O mercado financeiro volta suas atenções para as reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro (Copom-BC) e do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (10). As autoridades monetárias vão definir a taxa básica de juros de seus países, em uma decisão que é tão importante para as economias que a data foi chamada de “superquarta”.
A nomenclatura é usada sempre no dia em que o resultado da reunião do Copom coincide com a decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), do Federal Reserve. Em 2025, as agendas das autoridades monetárias coincidiram em todas as reuniões, com exceção da penúltima, no dia 29 de outubro nos EUA e 5 de novembro no Brasil.
Na parte do Banco Central brasileiro, é quase certo que a Selic deve ser mantida em 15% ao ano, uma vez que é a estratégia adotada pela autoridade monetária para conter a alta da inflação. Atualmente o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo está acumulado em 4,68%, acima da meta de 3%.
Segundo o gestor de renda fixa do Inter Asset, a expectativa é de que o comunicado do Copom reconheça os avanços no combate à inflação, mas tratá-los como “dentro do esperado”, de acordo com o alto grau do aperto monetário. O especialista avalia que as declarações dos diretores do BC seguem transmitindo cautela e não sinalizam um corte de juros.
“A queda das expectativas de inflação do Focus (pesquisa com economistas do mercado), especialmente nos prazos mais longos, é positiva, mas indica apenas uma reancoragem parcial. Assim, o BC deve manter no comunicado a estratégia de juros elevados por um período prolongado”, disse.
Ele também ressalta que o BC sinaliza estar satisfeito com a atual política monetária, e ainda busca avanços adicionais antes de iniciar o afrouxamento da Selic. “Dado o histórico mais conservador da atual diretoria, o cenário mais provável é de início do ciclo de corte em março de 2026. Além disso, o ano eleitoral traz incertezas adicionais sobre o comportamento do câmbio e das projeções de mercado”, destacou Ian Lima.
Federal Reserve deve cortar juros
No lado americano, o Federal Reserve deve realizar uma redução de 0,25 ponto percentual em continuidade com o ciclo de cortes iniciado em setembro, mas em um cenário mais incerto que o brasileiro. Com a decisão, a autoridade monetária deve levar o intervalo dos juros para entre 3,5% e 3,75%. Os diretores seguem observando os sinais do mercado de trabalho frente a uma inflação acumulada de 2,8%.
Nesta terça-feira foi divulgada a pesquisa Jolts, mostrando um aumento modesto nas vagas de outubro em 7,6 milhões, acima da expectativa de 7,1 milhões, enquanto as contratações ainda permaneceram fracas. Segundo o analista de inteligência de mercado da StoneX, Leonel Mattos, os dados indicam um cenário benigno.
“O dado sugere que a demanda por trabalho segue resiliente, reduzindo a percepção de urgência para cortes de juros pelo Federal Reserve, o que favoreceu a valorização do dólar frente ao real na sessão”, explicou.
O dólar fechou o dia com uma alta de 0,3%, cotado em R$ 5,43. O dólar index (DXY), que mede a força da moeda americana frente às principais divisas do mercado global subiu 0,13%, aos 99,213 pontos.
Por que os juros nos EUA importam para o Brasil?
Como os Estados Unidos são a economia mais estável do mundo, seu mercado trabalha como se alimentasse outras economias com o seu dinheiro. Uma taxa de juros alta nos EUA torna os títulos do tesouro americano o melhor investimento, por terem praticamente risco zero. Isso faz com que os investidores retirem dinheiro do Brasil e apliquem no exterior.
Segundo o economista sênior do Banco Inter, André Valério, esse diferencial nos juros é um dos principais determinantes da taxa de câmbio. “Atualmente, temos um diferencial elevadíssimo. Quanto maior essa diferença, menor pressão de depreciação cambial nós temos. E isso é importante pois um câmbio depreciado tende a gerar repasse inflacionário, aumentando os preços dos bens em reais”, disse.