O técnico português Paulo Bento comandou a seleção da Coreia do Sul na recente Copa do Mundo do Catar e, às vésperas da partida diante do Brasil, pelas quartas-de-final da competição, o ex-treinador com passagem pelo Cruzeiro se posicionou sobre a “invasão” de técnicos do seu país no futebol brasileiro, que vem acontecendo nos últimos anos.
Sem fugir do seu estilo, Paulo Bento alfinetou a “moda” dos clubes do país ao afirmar que o importante é saber a competência de quem vai ocupar o cargo. Acrescentou dizendo que não é porque um treinador português teve sucesso que se deve procurar outro.
Além disso, ponderou que os treinadores portugueses são competentes e sabem o que querem. E deixou uma pergunta importante no ar: quem contrata, sabe?
Respondo, com clareza, que não.
O ponto central da fala do Paulo Bento tem fundamento, embasamento e, principalmente, leva à reflexão. Você pode ter ressalvas quando ao estilo dele, não gostar do seu trabalho (especialmente os torcedores do Cruzeiro), mas ele tem razão.
O futebol brasileiro adora criar modinhas. Foi assim com jogadores e treinadores sul-americanos. Na temporada passada, nove dos 20 times que disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro foram dirigidos por técnicos estrangeiros.
Na Série B, tivemos o campeão Cruzeiro com o uruguaio Paulo Pezzolano.
E justamente o país de Paulo Bento foi o campeão de treinadores em terras brasileiras, com cinco deles: Vítor Pereira no Corinthians, Abel Ferreira no Palmeiras, Luís Castro no Botafogo, Paulo Sousa no Flamengo e António Oliveira no Cuiabá.
Seguido pela Argentina com três treinadores: Antonio Mohamed no Atlético, Fabián Bustos no Santos e Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza. A eles, soma-se o paraguaio Gustavo Morínigo.
Essa onda lusitana aumentou este ano, já que Bahia, Bragantino e Cuiabá contrataram Renato Paiva, Pedro Caixinha e Ivo Vieira, respectivamente.
Mas onde está a preocupação apontada por Paulo Bento?
Está na revelação de que enfrentamos uma tremenda defasagem entre os nossos treinadores e a turma lá de fora. É claro que temos profissionais qualificados, com pensamentos modernos, futebol dinâmico, mas que não conseguem emplacar. A geração dos treinadores que outrora mandavam e desmandavam no futebol brasileiro está ficando para trás.
A primeira questão da chegada dos portugueses é a língua, o que facilita demais a compreensão dos jogadores. A segunda é que Portugal, através da Federação de Futebol, investiu pesado na qualificação de seus treinadores por meio de cursos e criação de licenças para atuar nas diferentes divisões do país.
Não há nenhum problema em contratar treinadores estrangeiros. O problema está nos critérios para essa contratação, e aí entra o que disse Paulo Bento.
Se você tem em mente muito claro o que deseja, qual a forma de jogar que já exista em seu clube ou queira implementar, é o caminho certo e as chances do trabalho vingar e de dar frutos é muito grande.
Mas, se for por modinha, pelo fato de que deu certo em time A ou B e “pode” dar certo em sua equipe, a chance de dar errado também é muito grande. Exemplos não faltam.
Para ter o que quer, é preciso saber o que quer ser. E, nisso, o Paulo Bento tem razão...