O que significa vivenciar um destino e como essa experiência transforma a maneira como enxergamos outras culturas? Essa é a reflexão central do livro “Sobre Viagens”, da pesquisadora Júlia Castro, que será lançado no sábado, 22 de março, às 11h, na Livraria Contraponto, no Café com Letras (Rua Antônio de Albuquerque, 781, Savassi).
Júlia Castro é turismóloga e realizou seus estudos de mestrado e doutorado em Geografia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O livro é resultado de mais de 15 anos de estudos sobre o tema.
A autora reflete sobre o que significa viajar, qual a experiência de turistas em novos destinos, qual é a liberdade das viagens, para além da ausência de horários e de fazer passeios turísticos. Confira entrevista:
Qual é a relação entre viajar e conhecer de fato um destino?
Eu diria que viajar é atividade associada ao ato de conhecer lugares, países e culturas, mas que somente o trânsito por destinos turísticos não seria suficiente para esse “conhecer”. A viagem, atividade que abarca a prática do turismo, compreende um investimento maior sobre esse processo de conhecer lugares e culturas.
Diria também que conhecer um lugar se faz como um conhecimento de si próprio, que se dá por meio da auto-representação de si mesmo como um viajante. Conhecer um lugar e uma cultura é também se conhecer em percurso pelo que não é familiar.
Em alguns casos, as pessoas fazem viagens corridas, com poucos dias para conhecer muitos destinos. Tem dicas para que uma viagem assim também seja uma experiência transformadora?
O risco de fazer uma viagem baseada na inclusão de muitos destinos em poucos dias é que essa experiência seja muito superficial e que a pessoa saia dela com a sensação de não a ter vivido plenamente — ou que, inclusive, seja necessário voltar.
Já que o investimento de recursos financeiros em viagens internacionais é alto, levando em consideração que o câmbio, muitas vezes, não é tão favorável a um viajante brasileiro, será preciso investir outro valioso recurso: o tempo. Essas estâncias curtas podem ser surpreendentes, quando nos abrimos à experiência. Para que isso aconteça será preciso algum tipo de preparo.
E, como sabemos, preparo exige tempo, principalmente tempo para criar uma relação com o lugar a ser visitado — está aí a primeira dica. Cinema, literatura, música, esportes, politica: o que já desperta o seu interesse? Descubra e invista tempo para aprofundar. Outra questão: em que fase de vida você está? Por que uma viagem seria, neste momento, algo importante? Está aí uma segunda dica, ou melhor, direcionamento. E a terceira dica seria buscar propostas de visitação que incluam algo mais do que bater fotos nos monumentos, escolher destinos em que se possa aproximar da cultura local e anfitriões que o ajudem a constituir essa experiência.
Quais as vantagens de um diário de viagem?
Acredito que a escrita seja potente para a representação da experiência do viajante e ela pode se dar de várias formas. Vai depender da relação da pessoa com a escrita. Os diários podem ser criados combinando escrita e desenho, com anexos, registros livres, fotografias impressas. Inclusive podem ser construídos com registros de áudio e vídeo, mas acredito que a escrita e o papel sejam ainda mecanismos mais vinculados à condução da memória e à descoberta da expressão viajante.