Nunca é suficiente. Essa é sempre a impressão que fica diante de quando um casamento, sobretudo, se for de influencer, de gente famosa, acaba. A gente, num primeiro momento, ilude-se com a impressão de que pirotecnia é sinal de afeto, e depois decai do “Voo de Ícaro”. Isso na consciência de que relacionamento sem tempo junto morre em silêncio.
E esse texto não é sobre fofoca, sobre julgamento, sobre suspeitas que satisfazem a curiosidade de quem, ao opinar, não sabe de nada... A questão é o entendimento lúcido de que gente pode se distanciar do outro, devagarinho e, em “segredo”. Quer dizer, aparentemente em segredo, pois o afeto a cumplicidade, a reciprocidade não desidratam da noite para o dia, mas vão sendo o acúmulo de negligências constantes, pequenas e diárias.
E de, alguma forma, o término de um relacionamento, aquele instante onde a gente vê alguém experimentar a perda do “amor” e da “libido” nos provoca, exatamente, no ponto de partida desse texto. Por mais que pareça ser perfeito: nunca será suficiente...
Quando alguém escolhe partir, se por decisão refletida ou por puro impulso, uma certeza podemos ter: de que não ter a ver com o “outro que fica”. Isso mesmo! É uma grande ilusão pensar que amamos ou odiamos, ou somos amados ou nos odeiam por causa daquilo que a gente é ou “merece”.
Se aquilo que alguém oferece fosse sempre a garantia de manter afeto do outro, não haveria tantos “relatos” sobre decepção, traição e divórcio no sertanejo que nunca se forma (já que universitário), nem haveria na literatura. Amamos ou odiamos alguém, ao fim e ao cabo, por conta daquilo que está “dentro de nós”, não do outro! Nisso concordam Nietzsche, Freud e as Escrituras.
Faz muito sentido quando Nietzsche postula que amor é impulso, desejo de posse, que é sempre em favor de nós. Não há mínima possibilidade, para o filósofo, de a gente amar, senão naquele lugar de afirmação de si e da própria vontade... Diríamos, até quando a gente escolhe amar quem nos contraria, estamos, ainda que por avesso, no território da nossa vontade.
Faz muito sentido quando Freud indica que não escolhemos os outros por acaso, mas encontramos o que existe em nosso inconsciente. Isso se verifica na pele, toda vez que a “vizinha” começa a namorar com o mesmo tipo de “c4n4lh4", como se fosse a primeira vez ou se dessa vez fosse dar certo. Isso reproduzindo a mesma cena de abandono do afeto um dia lhe faltou.
Faz muito sentido quando vemos no Cânticos dos Cânticos que: águas torrenciais nãos podem extinguir o amor, nem rios poderão afogá-lo. Se alguém oferecesse todos os bens de sua casa para comprar o amor, seria tratado com desprezo, o amor é forte como a morte (Ct 8, 6 e 7). Esse trecho nos ajuda a pensar que gente passa uma vida se iludindo de que há algo que possamos fazer para “merecer” amor. Vamos sofrendo para nos fazer caber, implorando migalhas de afeto e nunca, ainda que alguém tenha todo o dinheiro das bets do mundo, nunca, nunca será suficiente... Sempre há margem, se o outro quiser, para dizer basta, para ser indiferente ou para nos “retribuir com desprezo”.
A gente se assusta quando o “amor” desidrata, mas nos perguntamos ainda muito pouco sobre aquilo de que o amor se “alimenta” e com que naturalidade, irreverência, imprevisão, sem ter porquê nem pra quê ele começa. Isso ajuda a sermos menos pretensiosos e mais atentos... Isso ajuda muito, senão para ter sorte nos jogos, evitar azar no amor.