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Só com pay-per-view Flamengo arrecada mais do que Atlético e Cruzeiro somando todas as cotas de TV dos clubes

Dinheiro flamenguista faz diferença claramente nas correções de rota que o clube tem enfrentado nas últimas temporadas

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O terceiro fracasso do Flamengo em apenas um mês na temporada 2023 pode deixar a impressão de que no futebol vale o ditado de que “dinheiro não traz felicidade”. Após perder a Supercopa do Brasil para o Palmeiras, em 28 de janeiro, no Mané Garrincha, em Brasília, e ser eliminado nas semifinais do Mundial de Clubes, pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, em 7 de fevereiro, no Marrocos, o clube da Gávea foi derrotado, nos pênaltis, pelo Independiente Del Valle, do Equador, na última terça-feira (28), no Maracanã, decepcionando mais uma vez sua torcida que lotou o estádio.

Mas o próprio rubro-negro carioca é a prova de que o dinheiro é sim solução no futebol, pois permite se montar grupos de qualidade como o que tem à disposição o contestado técnico português Jorge Pereira.

E quando se fala em dinheiro no futebol é impossível não associar à revelação de Allan Simon, no site UOL, na última segunda-feira, de que apenas com pay-per-view o Flamengo arrecadou R$ 163,9 milhões em 2022.

Os balanços dos clubes referentes ao exercício passado ainda não foram publicados, mas está longe de ser um erro compará-lo, por exemplo, com a arrecadação do Atlético com TV em 2021, maior ano da sua história, quando conquistou o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e caiu, invicto, nas semifinais da Libertadores.

O Atlético é o exemplo, mas a situação passa a ser enfrentada também pelo Cruzeiro, pois os dois rivais têm números parelhos no que se refere a dinheiro da televisão.

O Galo lançou em seu balanço referente a 2021 R$ 279 milhões de direitos de transmissão. Mas neste valor estão inseridas as premiações conquistadas com os títulos nacional e também na competição internacional. Isso não é exclusividade atleticana. Praticamente todos os clubes fazem assim, até porque o dinheiro vem é da televisão mesmo.

Mas para comparação com os R$ 163,9 milhões que o Flamengo recebeu de pay-per-view em 2022, o valor alvinegro para comparação é apenas as cotas de TV, sem as premiações, que somaram R$ 145 milhões.

Assim, na temporada em que foi o clube mais vitorioso do futebol brasileiro, e isso há pouco mais de um ano, o Atlético teve de cotas de televisão cerca de R$ 135 milhões. Quase R$ 30 milhões a menos do que o Flamengo faturou apenas com pay-per-view no ano seguinte.

É uma desproporção muito grande. É inegável que o Flamengo merece cotas maiores que qualquer outro clube pelo tamanho da sua torcida. No texto de Allan Simon ele revela que o rubro-negro é responsável pela venda de 21,5% dos pacotes de pay-per-view.

Isso representaria R$ 79 milhões caso o clube da Gávea não tivesse um valor mínimo garantido, que lhe permita levar R$ 163,9 milhões. E isso é mérito flamenguista, pois não fez adiantamentos de direitos de televisionamento e tem o contrato inicial válido até o ano que vem.

De toda forma, com este cenário, será cada vez mais desequilibrado o futebol brasileiro. E isso pode ser fundamental num país em que o torcedor foi formado numa rotina de equilíbrio nas principais competições.

Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, há poucos anos, sempre começavam com uma lista enorme de candidatos ao título. Este número é menor a cada ano.

É necessária uma reflexão diante desses números. O Atlético é só um exemplo de uma lista de “vítimas” do processo que conta com seu rival, Cruzeiro, com Internacional e Grêmio até mesmo com equipes do eixo, como Fluminense e Botafogo, por exemplo.

Voltando ao ponto de partida deste texto, o fracasso do Flamengo neste início de 2023 só aconteceu porque como campeão da Copa do Brasil de 2022 ele encarou o Palmeiras, campeão brasileiro, pela Supercopa do Brasil.

Além disso, o título da Libertadores do ano passado o colocou no Mundial de Clubes da Fifa e na decisão da Recopa Sul-Americana.

Este ótimo desempenho em copas no ano passado foi fruto de uma correção de rota, com Dorival Junior substituindo o português Paulo Sousa e arrumando a casa graças principalmente ao ótimo grupo de jogadores do Flamengo.

Essa qualidade do elenco rubro-negro já permitiu que outras correções de rotas dessem resultado em 2020 e 2021. Na primeira oportunidade, Rogério Ceni chegou para a vaga do espanhol Domènec Torrent, primeiro substituto da referência portuguesa Jorge Jesus, e foi campeão brasileiro, com o clube chegando ao bi em sequência.

Em 2021, nenhuma grande taça foi erguida, mas Renato Gaúcho entrou no lugar de Rogério Ceni e o time chegou aos vice-campeonatos do Brasileirão e da Libertadores e foi semifinalista da Copa do Brasil. Isso fez com que financeiramente o ano não fosse um fracasso.

Apesar de tanta alternância no comando, o Flamengo consegue manter um bom nível. E isso é fruto do poderio técnico, que só é possível com um grande investimento. E a desproporção do dinheiro da televisão ajuda demais no processo.

Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro