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Com técnica e gestão, limão da Jaíba ganha o mundo

Agricultores familiares do Norte de Minas entregam à União Europeia, por ano, de 120 a 150 containers de limão com 24 toneladas cada

Rozanio de Sá é um dos fruticultores que exporta limão para a União Europeia

Morador de Jaíba, Norte do estado, Delvani Nogueira da Silva, com mais de 25 anos de experiência como produtor rural, decidiu apostar na produção de limões. O projeto de irrigação - mais conhecido como Projeto Jaíba, a maior iniciativa de agricultura irrigada da América Latina - foi o que mais o incentivou, associado a um programa de assistência técnica oferecido pelo Sistema Faemg Senar, denominado ATeG (Assistência Técnica e Gerencial).

Mas o caminho não foi fácil. Nos primeiros anos, Delvani quase desistiu por não conseguir bons resultados. “Cheguei a parar o plantio por um tempo, derrubei os pés da fruta, retomando só em 2016, quando me associei aos demais produtores, visando os mercados interno e externo”, lembra.

Uma importante chave dessa transformação foram as capacitações técnicas. O produtor foi um dos primeiros alunos do programa ATeG. Delvani produz hoje, em média, 25 toneladas por hectare/ano de produtividade, um salto de cerca de 6 toneladas por hectare.

“No curso, percebi que estava cometendo alguns erros de manejo e eram eles que estavam me impedindo de atingir um alto nível de produção. Os frutos não rendiam, não ficavam bons para colheita na época certa. Com o apoio dos técnicos, dei um salto. Entendi que, para sobreviver na atividade e obter lucro, é preciso ser o mais profissional possível. Não dá para arriscar perder as plantas porque cada uma vai demorar vários meses para voltar ao ciclo produtivo novamente”, disse.

Outro produtor de limão, beneficiado pelo projeto Jaíba e pela assistência técnica é Rozanio Cardosino de Sá. Em 2022, ele foi, inclusive, homenageado como “produtor Destaque”, pelo Sistema Faemg, com direito a placa entregue pelo governador Romeu Zema). Rozanio relata aumento da eficiência nos tratos culturais e melhoria da gestão com acompanhamento detalhado dos custos de produção, o que possibilitou aumento de cerca de 10% na exportação das frutas. “Antes, a gente exportava só 25% da produção, hoje exportamos para a União Europeia cerca de 35%. A produtividade saltou de 20 ton/hectare para 26 ton/hectare e a fruta é comercializada por um valor três vezes maior do que para o mercado interno”, relata Rozanio, acrescentando que, graças à irrigação, é possível produzir limão o ano todo.

Exportações começaram em 2010

A ligação do limão de Jaíba, do tipo Tahiti, com a exportação, começou por volta de 2010, com as primeiras iniciativas de levar o fruto para a participação em feiras na Europa. Desde então, a cadeia produtiva foi se adaptando às exigências do novo mercado, buscando certificações de qualidade e tornando os empreendimentos mais profissionais. Somente entre as regiões de Jaíba e Matias Cardoso há hoje mais de dois mil hectares de áreas plantadas de limoeiros.

Rodadas de Negócios AgroBR

São cerca de 35 produtores da Associação dos Produtores de Limão (Aslim) e da Associação União dos Fruticultores do Jaíba e Região (Afrutja), que entregam ao mercado externo, por ano, de 120 a 150 containers com 24 toneladas cada. Nos últimos meses o grupo tem participado de rodadas de negócios do Programa AgroBR, através da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA, e se orientado ainda mais para as exportações.

“Com volume regular de limão certificado, e com maior grau de profissionalismo, passamos a ter maior entrada no mercado. Hoje, temos produtores mais antigos no grupo que saíram de um histórico de exploração, para essa estratégia de mercado internacional”, comenta Marlon José Meira, produtor que atua como oficial fairtrade das entidades.

A União Europeia é o principal destino comercial, mas é preciso que os produtores passem a também dinamizar o produto a ser ofertado para manter a competitividade. Segundo o consultor do Programa AgroBR para Minas, Paulo Március, o produto in natura do limão, desde o processo até a venda, tem perda de até 1/3, o que pode ter impacto nas contas finais do produtor rural.

“O que queremos é que a Jaíba seja também um centro de processamento de frutas e não só de produção. Do limão não se faz só a limonada. Existe mercado para produtos beneficiados, para a indústria farmacêutica, indústria de cosméticos, além de vários outros tipos de produtos que podem ser feitos. Este salto é importante para abastecer tanto o mercado interno e o excedente a ser exportado, agregando valor e trabalhando o conceito de cadeia produtiva”, disse Paulo Március.

Projeto Jaíba - Saiba Mais

O projeto Jaíba viabilizado com recursos dos governos estadual e federal abrange terras de cerca de 300 mil hectares, localizadas entre a margem direita do Rio São Francisco e a esquerda do Rio Verde Grande, nos municípios de Matias Cardoso e Jaíba.

A página da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento para os Vales do São Francisco e Parnaíba) - gestora do projeto - informa que os objetivos da iniciativa são: assegurar o assentamento de pequenos produtores e agricultores reestruturar e revitalizar os processos produtivos e promover o desenvolvimento sustentável da agricultura no norte do estado.

(*) Colaborou Ricardo Guimarães, jornalista do Sistema Faemg Senar.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.