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Nivio Ziviani e Rachel Horta: conheça dois mineiros que são referências mundiais no setor de tecnologia

Eles já tiveram empresas compradas pelo Google e iFood

Conhecido no setor da tecnologia por ter vendido uma empresa para o Google, o professor emérito da UFMG, Nivio Ziviani, é uma das figuras mais emblemáticas da inovação em Minas Gerais. E não apenas por ser um gênio da ciência da computação, mas principalmente por ter investido sua vida em uma missão: gerar riqueza para Minas Gerais e para o Brasil. É sobre isso que ele fala com orgulho quando conta a história das startups que criou e como continua com afinco trabalhando pela produção de conhecimento científico e pela transformação dele em inovação prática.

Convidado a palestrar no 1º Minas Summit, encontro de inovação realizado pela FCJ Venture Builder e o Órbi Conecta, no dia 30 de junho, no Minascentro (BH), o professor iniciou sua participação com uma pergunta: “Por que é importante mobilizar conhecimento na universidade?”. A resposta veio em seguida: “para a geração de riqueza”. Ele citou grandes universidades no exterior, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT), que geram receita na casa dos trilhões de dólares por meio de suas startups. Também lembrou que a produção científica atrelada à geração de negócios abre as portas para investidores no mundo todo.

Foi assim com a Akwan Information Technologies, a empresa criada por Nivio e pelo professor Berthier Ribeiro-Neto, também da UFMG, que foi comprada pelo Google em 2005. “Entramos no radar do Google porque a gente participava dos mesmos eventos científicos. Na época, o Google tinha acabado de fazer sua IPO e queria se estabelecer na América Latina. A compra da Akwan foi a segunda aquisição do Google fora dos EUA”, relatou.

A empresa criada pelos professores da UFMG atraiu não apenas o capital do Google naquela transação de compra e venda, mas também um centro de pesquisa e desenvolvimento, que hoje fica em Belo Horizonte, além de centenas de dólares em projetos e pesquisas.

Mas essa não foi a única vez que o professor estava envolvido em um projeto que gerou riqueza para o Brasil. Antes da Akwan, ele já tinha criado a Miner, uma empresa de metabusca que nasceu a partir da ideia de um dos seus alunos, Victor Ribeiro, de desenvolver um robô que coletava dados de interesse na internet.

A empresa criou um mecanismo de metabusca e foi vendida para o grupo UOL, que também empregou muitos talentos mineiros em sua empresa de tecnologia. “O UOL chegou a ser chamado de República do Pão de Queijo por causa dos talentos que vieram da UFMG. Duas pessoas que saíram daqui foram responsáveis por criar o PagSeguro, uma empresa de grande valor hoje”, exemplifica.

Nivio ainda falou sobre outras duas empresas que ajudou a criar: a Neemu, que desenvolvia tecnologia para e-commerce e que foi vendida para a Linx, e a Kunumi, que foi criada em 2016 e atua com inteligência artificial aplicada aos negócios. Entre os produtos recentes da Kunumi estão uma tecnologia que consegue fazer diagnóstico de escala de dor em fetos e um modelo de UTI inteligente, que consegue antecipar o risco de mortalidade quando um paciente entra no hospital. Esse modelo foi, inclusive, doado para a Santa Casa em Belo Horizonte.

Nivio lembrou ainda que toda essa geração de riqueza por meio de startups depende de uma equipe de talentos altamente qualificados e de alta performance. E, por isso, o fomento à produção de conhecimento na universidade é tão importante. “Ainda perdemos muitos talentos que se formam aqui, mas vão gerar riqueza lá fora. Precisamos reter esses talentos e a universidade precisa retornar para sociedade o investimento recebido”, lembrou.

Rachel Horta criou uma das maiores startups de Inteligência Artificial do Brasil

Publicitária por formação, Rachel Horta é um ponto fora da curva. Mulher, mãe e originalmente vinda das ciências humanas, ela nunca precisou escrever uma linha de código, mas foi a cabeça por trás de uma das mais importantes startups de inteligência artificial do Brasil, a Hekima. Hoje, a empresa não existe mais porque, depois de se consolidar no mercado com grandes clientes, foi vendida, em 2020, para o Ifood.

Essa história foi contada pela própria Rachel também no palco do 1º Minas Summit. Mas, mais do que falar sobre a Hekima, Rachel falou sobre sua própria jornada que, segundo a empreendedora, é marcada por muitas “mortes”, uma vez que ela precisou recomeçar muitas vezes.

O empreendedorismo encontrou Rachel muito cedo, logo quando ela tinha acabado de se formar em publicidade e criado uma empresa chamada Mapa Digital, que fazia consultoria e pesquisa em ambientes digitais. Em determinado momento, o negócio começou a demandar uma plataforma de monitoramento de mídias digitais para avançar em sua operação. Foi quando Rachel se conectou Ivan Moura, professor da UFMG e um dos fundadores da Akwan, que atuava na área de busca e foi vendida em 2005 para o Google.

