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Pesquisas erram acima da margem de erro nas principais disputas estaduais; veja comparação

IPEC foi o instituto que mais errou nos levantamentos feitos antes da eleição; Datafolha também errou em estados-chave

Encerrada a contabilização dos votos no primeiro turno das eleições de 2022, vários resultados das urnas demonstraram uma grande diferença das estimativas feitas pelos principais institutos de pesquisa do país.

Na disputa nacional, os institutos erram acima da margem de erro as estimativas de voto do presidente Jair Bolsonaro (PL). Tanto IPEC quanto Datafolha apontaram que o presidente teria menos de 40% dos votos válidos, nas urnas ele teve 43%.

Em pelo menos 16 estados, os institutos IPEC ou Datafolha erram acima de suas próprias margens de erro em seus últimos levantamentos antes da votação, divulgados no dia 1º de outubro (véspera da eleição).

Em alguns casos, candidatos que apareciam em terceiro lugar nas pesquisas ficaram em primeiro ao final da contagem. Como em Mato Grosso do Sul, onde Capitão Contar (PRTB), terceiro colocado nas estimativas, apareceu na liderança da disputa que seguirá para o segundo turno.

O líder da pesquisa IPEC divulgada antes da eleição, o ex-governador André Puccinelli (MDB), que aparecia com 31% das intenções de voto, teve apenas 17,18% nas urnas e ficou de fora da segunda fase da disputa.

Em São Paulo e no Rio Grande do Sul, as divergências das estimativas de intenção de voto e o resultado final também chamaram atenção. O resultado ficou mais de 10 pontos percentuais diferente do que foi levantado pelo IPEC e pelo Datafolha.

Veja os principais erros dos institutos de pesquisa:

BRASIL

Resultado:

