Djavan não tem jeito. Não tem outro e não tem igual. Nascido em Maceió, o músico alagoano cravou a sua assinatura na música brasileira com um estilo facilmente reconhecível, que despertou a curiosidade de gerações desde o seu surgimento até os dias atuais. Com uma levada única calcada no samba e uma poesia de alto teor simbolista, ele conseguiu o difícil feito de unir sofisticação à popularidade, alcançando sucessos nas rádios com músicas como “Fato Consumado”, “Flor de Lis”, “Meu Bem Querer” e “Açaí”. Exaltado por Caetano Veloso, tornou-se parceiro de Chico Buarque e foi gravado de Bethânia a Gal...
“Fato Consumado” (samba, 1975) – Djavan
O surgimento de Djavan na música popular brasileira foi um espanto. O músico nascido em Maceió era diferente de tudo o que então se conhecia. As canções de alto teor simbólico, embaladas por melodias com um feitio pop, levaram o compositor a se tornar um dos recordistas em temas de novelas. O primeiro sucesso foi “Fato Consumado”, que tirou o segundo lugar no Festival Abertura da Rede Globo, em 1975. “O Djavan de hoje é meio assim, um compositor maduro capaz de renovar formatos tradicionais e sempre descobrir novidades na forma musical que inventou e vem inventando desde o primeiro disco”, avalia o crítico musical Hugo Sukman, além de fã de carteirinha do compositor.
“Flor de Lis” (MPB, 1976) – Djavan
Em 1976, Djavan lançou “A Voz, o Violão, a Música de Djavan”. “Trata-se de uma das estreias mais impressionantes da história da música brasileira, ao lado de um ‘Chega de Saudade’, de João Gilberto, um ‘Samba Esquema Novo’, de Jorge Ben. Tem tudo de um clássico: apresenta de cara um artista único, com um jeito próprio e inigualável de fazer música, letra, de tocar violão e de cantar; tem um clássico instantâneo, ‘Flor de Lis’, e um punhado de outros sucessos; exibe tal originalidade no gênero mais importante e ‘concorrido’ da música brasileira, o samba”, é com essas palavras que Hugo Sukman o exalta.
“Álibi” (MPB, 1978) – Djavan
Com título de música de Djavan, o disco “Álibi”, lançado por Maria Bethânia em 1978, foi o primeiro de uma cantora brasileira a ultrapassar a marca de um milhão de cópias, consolidando o ápice artístico e popular da irmã de Caetano Veloso, que despontou para o estrelato após substituir Nara Leão no espetáculo “Opinião” e imprimir sua interpretação rascante a “Carcará”, de João do Vale. No repertório de “Álibi”, uma coleção de sucessos, do porte de “O Meu Amor”, que a anfitriã dividia com Alcione, “Ronda”, “Explode Coração”, “Negue”, “Sonho Meu”, esta com Gal Costa, “Cálice” e “Interior”, da amiga Rosinha de Valença. Também comparecia “A Voz de Uma Pessoa Vitoriosa”, parceria de Caetano e Wally Salomão. A faixa ganhou regravação de Alcione.
“Cara de Índio” (MPB, 1979) – Djavan
Engolidos por uma cultura, submetidos a costumes e língua diferentes, devemos questionar quem é esse povo que hoje forma o Brasil? Se esse país existe, quem, afinal, nós somos? Djavan fala sobre essa cultura roubada e, principalmente, sobre o lugar que esse índio ocupa atualmente, como ser exótico e distinto. Enquanto eles preservam e lutam pela sobrevivência da terra, nós mal lembramos que eles existem. A música do compositor que toca nessa temática é “Cara de Índio”, de 1979, o hino aos nossos povos originários. (texto de Ana Clara Fonseca)
“Meu Bem Querer” (valsa, 1980) – Djavan
Em 1980, Djavan colocou na praça o disco “Alumbramento”. “Como um estilista, até então Djavan só trabalhava sozinho, em música e letra. Neste ‘Alumbramento’ ele se abre a parcerias, entrando ‘oficialmente’ no primeiro time da música brasileira ao compor com gente como Chico Buarque (a linda canção-título), sendo carioca com Aldir Blanc (‘Aquele Um’, ‘Tem Boi na Linha’) e interiorano com o mineiro Cacaso (‘Lambada de Serpente’). Permite-se também voltar ao início de sua carreira e ser só cantor num dueto mortal em ‘A Rosa’, com o autor Chico Buarque, e na clássica ‘Triste Baía da Guanabara’, de Novelli e Cacaso. Como compositor, lança de clássicos como ‘Meu Bem Querer’ a uma obra-prima escondida, ‘Dor e Prata’”, vaticina Hugo Sukman...
