Ouvindo...

Um ano sem Marília Mendonça: o dia que virou saudade

Marília Mendonça morreu em 5 de novembro de 2021, quando o avião que a transportava caiu em Piedade de Caratinga (MG), perto do aeroporto onde pousaria

Marília Mendonça morreu aos 26 anos em novembro do ano passado

Trezentos e sessenta e cinco dias se passaram desde a morte de uma das artistas brasileiras mais imponentes da história: Marília Mendonça. A goiana, que nasceu na pequena cidade de Cristianópolis, morreu em um trágico acidente aéreo em Piedade de Caratinga, no Rio Doce, em 5 de novembro de 2021. O país chorou a morte da artista.

Naquele dia, por volta das 16h, começaram a circular imagens do avião, que decolou em Goiânia (GO), caído em uma cachoeira em Minas. Pouco depois, o nome de Marília foi mencionado como uma das possíveis tripulantes. A mesma aeronave foi vista em um vídeo postado por ela nas redes sociais, onde a artista comemorava mais uma vinda para o Estado.

A história de que Marília estava no avião chegou a ser desmentida, mas, algumas horas depois, foi confirmada pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros. Depois, surgiu o boato de que todos haviam sobrevivido. O tenente Fábio Fonseca, da PM, estava no Aeroporto Regional de Ubaporanga, a poucos quilômetros dali, aguardando a artista desembarcar. Ele viu o momento em que a aeronave despencou.

“Um senhor que trabalha no aeroporto viu a aeronave e falou: ‘bateu, vai cair, vai cair’. Quando a gente olhou para cima, a aeronave já estava perdendo a altitude. Um cheiro muito forte de combustível. Ela começou a rodar e caiu. Imediatamente nós pegamos a viatura e nos deslocamos, e a minha equipe foi a primeira a chegar no local”, contou à Itatiaia, que foi a Piedade de Caratinga nesta semana.

Testemunhas do acidente

Enquanto o tenente testemunhava, do aeroporto, a queda do avião, o empresário Aníbal Martins assistia a tudo de outro ângulo. Ele mora no condomínio onde fica a cachoeira em que o Beechcraft King Air prefixo PT-ONJ se chocou.

“Eu vi o momento em que ela caiu: algo em torno de uns três, quatro segundos após a colisão com o cabo da torre de transmissão. O avião desceu em uma linha reta, e no momento em que soltou o motor, acabou batendo em cima da rocha”, afirma.

“Eu fui a primeira pessoa a chegar porque estava a 150 metros dali. Esse dia eu não fui para a empresa, eu tinha ficado aqui no meu sítio acompanhando alguns trabalhos. Não fui ao lado da aeronave com medo da explosão. O vazamento de combustível era muito grande, o cheiro de querosene muito forte. Nesse momento, eu já havia ligado para o Corpo de Bombeiros, para o Samu e para a Polícia Militar para que eles pudessem prestar os primeiros socorros”, acrescenta Aníbal.

Para o empresário, se o motor não tivesse se soltado, o avião teria caído em uma pousada que fica perto da cachoeira. “Essa aeronave passou sobre três casas. Por sorte, ela não caiu sobre nenhuma delas. No local da queda, o motor se soltou, o que fez a aeronave entrar em estol (termo usado para indicar perda de sustentação) e ali ela caiu. Se esse motor não se desprendesse da fuselagem, essa aeronave teria caído sobre uma pousada que está 150 metros abaixo”, pondera. “A pousada estava cheia”.

Tentativa de resgate

A Polícia Militar foi a primeira corporação a chegar à cachoeira. O local era de difícil acesso, escorregadio e o bimotor não tinha estabilidade. “A prioridade naquele momento era tentar salvar as pessoas que estavam dentro do avião. Eles caíram em local de cachoeira, estava com um cheiro muito forte de querosene, com risco muito alto de explosão, de queda da aeronave e também havia perigos aos militares. Quando o Corpo de Bombeiros chegou, nós conseguimos cordas para amarrá-los para não correr o risco de alguém se machucar. Conseguimos um pé de cabra e tentamos arrombar a porta, que ficou emperrada com a queda”, detalha o tenente Fábio.

Ao abrir o bimotor, o tenente avistou três corpos. “A parte interna da aeronave estava toda destroçada. Recebemos o apoio de um médico do Samu. Nós o amarramos para não cair, ele foi até o interior e atestou os óbitos. Em um primeiro momento, a gente conseguia ver três pessoas, que eram os passageiros. O piloto e o copiloto estavam em outro compartimento. Somente depois conseguimos ver que, infelizmente, eles também estavam sem vida”.

Para resguardar os corpos e a cena do acidente, os militares precisaram ter muita cautela. Isso porque várias pessoas acompanhavam o momento do resgate, com aparelhos celulares, inclusive fazendo lives. “Os corpos foram retirados da cachoeira, colocados em macas e levados sem ser expostos graças ao trabalho intenso das equipes envolvidas. Grau de dificuldade muito grande, porque a aeronave estava instável, balançava muito no momento em que era feita a retirada das pessoas”, explicou.

