Ouvindo...

Taxação

Grandes homens podem muito, mas não podem tudo

Padre Samuel Fidelis

Há uma ambiguidade nas relações de poder. O poder anda de mãos dadas com a impotência. Isso porque qualquer um que já tenha assumido uma função ou uma cargo sabe que, por mais que se possa muito, “quem manda” pode sempre menos do que pensaria; não se pode tudo... Laçando mão de uma metáfora, pensando no poder como “expansão”: na medida em que se aumenta o volume de um terreno, de um território, de uma ilha, há sempre mais problemas com os vizinhos, são maiores as fronteiras para se vigiar, cresce o contato com a imensidão do oceano.

O poder é uma droga - diríamos - até pior do que entorpecentes e do que sexo. Se bem que Óscar Wilde (talvez “concordando” com Freud) dizia que: “tudo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder”...

Há uma ambiguidade na sede pelo poder. Via de regra, ainda que no “condomínio”, queremos mandar e reger, sob a profecia de que o poder traz consigo realização e glória. Terminamos vítimas do crime premeditado, da tragédia anunciada que atinge a vida de quem exerce poder. “Quem vê close, não vê corre!”.

Em tempos difíceis e de incertezas, nos quais respostas “prontas” para os dramas da existência humana fogem - junto com a esperança - do coração dos homens, ficamos a mercê de líderes amaldiçoados pelo poder. A causa disso? O que lembrava o “filósofo”, Clô: “homens que nada são, sempre querem mandar nos outros”. É precisamente nisso que reside o enlace, a cilada: países, vidas, histórias marcadas por insuficiência, por crise, por traumas, estão sempre a um passo do delírio causado pela sede de poder. Carestias são terreno fértil para devaneios autoritários.

Esses tempos são os nossos... Estamos reféns da fantasia de retorno à grandeza, da sandice dissimuladora das próprias impotências, da fixação de quem se deslumbra com o que já pôde fazer um dia. Estamos entre “taxas e beijos”. A gente já sabe, - ou pelos menos devia - que, em maior ou menor grau, na briga entre elefantes (ou seria jabutis?), quem sofre é a grama...

Grandes homens podem muito, mas não podem tudo. É preciso calibrar o sistema de freios e de contrapesos: na vida, na política, na língua... Antes, o mercado mudava do avesso só de Greenspan (ex-presidente do Fed, Banco Central Norte-Americano) torcer o nariz. Agora, mais do que nunca, coceiras e “cacoetes” presidenciais têm bagunçando a vida de todo mundo.

Já perdeu a graça, já passou de ser uma questão ideológica. Fomos além dos limites do tolerável, do ressentimento “razoável”, do revanchismo, do absurdo! O preço do que começou com “blusinhas”, com impostos e taxas ficou caro demais!

Bom... Talvez, até para alguma coisa isso sirva... Já que a parte mais sensível do corpo humano costuma ser o bolso, talvez o povo agora acorde e veja: não há “X” que dê conta de tantos desatinos; peixe morre é pela boca; está mais do que claro, agora, que o negócio de família acima de tudo nunca foi sobre a nossa...

Parafraseando os filósofos céticos, até Deus, que pode tudo, nunca poderia fazer para si mesmo uma pedra que Ele mesmo não pudesse carregar. Há limites saudáveis, razoáveis, desejáveis em todo poder!

Bom... A oração pode muito! Roguemos a Deus, em Seu poder, que nos proteja dos destinos desses homens “poderosos”. Que Deus mostre Sua benevolência nos livrando dessas sandices econômicas e políticas. Que Ele tenha misericórdia de nós...

Pró-reitor de comunicação do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. Ordenado sacerdote em 14 de agosto de 2021, exerceu ministério no Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu, em Belo Horizonte.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.