No início da semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a varíola dos macacos como emergência de saúde pública de interesse internacional. No Brasil, são 978 casos, sendo 744 apenas em São Paulo. Minas Gerais segue com 44 casos confirmados de varíola dos macacos, no entanto o número pode aumentar, já que a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) investiga 83 possíveis casos.
Nessa quinta (28), o Brasil confirmou os primeiros casos de varíola dos macacos em crianças. Os casos foram diagnosticados em três crianças, todos em São Paulo. Em Minas, de acordo com a SES-MG, não há casos nessa faixa etária. Os confirmados são todos do sexo masculino, com idades entre 22 e 48 anos, em boas condições clínicas.
Considerando a importância da informação para combater o avanço do surto, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou, nessa quinta-feira (28), um encontro onde especialistas.
O médico Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e consultor do Ministério da Saúdo disse que já existem muitos estudos sobre a monkeypox, é uma situação diferente da covid-19, que surgiu como uma doença nova. No entanto, alerta que o sucesso no combate ao surto dependerá do compromisso do poder público.
Causas A monkeypox é causada por um poxvírus do subgrupo orthopoxvírus, assim como ocorre por outras doenças como a vaccinia, a cowpox e a varíola humana, erradicada em 1980 com o auxílio da vacinação. O quadro endêmico no continente africano se deve a duas cepas distintas.
Uma delas, considerada mais perigosa por ter uma taxa de letalidade de até 10%, está presente na região da Bacia do Congo. A outra, com uma taxa de letalidade de 1% a 3%, encontra-se na África Ocidental e é a que deu origem ao surto atual.
Transmissão A varíola dos macacos foi descrita pela primeira vez em humanos em 1958. Na época, também se observava o acometimento de macacos, que morriam. Vem daí o nome da doença. No entanto, no ciclo de transmissão, eles são vítimas como os humanos. Na natureza, roedores silvestres representam o reservatório animal do vírus.
Clarissa Damaso, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da UFRJ e assessora da OMS. afirma que, sem um reservatório animal, a transmissão no mundo vem ocorrendo de pessoa para pessoa.
A infecção surge a partir das feridas, fluidos corporais e gotículas do doente. Isso pode ocorrer mediante contato próximo e prolongado sem proteção respiratória, contato com objetos contaminados ou contato com a pele, inclusive sexual.
O tempo de incubação do vírus varia de 5 a 21 dias.
Prevenção Os especialistas alertam para a importância de se evitar contato com as pessoas que integram os grupos de risco. Eles também observaram que o uso de preservativo não previne a infecção, já que o intenso contato e a troca de fluidos corporais durante o ato sexual oferece diversas oportunidades para a transmissão do vírus.
Por outro lado, há indícios de que as pessoas vacinadas contra a varíola humana tenham proteção contra a monkeypox.
Com a erradicação da varíola, a vacinação foi suspensa em todo o mundo por volta de 1980. No Brasil, campanhas mais robustas ocorreram até 1975, mas até 1979 o imunizante era aplicado nos postos de saúde. Os indícios apontam que quem nasceu antes dessa data e foi vacinado está protegido contra a monkeypox. A média de idade dos contaminados está abaixo dos 38 anos.
Perfil Homens com menos de 40 anos representam a grande maioria dos infectados. Estudos no Reino Unido constataram que muitas vítimas se declaram homossexuais ou bissexuais.
Os especialistas, no entanto, alertam que a varíola dos macacos pode acometer qualquer pessoa e não apenas aquelas do sexo masculino com vida sexual ativa. Mulheres e adolescentes já foram diagnosticados com a doença pelo Laboratório Molecular de Virologia da UFRJ.
Segundo o médico Amilcar Tanuri, a desinformação pode deixar a sociedade despreparada para lidar com o surto. “Isso nos remonta à história da AIDS e do HIV. No começo, ficou um estigma que só atrapalhou a prevenção da doença. Isso ocorre porque quando o vírus entra por um grupo inicial leva um tempo até se disseminar para outros grupos. Com o HIV começou assim. Depois se percebeu que os hemofílicos estavam com HIV, que as crianças nasciam com HIV. Não existe nenhuma evidência biológica de que o vírus da varíola dos macacos seja específico para um sexo. Aliás, não sei que vírus tem essa especificidade”, disse.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG)
1) Quais os principais sintomas?
SES-MG: Em relação aos sintomas, informamos que incluem erupções cutâneas de surgimento agudo, febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, adenomegalia (aumento dos linfonodos do pescoço), calafrios e exaustão.
A erupção geralmente se desenvolve pelo rosto e depois se espalha para outras partes do corpo, incluindo os órgãos genitais.
A evolução geralmente é benigna sem necessidade de internação, mas o isolamento é essencial durante o período de aparecimento das lesões de pele.
2) Qual o período de quarentena?
SES-MG: Sendo confirmado para Monkeypox, o isolamento domiciliar do indivíduo, só deverá ser encerrado após o desaparecimento completo das lesões.
Como é feito o tratamento dos pacientes em Minas Gerais e em Belo Horizonte?
3) SES-MG: O tratamento da Monkeypox é baseado em medidas de suporte com o objetivo de aliviar sintomas (dor e prurido), prevenir e tratar possíveis complicações (como a infecção bacteriana secundária das lesões). A grande parte dos casos, entretanto, apresentam boa evolução, sem gravidade.
O paciente deve ser acompanhado em relação a sinais e sintomas de complicações, devendo ser referenciado, quando necessário, a atendimento especializado, atentando-se às seguintes complicações:
1) cutâneas (infecções secundárias, lesões cutâneas permanentes, perda de fluidos, lesões dolorosas em mucosas);
2) oculares (infecções secundárias, redução da acuidade visual, úlceras na córnea, cegueira); pulmonares (broncopneumonia, insuficiência respiratória);
3) nutricionais (as lesões cutâneas podem levar a considerável perda de fluido. Já as lesões em mucosa oral podem levar a dificuldade para alimentação e hidratação).
(Com informações de Agência Brasil)