O mundo experimenta o surgimento de líderes, digamos, de perfil impositivo. Prece que o sonho de que a globalização trouxe mais democracia, diversidade, tolerância desidratou. Não há nada de novo, se formos pensar, períodos de crise e econômica, insegurança social e de desconfiança nas instituições sempre foram um “caldo de cultura” para o surgimento de lideranças centralizadoras.
O surgimento da era dos imperadores em Roma, se inicia com a crise da República. Um misto de corrupção, ineficiência do estado e medo, faz um general ascender ao poder e criar uma sucessão de tirania que dura quinhentos anos. Podemos pensar também, que um militar de baixa patente, no pós-revolução francesa, a qual tinha seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, torna-se um déspota muito pior do que os Bourbon. Ou lembremos que, ante-ontem, um artista frustrado, capaz de catalisar o ressentimento e a frustração de uma Alemanha arrasada pela guerra, quase acabou com a Europa e o inteiro mundo. Ah, e acrescenta aí: o comunismo, “essa babel invertida” (Dostoievski), com sua promessa de paraíso na terra, não trouxe as flores prometidas e legou à humanidade o culto à única múmia contemporânea.
E que conclusão tiramos disso? A de que não há adianta, entre minutas golpes e gritos por anistia, dizer que “a cadela do fascismo está sempre no cio”. Se o surgimento de lideranças impositivas se repete, e como dizia Freud, tudo que repete é sintoma, é preciso se perguntar sobre o que leva a o mundo a vira e mexe recorrer a figuras com perfil centralizador e a governos autoritário. A resposta é simples: insegurança e medo.
A história mostra que todas as vezes que as pessoas têm medo elas flertam com a ideia “fórmulas autoritárias” que resolvam com soluções simples questões complexas. E isso se potencializa ainda amais por conta das Redes Sociais e seus algoritmos. As Mídias Digitais são, sobretudo, acentuam o comportamento tribal. Elas são feitas para potencializar nas pessoas a tendência a serem refratárias a opiniões contrárias e diferentes.
E qual será́ a saída? Bom, quem dissesse que sabe estaria mentindo. Penso que um caminho de, no mínimo, mais lucidez, é entende que a “cérebro é parte das vísceras” Nietzsche. Entender bem como os anseios profundos das “tribos” da direita e da esquerda são frutos de medos, desconfiança e ressentimento pode ser uma boa via de diálogo.
Pessoas mais à esquerda tendem a ter dívidas com a própria aceitação. Na verdade, a política pública, o ímpeto de defesa dos mais frágeis, diz respeito a um lugar anterior e latente de desamparo. É importar escutar essa “tribo”, pois são bons com sintomas, sensíveis à necessidade de humanizar e atualizar processos. Pessoas à esquerda buscam paraísos perdidos. Em termos arquetípicos tendem a temer os próprios afetos. Sua defesa de princípios básicos, sentimentos simples, diz respeito à busca de garantias e de estabilidade. Devem ser escutadas, pois se o cérebro for aberto demais ele pula para fora. Além do fato de que revolução e anarquia costumam sem empolgantes no início, mas no final, geram confusão e divisão deixando um cenário, não raro, pior.
Oremos! Oremos com respiro, nestes cenários de dúvidas, tapas e beijos, um pouco de “suspeita”, sobre si, sobre o partido, ajuda a não ser tão ensurdecido por certezas. Precisamos de convicções. Tenhamos suspeita das “certezas, em nome das quais se golpeia e se mata, um pouco por perversidade, um pouco por insegurança, um pouco por medo...