Além de Marília, morreram no acidente o produtor da cantora Henrique Ribeiro, o tio dela, Abicieli Silveira Dias Filho, o piloto Geraldo Medeiros Júnior e o copiloto Tarciso Pessoa Viana.

Avião íntegro

Vizinhas, as cidades de Piedade de Caratinga, Ubaporanga contam com o Aeroporto Regional de Ubaporanga, que tem uma pista de 1 km de extensão por 30 metros de largura e atende a aeronaves de pequeno porte durante o dia.

Os moradores, que aguardavam a cantora para um show, logo tomaram conhecimento dos vídeos do avião de Marília Mendonça caído na cachoeira. Piloto em Caratinga, Luís Henrique de Araújo descreve que as imagens do avião íntegro trouxeram esperanças para o público de que os passageiros e a tripulação estivessem vivos; entretanto, para conhecedores de aviação, era nítido que havia algo de errado ali.

“No dia da queda, eu estava em casa quando começaram a surgir as notícias. Quando eu vi o avião na situação que ele estava, íntegro, e o local onde ele caiu, fiquei imaginando como que o piloto fez aquele pouso naquele lugar. Fiquei feliz também porque o pessoal tinha falado que ela já estava no hotel, né? Fui correndo para prestar alguma assistência por ser piloto mas, infelizmente, quando eu cheguei vi que um médico constatou as mortes e decidi ir embora. Eu fiquei muito triste com essa situação”, lamenta.

“Na mesma hora eu conversei com o pessoal da Cemig. Eles me disseram que realmente o avião tinha esbarrado no fio e, pelos meus conhecimentos, eu vi que em decorrência disso perdeu o controle e caiu naquele lugar”, detalha. Relatório da Força Aérea Brasileira mostra que uma linha de transmissão de energia foi atingida - até hoje, um ano depois da tragédia, o percurso da linha não é bem sinalizado com esferas em cores chamativas.

Luís explica qual seria o percurso que a aeronave que transportava a cantora e equipe faria naquele dia. “Ela chegou pelo setor Noroeste/Oeste aqui de Caratinga, e esse percurso já se enquadrava praticamente na perna do vento. A perna do vento é um segmento paralelo à pista de pouso. Nesse segmento, a gente já tem que estar com o avião configurado. O trem de pouso baixado, os flatos baixados, a velocidade do avião reduzida, o motor reduzido... Isto tudo para fazermos a curva base e ingressar na reta final para pouso. Só que em Caratinga, essa curva base conflita com um morro, justamente onde aconteceu o acidente dela”, esclarece.

Cidade preparada para receber Marília Mendonça

Marília se hospedaria em um hotel no bairro Rodoviários, em Caratinga. “A gente realizou todo o planejamento do hotel - tanto para receber a cantora quanto para receber a equipe e a todos em torno dela na cidade. A gente tinha preparado o quarto, montado toda a estrutura de segurança para recebê-la”, conta o empresário e ex-funcionário do hotel onde a cantora ficaria hospedada, Cristiano Ferreira.

“Inclusive, quando aconteceu o acidente, a equipe da banda dela já tinha chegado ao hotel, eles já estavam hospedados com a gente. A cantora ficou de vir de avião com algumas pessoas. A gente tinha uma expectativa muito grande pela movimentação na cidade, só se falava desse assunto, só se falava desse show”, recorda.

Investigações inconclusas

Até hoje as investigações da Aeronáutica e da Polícia Civil estão em curso. Em entrevista coletiva realizada nessa sexta-feira (4), a Polícia Civil não descartou falha humana como o elemento causador do acidente. “Se descartada qualquer falha de motores, a gente consegue caminhar para a conclusão de uma falha humana”, afirmou o delegado Ivan Lopes Sales, responsável pela investigação.

No entanto, o policial pondera que é necessário aguardar o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgar o laudo técnico. O órgão apenas confirma que a investigação está em andamento.

“A próxima etapa prevê a discussão sobre a minuta do relatório com os representantes acreditados dos países de fabricação da aeronave e dos motores. Concluídas as análises, serão emitidas as recomendações de segurança”, explicou o Cenipa em nota à reportagem.

As investigações do Cenipa não buscam ‘culpados’, mas entender a dinâmica dos eventos para evitar acidentes aéreos. As investigações “têm como objetivo prevenir que novos acidentes com características semelhantes e distintas ocorram, não buscando determinar culpa ou responsabilidade; e são concluídas no menor prazo possível, considerando-se o nível de complexidade de cada acidente”.

Formado em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Marcello atuou na assessoria de imprensa do Conselho Regional de Psicologia. Atualmente, é editor da equipe de redes sociais da Itatiaia. Atento às novidades, Marcello é um entusiasta das tecnologias e apaixonado por redes sociais.
Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.