Temos visto um avanço significativo de legitimação das dores femininas, com aumento da mobilização e conscientização das nossas causas, dentre elas, a realidade das mulheres no mercado de trabalho. Como exemplo, em 2023, tivemos a promulgação da Lei n. 14.611/2023, para trazer a obrigatoriedade da igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre homens e mulheres para a realização de trabalho de igual valor ou no exercício da mesma função.
Essa legislação traz um sinal claro de que a sociedade começa a reconhecer e tentar corrigir as disparidades históricas e estruturais que ainda marcam a vida de milhões de mulheres. Sem dúvidas, um passo fundamental para a justiça e equidade no ambiente profissional brasileiro.
No mesmo ano, a conquista do Prêmio Nobel de Economia pela economista Claudia Goldin, em 2023, também representa um símbolo poderoso desse momento. Professora de Harvard e a primeira mulher da história a ganhar o prêmio, em razão do seu livro Career and Family, reflexo das suas pesquisas sobre o equilíbrio entre carreira e responsabilidades familiares, Goldin trouxe à tona uma realidade que a maioria das mulheres conhece bem: a exigência de se desdobrar para equilibrar o sucesso profissional e a vida pessoal, muitas vezes à custa de sacrifícios que não são igualmente exigidos de seus colegas homens. Seu trabalho é um lembrete de que a busca pela equidade de gênero vai além do salário; trata-se de construir uma sociedade onde as mulheres possam ser bem-sucedidas em todas as esferas sem serem penalizadas por isso.
As mulheres têm investido cada vez mais em educação e qualificação. No entanto, as diferenças salariais e a falta de flexibilidade no trabalho continuam sendo grandes obstáculos. A questão central não é apenas o volume de trabalho, mas o fato de que a cultura corporativa ainda valoriza a disponibilidade total, premiando aqueles que podem responder a demandas imprevisíveis e estendidas. Esse modelo é excludente para muitas mulheres, que frequentemente se dividem entre suas carreiras e os cuidados familiares.
Ainda que leis e reconhecimentos internacionais sejam passos importantes, o caminho para a verdadeira igualdade é longo e cheio de desafios. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável n. 5 da ONU, que visa alcançar a igualdade de gênero até 2030, ressalta a necessidade de um esforço global e coordenado. Não basta apenas criar leis ou premiar trabalhos acadêmicos; é preciso mudar a cultura das empresas, das famílias e da sociedade em geral, para que as mulheres possam alcançar o seu pleno potencial sem serem limitadas por preconceitos ou estereótipos.
Em muitas corporações, o preconceito de gênero ainda está enraizado em práticas cotidianas e em vieses inconscientes que restringem o acesso das mulheres a posições de liderança e às oportunidades de crescimento profissional. Isso sem falar na dupla jornada que muitas enfrentam ao equilibrar o trabalho remunerado com as responsabilidades domésticas e de cuidado. Assim, garantir a igualdade de oportunidades, desde o início da carreira, exige não só políticas de inclusão, que encorajem a equidade, mas também um ambiente que valorize a diversidade na liderança e permita às mulheres conciliar suas ambições profissionais com uma vida pessoal saudável.
Como sociedade, somos todos responsáveis. O caminho para a equidade depende de ações concretas e de um compromisso coletivo com o respeito e a valorização das mulheres no ambiente de trabalho. Precisamos de mais lideranças femininas em todos os setores e de homens aliados, que entendam que a equidade de gênero não é uma ameaça, mas uma oportunidade para construir uma sociedade mais justa e produtiva.
A luta pela igualdade de gênero é uma questão de justiça social e responsabilidade coletiva. Enquanto não houver igualdade, é nossa obrigação continuarmos a promover a mudança. Somos responsáveis uns pelos outros. E umas pelas outras. Somos protagonistas. E, sobretudo, somos mais fortes porque temos umas às outras.