Consenso em jogo; indústria e trabalhadores definem futuro do setor

Etapa nacional da II Conferência Nacional do Trabalho será realizada em março de 2026, em São Paulo, com apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT); empresários de Minas Gerais levam pauta sobre escassez de mão de obra e qualificação após encerramento dos encontros estaduais em dezembro

Produtividade e trabalho decente; o desafio da indústria de Minas

O Brasil encerrou, na primeira quinzena de dezembro, uma maratona de debates decisivos para o futuro das relações laborais. Entre 15 de setembro e 12 de dezembro de 2025, foram realizadas as etapas estaduais e distrital da II Conferência Nacional do Trabalho (II CNT), cobrindo todas as unidades da Federação.

O movimento pavimenta o caminho para o encontro nacional, marcado para março de 2026, em São Paulo. Para o pequeno e médio industrial de Minas Gerais, a mobilização transcende o protocolo burocrático: trata-se da construção do Plano Nacional de Trabalho Decente, desenhado para equilibrar desenvolvimento econômico e proteção social.

A conferência se distingue pelo caráter tripartite, um modelo defendido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que coloca representantes do governo, dos trabalhadores (via centrais sindicais) e dos empregadores (via confederações patronais) em pé de igualdade. Cada bancada possui o mesmo número de delegados e direito a voz, assegurando que nenhuma visão prevaleça unilateralmente sobre a outra.

O poder do consenso na indústria

Para o empresário mineiro, acostumado a enfrentar incertezas regulatórias, o formato da II CNT oferece uma salvaguarda importante: as deliberações não são impositivas, mas fruto de consenso e negociação. O objetivo é criar políticas públicas com legitimidade prática, que aproximem as regras da realidade do chão de fábrica.

Esse mecanismo de diálogo social é vital para enfrentar o paradoxo atual da indústria de Minas Gerais. O estado, onde o setor responde por 34,3% do Valor Adicionado (VA) da economia , vive um cenário de quase pleno emprego, com taxa de desocupação de apenas 4% no segundo trimestre de 2025. Se por um lado a economia gira, por outro, o industrial enfrenta um apagão de mão de obra.

Qualificação e informalidade na mesa de negociação

A escassez de profissionais é agravada pelo déficit educacional: 43% da população residente no estado possui apenas ensino fundamental completo ou médio incompleto. Na prática, sobram vagas que exigem competência técnica e faltam trabalhadores aptos a preenchê-las. Esse gargalo produtivo é um dos temas que as delegações de empregadores levam para a etapa nacional, buscando incentivos para a qualificação sem onerar ainda mais a folha de pagamentos.

Outro ponto de tensão é a concorrência desleal. Apesar da força da indústria, a informalidade ainda atinge 36,5% da força de trabalho em Minas. São mais de 4 milhões de pessoas atuando à margem das obrigações fiscais e trabalhistas, pressionando os preços e a competitividade de quem empreende dentro da lei.

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Rumo a São Paulo

A organização do evento, a cargo da Comissão Organizadora Nacional (CON) e das comissões estaduais (COE), manteve a paridade em todas as fases. Com o apoio técnico da OIT, que acompanhou a implementação da metodologia nas 27 unidades federativas, o Brasil chega a 2026 com um diagnóstico robusto.

Para o industrial de Minas Gerais, a II Conferência Nacional do Trabalho não é apenas um evento sobre direitos, mas sobre a sustentabilidade do negócio. Em março, em São Paulo, o desafio será transformar o consenso tripartite em alavanca para a produtividade, garantindo que o “trabalho decente” seja sinônimo de uma indústria forte, segura e competitiva.

Amanda Alves é graduada, especialista e mestre em artes visuais pela UEMG e atua como consultora na área. Atualmente, cursa Jornalismo e escreve sobre Cultura e Indústria no portal da Itatiaia. Apaixonada por cultura pop, fotografia e cinema, Amanda é mãe do Joaquim.

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