Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, faleceu em 21 de abril de 2025 aos 88 anos. Durante seu pontificado, destacou-se como voz global na defesa da “casa comum”, elevando a ecologia integral a um imperativo moral, cobrando ações concretas contra a crise climática e a degradação ambiental.
Esse compromisso global com a defesa da “casa comum” encontrou sua expressão mais emblemática na encíclica Laudato Si’, publicada pelo Papa Francisco em 24 de maio de 2015, representando um marco histórico ao se dedicar integralmente à ecologia. Nesse documento, o pontífice convidou toda a humanidade a cuidar da Terra, ameaçada por mudanças climáticas, poluição e perda de biodiversidade, e a reconhecer a interconexão entre crise ambiental e injustiças sociais.
No cerne da Laudato Si’ está a ecologia integral, abordagem que articula dimensões ambientais, sociais e econômicas. Ao criticar o consumismo e a exploração desenfreada dos recursos naturais, o texto denuncia a “cultura do descartável” e a visão tecnocêntrica que privilegia a tecnologia em detrimento do cuidado com o meio ambiente, propondo a conversão ecológica: mudança de estilo de vida, consumo responsável e economia circular.
A encíclica também apresenta princípios éticos que orientam a ação coletiva, como o princípio da precaução diante de riscos ambientais, o da subsidiariedade, que valoriza iniciativas locais, o da responsabilidade compartilhada, que demanda cooperação internacional, e o da justiça intergeracional, que protege os direitos das futuras gerações.
Esses ensinamentos tiveram impacto direto nas negociações do Acordo de Paris (COP21), realizado em 2015. Inspirado pelos apelos éticos da Laudato Si’, o pacto mundial estabeleceu metas nacionais voluntárias de redução de emissões de gases de efeito estufa, por meio das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), prevendo ainda apoio financeiro e transferência de tecnologias limpas aos países mais vulneráveis, em nome da justiça climática
Além disso, destaca-se a articulação entre fé e ciência, que fortalece o diálogo entre pesquisadores, líderes religiosos e formuladores de políticas. Essa abordagem holística estimula a cooperação intersetorial, resultando em iniciativas concretas de mitigação e adaptação climática.
Ainda, em 4 de outubro de 2023 o Papa Francisco publicou a exortação Laudate Deum, que retoma e aprofunda o chamado da Laudato Si’. Nesse texto, ele critica a lentidão das ações governamentais e corporativas, reforça o apelo a políticas de descarbonização e destaca a restauração de ecossistemas como estratégia essencial.
As exortações Laudato Si’ e Laudate Deum configuram um chamado ético-jurídico à solidariedade e ao respeito pelos limites do planeta. Ao defender a justiça climática, o cuidado intergeracional e a transição para uma economia de baixo carbono, elas inspiraram governos, instituições e comunidades religiosas, consolidando o legado do Papa Francisco como o “Papa Verde”.