Há anos, Roberto Carlos convive com acusações de plágio na música brasileira. O mais novo imbróglio refere-se à música “Traumas”, lançada pelo Rei em 1971, num dos discos mais exitosos de sua carreira. Como de costume, a canção vem creditada a ele e Erasmo Carlos, falecido no fim do ano passado, aos 81 anos.
Acontece que uma professora de nome Erli Cabral Ribeiro Antunes garante que a música é dela e que, originalmente, chamava-se “Aquele Amor Tão Grande”. Não cabe aqui julgar qual título é mais expressivo.
Mas o perito Cesar Peduti Filho já realizou seu julgamento. Ele afirma, de acordo com seu lado judicial, que “trechos idênticos, ainda que com pequenas alterações rítmicas e de tonalidade” foram surrupiados da obra original da professora. “Comparados os compassos de ambas as canções, a ideia central da música ‘Aquele Amor Tão Grande’ é tocada como refrão da música ‘Traumas’. (...) Não restam dúvidas quanto à reprodução parcial da obra. Verificou-se o plágio”, vaticina.
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A patacoada teria começado quando a humilde fã, investida de certa coragem, entregou uma fita com a canção e sua partitura nas mãos de um músico da banda de Roberto Carlos, quando ele se apresentou na cidade de Paraíba do Sul, no Rio de Janeiro. Antes, tomou o cuidado de registrá-la na Universidade Federal do Rio de Janeiro, já que o seguro morreu de velho.
Qual foi não a sua surpresa quando, cinco meses depois, menos do que o tempo de um parto, ela ouviu a canção no rádio, com nome trocado, e sem a sua devida aclamação. Erli recorreu à Justiça e o que o perito diz consta em seu laudo. Mas o processo está longe de ser encerrado.
Roberto defende-se dizendo que a afirmação da requerente é “inteiramente fantasiosa”, “ofende a sua honra” como defensor dos direitos autorais, e se tornou inócua diante de um intérprete que, ao longo de uma vitoriosa carreira, foi useiro e vezeiro em dar chances a compositores iniciantes.
Foi esse o caso, por exemplo, da empregada doméstica Helena dos Santos, mineira de Conselheiro Lafaiete, que aparentemente teve mais sorte, assim como de Isolda, compositora de “Outra Vez” e “Um Jeito Estúpido de Te Amar”, clássicos do Rei Roberto Carlos. Ele também diz confiar que o laudo será revisto pela Justiça.
Histórico. Em 1987, Roberto Carlos lançou a música “O Careta”, parceria com Erasmo Carlos, em disco que vendeu mais de dois milhões de cópias. Três anos depois, Sebastião Ferreira Braga ingressou com ação na Justiça alegando plágio de sua música “Loucuras de Amor”, lançada em 1983, que vendeu 13 cópias e foi executada uma vez no rádio segundo dados do Ecad.
E venceu a ação. Na época em que gravou o compacto, Sebastião Ferreira Braga era amigo de Eduardo Lage, maestro de Roberto Carlos. A pedido de Braga, Lage teria dado a Roberto um exemplar do disco. Segundo a Justiça, a perícia identificou sequências idênticas de notas musicais e a mesma harmonia.
Roberto recorreu, mas perdeu em todas as instâncias, a última em 2003. A decisão determinou a inclusão de Sebastião Ferreira Braga como coautor, além do pagamento de multa e direitos autorais, mas Roberto preferiu retirar a música do disco e de seu catálogo. Essa não foi a primeira vez que o nome do Rei se viu envolvido em acusações de plágio.
Em 1984, o compositor norte-americano John Hartford o acusou e processou por plagiar a canção “Gentle On My Mind”, sob o nome de “O Caminhoneiro”. Roberto Carlos admitiu que se tratava de uma versão em português feita para o especial de fim de ano da Rede Globo, e passou a creditar o nome de John Hartford.
O crítico musical José Teles aponta outro caso em que Roberto e Erasmo Carlos gravaram uma versão sem darem os devidos créditos. “É Proibido Fumar”, lançada pela dupla em 1964, repete os acordes e a melodia de “Lo Nuestro Termino”, do Dúo Dinámico, dupla espanhola que fez muito sucesso na década de 1960.