprimi-la e editar os dados no sistema para que não aparecesse o fato de ela ter prescrito errado a adrenalina pela via endovenosa e não pela via de nebulização”, disse o delegado.

Por conta da ação, a situação da médica pode ser agravada. “Estamos nos atentando a todos esses detalhes para poder verificar se houve dolo eventual ou se foi só um homicídio culposo e até que ponto a ação ou omissão dos envolvidos culminou na morte da criança.”

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Apesar dos depoimentos, Juliana responde ao inquérito em liberdade por causa do habeas corpus apresentado pela defesa da médica, que foi deferido pela Justiça. “Se não fosse esse habeas corpus, isso seria uma causa forte de prisão, pois adulteração de provas é um elemento forte [...] De toda forma, como existe essa liminar deferida no habeas corpus, não pode ser formulado novo pedido, uma vez que está, desde já, vetado preventivamente qualquer tipo de segregação de liberdade em relação à doutora Juliana Brasil”, declarou o delegado.

À polícia, a médica confessou ter cometido o erro. Além disso, ao perceber o que fez, ela enviou mensagens ao médico Enryko Queiroz pedindo ajuda. No entanto, a defesa de Juliana afirmou que a confissão foi feita “no calor do momento”.

A defesa da médica alegou, ainda, que a prescrição não foi manual, e sim realizada por um sistema automatizado. “Quando ela escreve a via de administração, o próprio sistema pode entender que está incorreta e alterá-la automaticamente”, afirmou o advogado Felipe Braga.

Uma perícia técnica confirmará se ocorreu ou não a falha no sistema relatada pela defesa.

Os pais da criança divulgaram uma carta aberta negando a versão. “Também está demonstrado que não houve qualquer falha de sistema. O próprio prontuário registra que, horas depois, na UTI, a equipe médica prescreveu corretamente a adrenalina pela via inalatória, evidenciando que o software registra adequadamente as vias de administração e não sofreu instabilidade capaz de alterar prescrições.”

A técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva, que aplicou a medicação, também é investigada pela polícia. Ela alegou que apenas seguiu a prescrição médica. “Eu administrei a medicação conforme a prescrição médica. Não tive auxílio, estava sozinha. A mãe questionou a via de administração, mas estava prescrito intravenoso”, contou.

Depoimentos

Seis pessoas, incluindo um médico e três enfermeiros que estavam no Hospital Santa Júlia no dia da morte de Benício, foram ouvidas pela polícia. Além disso, os pais da criança também foram escutados.

O médico Enryko Garcia confirmou as mensagens trocadas com a médica, e o enfermeiro Tairo Neves Maciel a versão da técnica de enfermagem, que alegou ter ficado sozinha no atendimento – apresentando divergência dos relatos feitos pela médica.

Benício morreu na madrugada do dia 23 de novembro no Hospital Santa Júlia, após receber três doses de adrenalina intravenosa de 3 ml, que foram aplicadas a cada 30 minutos. A criança deu entrada na unidade com tosse seca e suspeita de laringite.

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