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Isalu Souza, Miss Universo Minas Gerais, revela trajetória até o concurso: ‘recebi muitos nãos’

Miss Minas Gerais revela detalhes de preparação para o Miss Universo Brasil e conta história de vida

Isadora Lúcia de Souza Silva, a Isalu Souza, se tornou a 3ª mulher negra a ser eleita Miss Universo Minas Gerais. Ela, que é natural de Ouro Preto, disputou a coroa com 32 mulheres. A Miss conta que enfrentou um árduo percurso para conquistar o título, se arrumou sozinha para a final e recebeu “muitos nãos” ao pedir apoio na cidade.

Isalu, que é filha de diarista e de segurança, explica que apesar da vida simples seus pais nunca deixaram faltar nada. A mãe é seu maior exemplo: “sou uma mulher completa por causa dela. Uma guerreira”.

Sempre focada e em busca de conhecimento, Isalu conta que sempre estudou em escolas públicas e passou em primeiro lugar em jornalismo na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Atualmente, ela está no sexto período, a dois semestres de se formar.

A Miss Minas Gerais fez oito anos de piano, artes plásticas, toca flauta doce e violão. E, se não bastasse, ainda é poetisa. Inclusive, ela venceu um concurso nacional de poesia, conquistando assim uma página no “Poesia Livre 2020”.

“Sempre tive uma vida muito humilde, mas sempre imersa em diversas atividades culturais graças a minha mãe, que sempre lutou para me inserir nesses ambientes em que outras crianças da minha realidade social talvez não pudessem. Acredito que todo diferencial da minha construção tenha vindo desse berço cultural”, conta.

A beleza não passava despercebida, tanto que, aos 17 anos, iniciou a carreira de modelo fotográfica. Ela recorda também algumas dificuldades enquanto mulher negra. “A gente sabe que oportunidades para pessoas de pele branca e pessoas de pele negra são diferentes na nossa sociedade. Não tem como negar o racismo instaurado, o racismo que a gente vive a cada dia, mas eu sempre procuro buscar força em mim mesma, em todos os ensinamentos da minha família e em tudo que eu aprendo a cada dia”, diz.

Miss Universo Minas Gerais

Para ela, o concurso foi um enorme desafio por vários motivos. “Surgiu como um chamado na minha vida, porque foi um convite. Eu não fui até ele, ele veio até mim. Desde o início, eu sempre tive que correr atrás de muitas coisas e me esforçar muito por ser algo que não estava diretamente ligado ao meu dia a dia”, explica.

Ela revela ter recebido muitos “nãos”, mas recorda com alegria de quem sempre a apoiou. “Recebi muitos ‘nãos’ aqui na minha cidade em relação a apoio, seja financeiro ou com materiais, como a montagem do guarda-roupa para o confinamento”. Sobre os “sins”, ela enfatiza: “Me deram forças para continuar lutando pelo que eu acredito”.

A Miss confessa que pensou em desistir. “Sou uma mulher negra e de classe baixa. Isso acaba sendo meio estigmatizado, então acredito que muitas pessoas aqui na cidade não tenham visto o meu valor de participação no Miss Universo Minas Gerais e, por isso, decidiram não me apoiar. Então eu tive que lutar muito, eu tive muito apoio da minha família e da própria Prefeitura de Ouro Preto”, relembra. À época, Isalu chegou a fazer uma vaquinha para “captar recursos necessários para sua preparação”.

A preparação contou com aulas de passarela, inglês, oratória e guarda-roupa para o confinamento. “No confinamento, por exemplo, eu estava sozinha nesse processo. Estávamos abertos a ter equipes com a gente de maquiadores, estilistas e coachs. Muitas candidatas tinham equipes enormes, enquanto eu me encontrava sozinha. Eu me produzi sozinha todos os dias”.

“Foi uma uma missão de esforço individual meu. Acredito que essa tenha sido a maior dificuldade. Mesmo estando sozinha, eu consegui alcançar o título de Miss Universo Minas Gerais, o que prova mais uma vez o meu propósito. Eu estava sozinha, mas não estava sozinha, minha família estava sempre do meu lado, assim como Deus”, acrescenta.

Preparação para o Miss Universo Brasil

Para o Miss Universo Brasil, ela revela que a preparação será muito intensa com aulas de passarela, inglês e oratória. “Vou me dedicar ainda mais, assim como eu me dediquei para o Miss Universo Minas Gerais. Gosto de estudar muito sobre questões sociais, vou estudar oratória e melhorar minha comunicação em inglês. Faço curso de inglês há uns sete anos. Vou me dedicar bastante para estar na minha melhor forma e conseguir representar da melhor forma possível todas as mulheres”, promete.

Isalu define sua vitória no concurso como “um propósito de vida”. “Será um meio que eu irei utilizar para minha missão de vida que já estava comigo muito antes de ser Miss Ouro Preto. O sonho de dar visibilidade à mulher negra na sociedade, falar sobre questões sociais e esses assuntos que a gente não fala, que é o racismo na sociedade. As pessoas precisam ser letradas em questões sociais, precisa ser uma prioridade na nossa sociedade debater sobre essas questões”, defende.

“A gratidão é o maior dos sentimentos, porque acredito que todos nós procuramos uma razão para estar aqui no mundo e eu verdadeiramente achei a minha razão de estar aqui, que é de representar as mulheres negras, assim como todas as mulheres, e de falar por elas na sociedade. Quero ser um espelho para as mulheres de que somos capazes, inteligentes e podemos estar onde nós quisermos. Tendo uma sociedade mais justa para nós, uma sociedade que dá mais valor a nossa voz, que ouve as nossas pautas, nossas dores e as nossas necessidades. Então o sentimento é de muita gratidão, me sinto verdadeiramente feliz”, finaliza.

Agora, Isalu se junta à Miss Universo Paraná, Mariana Becker, que foi eleita no dia 2 de abril. No entanto, outras 24 misses ainda serão coroadas como representantes de seus estados no decorrer deste semestre. Afinal, a previsão é de que o Miss Universo Brasil seja realizado até julho.

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.
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