“O Ivan conhecia um grupo de estudantes do curso de Ciência da Computação da UFMG e nos conectou. Um detalhe: eles eram tão novos que a gente teve que chamar os pais deles para conversar sobre questão societária, até porque na época ninguém entendia desse ecossistema”, contou. E foi assim que eles criaram o Zap Monitor, a primeira plataforma de monitoramento de mídias digitais desenvolvida com tecnologia 100% proprietária no Brasil.

“Era maravilhoso, mas muito difícil ao mesmo tempo porque a gente coletava um volume grande de dados e podíamos fazer todas as perguntas que os clientes nunca imaginariam que pudessem, mas a gente estava muito à frente do mercado. A gente tinha uma Ferrari para um mercado que pagava por um Fiat Uno, ninguém tinha essa visão de que o mundo seria inundado por dados”, relatou.

Rachel conta que algum tempo depois que a Zap Monitor já caminhava sozinha como empresa, ela resolveu se ausentar da direção e se dedicar a um outro projeto de empreendedorismo familiar. Mas logo ela voltaria, e isso aconteceu quando a Zap Monitor recebeu um aporte de um investidor que pediu seu retorno à operação. “Voltei para ganhar menos e trabalhar mais, mas era um projeto meu e eu queria voltar. A questão é que nessa época o mercado já tinha mudado e tivemos que reestruturar a ferramenta para esse novo momento. Jogamos tudo no chão e começamos de novo”, disse.

Nesse processo de reinvenção, a empresa teve uma grande oportunidade de mapear o comportamento das pessoas nas redes, no momento em que o Brasil passava pelas manifestações políticas, em 2013. A startup foi convidada a fazer um monitoramento do comportamento dos usuários e trazer interpretações. Para isso, contou não apenas com sua ferramenta, mas também com um time de cientistas políticos, matemáticos e estatísticos. No ano seguinte a empresa foi novamente contratada para fazer o monitoramento das redes para a Copa do Mundo e para as eleições presidenciais de 2014.

“Estávamos a todo vapor quando me dei conta que a gente morreria como empresa. Olhei para um futuro próximo e, por mais que eu soubesse que seria um futuro de dados, também sabia que não podíamos ter um negócio pautado em dados de terceiros. E não deu outra, pouco tempo depois as redes sociais começaram a fechar seus dados e vender”, disse.

A visão de Rachel levou os sócios a repensarem o negócio mais uma vez. Ela diz que foi como outra “morte”, uma vez que eles teriam que readaptar o modelo de negócios. “Entendemos rápido que, apesar de ter que começar de novo, a gente tinha a tecnologia em mãos. É como se a gente tivesse uma mala com todas as ferramentas necessárias para construir qualquer solução de IA. E foi ali que nasceu a Hekima, uma empresa que oferecia soluções a partir de dados para resolver problemas de negócio”, afirmou.

A empreendedora conta que, mais uma vez, a empresa estava à frente do seu tempo e foi necessário fazer uma educação do mercado para que os clientes entendessem como aplicar a tecnologia aos seus negócios. Mas logo a empresa cresceu e despertou muitos interesses, inclusive da Ifood, que oficializou a compra da Hekima em 2020.

Hoje, Rachel atua como conselheira de empresas e criou a Maisha, uma plataforma de desenvolvimento de negócios e investimento-anjo em startups de ciência e tecnologia. Ao olhar para trás, Rachel enxerga uma jornada de muitos recomeços, mas também de muita resiliência, paciência, persistência e insistência.

“Precisamos de coragem para seguir em frente porque a gente nunca vai saber o que vai acontecer e vamos errar muito. Mas a Hekima só existiu porque eu vivenciei uma série de outras coisas, vivi histórias completamente diferentes até chegar onde cheguei. Acho que precisamos nos permitir morrer algumas vezes porque é aí que a gente se reinventa e sai muito melhor do outro lado”, concluiu.

Nivio Ziviani e Rachel Horta marcaram presença na 1ª edição do Minas Summit, realizada pela FCJ Venture Builder e Órbi Conecta, patrocinada por Framework, Board Academy, Zendesk, Yazo, Grant Thornton, SEBRAE, Codemge, Governo de Minas Gerais, Minascentro e Prefeitura de Belo Horizonte. Em 2024 tem mais. A 2ª edição do Minas Summit acontecerá nos dias 28 e 29 de junho, no Minascentro, no Centro da capital mineira. Acompanhe mais informações por meio do site www.orbi.co e www.sanpedrovalley.org.br.

O Órbi Conecta é o principal hub de inovação e empreendedorismo digital de Minas Gerais, e agora mantém uma coluna publicada semanalmente às terças-feiras no portal da Itatiaia.
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