  • Lula - 48%

  • Bolsonaro - 43%

Datafolha

  • Lula - 50%

  • Bolsonaro - 36%

IPEC

  • Lula - 51%

  • Bolsonaro - 37%

ESTADOS

SÃO PAULO

GOVERNADOR

Resultado

  • Tarcísio de Freitas (Republicanos) - 42,32%

  • Fernando Haddad (PT) - 35,70%

Datafolha

  • Haddad - 39%

  • Tarcísio - 31%

IPEC

  • Haddad - 41%

  • Tarcísio - 31%

SENADO

Resultado

  • Astronauta Marcos Pontes (PL) - 49,68%

  • Marcio França (PSB) - 36,27%

Datafolha

  • Marcio França - 45%

  • Astronauta Marcos Pontes - 31%

IPEC

  • Marcio França - 43%

  • Astronauta Marcos Pontes - 31%

RIO GRANDE DO SUL

GOVERNADOR

Resultado

  • Onyx Lorenzoni (PL) - 37,50%

  • Eduardo Leite (PSDB) - 26,81%

IPEC

  • Eduardo Leite - 40%

  • Onyx Lorenzoni - 30%

SENADO

Resultado

  • Hamilton Mourão (Republicanos) - 44,11%

  • Olívio Dutra (PT) - 37,85%

IPEC

  • Olívio Dutra - 36%

  • Hamilton Mourão - 28%

PERNAMBUCO

GOVERNADOR

Resultado

Marília Arraes (SD) - 23,97%

Raquel Lyra (PSDB) - 20,58%

IPEC

Marília Arraes - 38%

Raquel Lyra - 17%

MINAS GERAIS

GOVERNADOR

Resultado

  • Romeu Zema (Novo) - 56,18%

  • Alexandre Kalil (PSD) - 35,08%

IPEC

  • Zema - 50%

  • Kalil - 42%

SENADO

Resultado

  • Cleitinho Azevedo (PSC) - 41,52%

  • Alexandre Silveira (PSD) - 35,79%

IPEC

  • Cleitinho Azevedo - 33%

  • Alexandre Silveira - 33%

RIO DE JANEIRO

GOVERNADOR

Resultado

  • Cláudio Castro (PL) - 58,67%

  • Marcelo Freixo (PSB) - 27,38%

Datafolha

  • Cláudio Castro - 44%

  • Marcelo Freixo - 35%

IPEC

  • Cláudio Castro - 47%

  • Marcelo Freixo - 28%

PARANÁ

GOVERNADOR

Resultado

  • Ratinho Júnior (PSD) - 69,64%

  • Requião (PT) - 26,23%

IPEC

  • Ratinho Júnior - 62%

  • Requião - 29%

SENADOR

Resultado

  • Sergio Moro (União) - 33,50%

  • Paulo Martins (PL) - 29,12%

  • Álvaro Dias (Pode) - 23,94%

IPEC

  • Álvaro Dias - 41%

  • Sergio Moro - 35%

  • Paulo Martins - 14%

DISTRITO FEDERAL

GOVERNADOR

Resultado

  • Ibaneis Rocha (MDB) - 50,30%

  • Leandro Grass (PV) - 26,25%

IPEC

  • Ibaneis Rocha - 46%

  • Leandro Grass - 20%

CEARÁ

GOVERNADOR

Resultado

  • Elmano de Freitas (PT) - 54,02%

  • Capitão Wagner (PL) - 31,72%

IPEC

  • Elmano de Freitas - 44%

  • Capitão Wagner - 37%

MATO GROSSO DO SUL

GOVERNADOR

Resultado

  • Capitão Contar (PRTB) - 26,71%

  • Eduardo Riedel (PSDB) - 25,16%

  • André Puccinelli (MDB ) - 17,18%

IPEC

  • André Puccinelli - 31%

  • Eduardo Riedel - 17%

  • Capitão Contar - 17%

BAHIA

GOVERNADOR

Resultado

  • Jerônimo (PT) - 49,45%

  • ACM Neto (União) - 40,80%

IPEC

  • ACM Neto - 51%

  • Jerônimo - 40%

Respostas

A reportagem da Itatiaia entrou em contato com as assessorias do IPEC e do Datafolha.

Em nota, o Ipec informou que adota os mais altos padrões nos métodos utilizados em suas pesquisas e que elas medem “a intenção de voto no momento em que são feitas”. O Instituto diz que os levantamentos mostram tendências, mas que não são capazes de “prever o número exato de votos que cada candidato terá".

A reportagem ainda aguarda posicionamento do Datafolha.

Confira a nota do Ipec, na íntegra:

O Ipec é associado à ABEP, segue o código de ética da ESOMAR e os mais altos padrões adotados internacionalmente nos métodos utilizados em suas pesquisas. Além disso, está empenhado e comprometido em sempre analisar, identificar e aplicar melhorias técnicas e metodológicas que contribuam para o avanço e a acuracidade do resultado de suas pesquisas, pois sabe que este processo é contínuo.

As pesquisas eleitorais medem a intenção de voto no momento em que são feitas. Quando feitas continuamente ao longo do processo eleitoral, são capazes de apontar tendências, mas não são prognósticos capazes de prever o número exato de votos que cada candidato terá.

Especificamente com relação a estas eleições presidenciais, nossa última pesquisa mostrou que não era possível afirmar se a eleição acabaria ou não no primeiro turno. Assim se confirmou. A pesquisa Ipec apontava Lula como o candidato que ficaria melhor posicionado no 1º turno. Isto também se confirmou. Já o presidente Jair Bolsonaro obteve 6 pontos a mais do que a pesquisa mostrava. Em nossa avaliação, isto ocorreu por tendências também já apontadas pela pesquisa: 3% que ainda estavam indecisos; Ciro Gomes, que na pesquisa aparecia com 5% e obteve 3% dos votos na apuração; além do índice de Simone Tebet que também ficou um ponto abaixo do que a pesquisa mostrava (obteve 4% na apuração vs. 5% na pesquisa).

Tais fatores já demonstravam uma provável migração de votos desses dois candidatos para Jair Bolsonaro. As estimativas de Branco, Nulos e outros candidatos ficaram em linha entre o TSE e a pesquisa.

Em relação às variações de resultados observadas nas pesquisas estaduais do 1º turno, o Ipec reforça seu compromisso de buscar soluções que eventualmente possam ser agregadas ou consideradas em conjunto com a sua metodologia e procedimentos operacionais. Contudo, este é um processo que requer tempo de estudo, análise e comprovação de hipóteses, para que possam ser implementados.

Por fim, o Ipec reafirma o firme compromisso de seguir realizando seu trabalho com a mesma correção, seriedade e dedicação, especialmente a partir dos dados de uma eleição onde a divisão do país representa uma maior dificuldade em se fazer estimativas.

Editor de Política. Formado em Comunicação Social pela PUC Minas e em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já escreveu para os jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
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