“Açaí” (MPB, 1981) – Djavan
“Açaí” é a primeira gravação de Gal para uma música de Djavan, compositor que viria a ser mais frequente nas fichas técnicas de seus discos posteriores. Do alagoano, ela gravaria, entre outras, “Faltando um Pedaço”, “Azul” e “Nuvem Negra”, dentre outras. De volta a “Açaí”, a música foi lançada por Gal em “Fantasia”, e recebeu uma versão do autor no ano seguinte, em 1982, para o disco “Luz”. Paradigma do simbolismo adotado por Djavan em suas canções, “Açaí” invadiu a internet em seu tempo de redes sociais, graças aos versos cujo sentido se acopla intrinsicamente ao som. “Zum de besouro um imã”, diz...
“Nobreza” (MPB, 1982) – Djavan
O samba “Mulato Bamba”, de 1931, é a primeira música de relevante importância para a canção popular brasileira no que diz respeito à representação do homossexual. Noel Rosa a compôs como forma de homenagem a Madame Satã, famoso capoeirista e malandro homossexual da Lapa. Como já foi dito, a canção é uma homenagem e retrata o homossexual de maneira respeitosa e até com certa admiração. Na década de 80, o cantor alagoano Djavan compôs a lírica “Nobreza”, que continha os famosos versos “dois homens apaixonados”, mais tarde enxertados por Cazuza em uma música de sua autoria, que trazia o epíteto: “Como Já Dizia Djavan”. Puro luxo.
“Lilás” (MPB, 1984) – Djavan
Com uma dialética e expressão muito particulares, Djavan causou furor logo em seu aparecimento no cenário da música popular brasileira. Ao emendar um sucesso atrás do outro uniu o calor do público ao reconhecimento da crítica. “Lilás” dá nome a um dos mais incensados álbuns de sua carreira fonográfica, lançado em 1984. A música tem o tradicional ritmo sonoro e verbal do artista, com ilusões indiretas e palavras soltas pelo ar. Porém, é impossível não apreender a ode às belezas naturais e o clamor a elementos como “pôr do sol”, “céu azul”, “nuvem”, “cor lilás”, “mar de raio”, “luz do amor”, todas ali presentes.
“Você Bem Sabe” (choro, 1989) – Nelson Motta e Djavan
“Esse não tem jeito, é o disco de ‘Oceano’, a canção perfeita em letra e melodia, onde a riqueza harmônica e a melodia assobiável fazem dela um clássico para especialistas e um sucesso popular eterno. E o disco tem muito mais, da sonoridade indígena de ‘Curumim’ a um sucesso como ‘Cigano’, além de uma surpresa, um primeiro choro composto por Djavan, moderníssimo, ‘Você Bem Sabe’, em parceria com Nelson Motta”. As palavras são do crítico musical Hugo Sukman, que elege o álbum de 1989 de Djavan como o favorito...
“Nem Um Dia” (MPB, 1995) – Djavan
A histórica classificação da seleção de Marrocos sobre a Espanha, nos pênaltis, em partida válida pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 2022, disputada no Catar, abre à lembrança o fato de que o país e a cultura árabe também já foram cantados em verso e prosa pelos compositores brasileiros, dentre eles Caetano Veloso, que citou nominalmente Marrakesh, histórica cidade marroquina, na letra de “Qualquer Coisa”, um de seus maiores sucessos, lançado em 1975. Já consagrado na música brasileira, o artista alagoano Djavan lançou, em 1995, a música “Nem Um Dia”, delicada peça de seu repertório, e que emula “toda riqueza dos sheiks árabes”. É outro sucesso!