Enviados especiais a Doha - “O difícil não é fazer mil gols como Pelé. É fazer um gol como Pelé”. Em parte, Neymar desafia a histórica frase do poeta maior Carlos Drummond de Andrade. E nesta sexta-feira (2), diante da Croácia, às 12h (de Brasília), no Education City, em confronto que vale vaga na semifinal da Copa de 2022, o camisa 10 de Tite tem a chance de superar uma das principais marcas do eterno Rei do Futebol, a de maior artilheiro da história da Seleção Brasileira, que já dura impressionantes 60 anos.
O tricampeonato mundial (1958, 1962 e 1970) em quatro Copas disputadas é o que mais vale. Mas em sua caminhada com a camisa amarela, em jogos oficiais, entre 6 de julho de 1957, quando estreou balançando a rede numa derrota de 2 a 1 para a Argentina, no Maracanã, ainda com 16 anos, e 17 de julho de 1971, quando fez sua 91ª e última partida oficial num empate por 2 a 2 com a Iugoslávia, também no Rio de Janeiro, Pelé ficou marcando também por ser o maior artilheiro da Seleção nas últimas seis décadas.
Sim, há 60 anos o eterno camisa 10, que vive momento complicado pela saúde debilitada, é o maior goleador da Seleção. Ele tomou esse posto de Ademir Menezes em 16 de maio de 1962, no último amistoso do Brasil antes do embarque para a disputa da Copa do Chile, de onde o time canarinho voltaria bicampeão do mundo, mas sem poder contar tanto com Pelé, que se machucou logo na segunda partida da fase de grupos.
Neste 16 de maio de 1962, o time comandado pelo técnico Aymoré Moreira fez 3 a 1 em País de Gales, no Pacaembu, em São Paulo, na despedida do Brasil antes do embarque para o Chile, e Pelé marcou duas vezes na reta final da partida, aos 36 e 38 minutos do segundo tempo.
Foram seu 32º e 33º gols com a camisa da Seleção respectivamente, e assim ele superou Ademir Menezes, até então maior goleador da equipe, que acumulou 31 bolas na rede pelo Brasil, sendo a última delas em 12 de março de 1953, quando disputou sua 38ª partida oficial.
Critérios
Hoje, Ademir Menezes, o homem que foi a referência de Pelé, embora naquela época as estatísticas não tivessem a força que possuem hoje no futebol, fecha a lista dos dez maiores goleadores da história da Seleção ao lado de Tostão, dependendo do critério, pois o Mineirinho de Ouro tem uma bola na rede contra a Seleção da Fifa em 1968, num amistoso que comemorou os dez anos do título mundial de 1958, que não entra na lista das partidas oficiais.
E o critério provoca uma discussão entre CBF e Fifa no que diz respeito aos gols de Pelé, e para a entidade máxima do futebol brasileiro, Neymar não está a uma bola na rede de igualar, e duas de superar o Rei como o maior goleador da Seleção, mas a 19 e 20 respectivamente.
Nas estatísticas da Fifa, ela considera apenas jogos entre seleções nacionais principais. Assim, partidas contra clubes, combinados regionais ou estaduais e partidas restritivas, como times olímpicos, por exemplo, não entram na contagem. Com esse critério mundial, Pelé tem 77 gols e Neymar, 76.
A CBF considera tudo. E Pelé tem 18 gols mais pela Seleção Principal em jogos contra clubes e combinados. Em 1960, por exemplo, o Malmo, da Suécia, e a Internazional, da Itália, levaram dois gols dele, cada, em amistosos. O Atlético de Madrid, da Espanha, foi vítima de um hat-trick, em 1966. Na reta final da preparação para a Copa de 1970, os mexicanos Guadalajara e León sofreram um e dois gols, respectivamente.
E tem mineiro nessa lista do Rei em jogos não-oficiais. Em 3 de setembro de 1969, o Atlético, vestindo o uniforme da Seleção Mineira, venceu o Brasil por 2 a 1, no Mineirão, no jogo seguinte à classificação canarinho para a Copa de 1970. E Pelé marcou o gol brasileiro. O confronto marcou o quarto aniversário do estádio e a inauguração de uma nova iluminação.
Para a Fifa, Neymar iguala Pelé com um gol diante dos croatas, e supera se balançar a rede deles duas vezes, se transformando no maior goleador da história da Seleção Brasileira. Para a CBF, ainda há um caminho a percorrer pelo atual camisa 10 da Seleção.