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Vendedora de chup-chup comemora onda de calor e chora ao lembrar trajetória

Moradora da Vila Santa Sofia, em BH, ganha a vida vendendo mais de 40 sabores do geladinho

Raquel ganha a vida vendendo chup-chup na região Oeste de BH

Raquel ganha a vida vendendo chup-chup na região Oeste de BH

Rômulo Ávila/Itatiaia

A vida da vendedora ambulante Raquel Gonçalves, de 48 anos, mudou completamente a partir de 2016, quando ela foi impedida pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) de vender café na manhã na porta da Upa Oeste, na avenida Barão Homem de Melo, em BH. Sem saber o que fazer, ela conta que chegou a trabalhar com carteira assinada, mas foi demitida pouco depois e decidiu produzir e vender chup-chup, conhecido também como sacolé e geladinho.

“A Prefeitura de BH determinou que a guarda me retirasse do local e tive que assinar um termo. ‘Pensei: meu Deus, o que faço agora?’. Trabalhei um tempo fichada, depois me mandaram embora. Tive a ideia de pedir direção a Deus para ver com o que eu iria mexer”, lembra.

Em janeiro de 2022, Raquel decidiu pelo chup-chup e não parou mais. Hoje oferece 43 sabores, que vende em diferentes pontos da região Oeste de BH, como na avenida Barão Homem de Melo. A trabalhadora chora ao lembrar a trajetória.

Tem tido boa aceitação. É um serviço gratificante? Sim. Retorno financeiro é bom? Sim. Mais que isso é o reconhecimento e a gratidão dos clientes. O mais gratificante é estar junto das pessoas”.

Raquel sai de casa na Vila Santa Sofia, região Oeste da capital, de segunda a sexta, com cerca de 90 unidades de chup-chup. A unidade varia entre R$ 4,50 e R$ 6, e dificilmente volta para a casa com algum sobrando na caixa. Entre os 40 sabores, estão tablito, bombom, ferrero rocher, nozes, castanha, maracujá com nutella, abacaxi com coco, limão, goiaba, prestígio, ninho com nuttela, laranja com morango, açaí, tapioca, flocos e pudim.

“Não estudei, mas sempre me interessei por gastronomia. É uma área que gosto muito. Deus me deu o dom, o talento, a sabedoria e hoje faço meu chup-chup. Humildemente falando, faço com excelência e dou o melhor de mim para servir os clientes um produto de qualidade e saboroso. Glória a Deus pelo retorno dos clientes, que me impulsiona cada vez mais. Amo muito o que eu faço. E faço com dedicação”.

‘Da hora’

Raquel conquistou clientes fieis ao logo do tempo e segue recebendo elogios. O motoboy Gabriel William, 23 anos, provou pela primeira vez. Ele escolheu o sabor de nutella com maracujá. Para não ser clichê, dou nota 9,5, mas é 10. A nutella está da hora e o maracujá corta um pouco o doce. O melhor que já tomei”, garante.

Onda de calor

Raquel conta que as ondas de calor recentes turbinaram as vendas, mas ressalta. “Deus é tão bom que na época de chuva eu vendo também. É claro que não é a mesma quantidade de quando o tempo está quente, mas vendo de 30 a 40 por dia”, explica.

Belo Horizonte pode registrar, neste sábado (18), o dia mais quente da história. Conforme previsão da Defesa Civil, os termômetros podem marcar 39 °C. Até hoje, 25 de setembro deste ano bateu o recorde desde o início das medições de temperatura, em 1961: 38,6 °C.

Informalidade

Raquel faz parte de um universo de milhões de pessoas que ganham a vida por conta próprio. O Brasil registrou taxa de informalidade de 39,1% no mercado de trabalho no trimestre até agosto deste ano, com 38,933 milhões de pessoas na informalidade no período. Os dados estão na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE).

Em um trimestre, mais 613 mil pessoas passaram a atuar como trabalhadores informais.

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.
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