Ouvindo...

A liquidez do mundo moderno

Consumismo acelerado de eletrônicos e roupas tem gerado desperdício de recursos naturais

Produtos são criados para serem rapidamente substituídos, incentivando um consumo contínuo

O filósofo, sociólogo, professor polonês Zygmunt Bauman desenvolveu uma teoria para explicar o modo de vida atual. Com isso ele escreveu várias obras relacionadas ao tema, como a Modernidade Líquida, Vida Líquida, Amor Líquido e mais algumas.

Nessas obras ele descreva que a sociedade contemporânea é marcada pela fluidez, volatilidade e descartabilidade das relações humanas, dos produtos e das identidades, principalmente do excesso de consumo.

Os produtos são criados para serem rapidamente substituídos, incentivando um consumo contínuo. A maioria vem com uma vida útil já programada, com a durabilidade para X anos, depois desse prazo, começam a sofrer “com a idade”. Exemplo bom seriam os notebooks e os celulares.

Os produtos ficam obsoletos e se não o trocarmos ficamos “fora da moda”. Pois, o consumo não se limita à necessidade, mas se torna um meio de construção de identidade e pertencimento. Se você não tem ou possui, você não pertence aquele grupo ou aquela tribo.

Leia também

Recebemos o tempo todo mensagens com o novo modelo de carro, de celulares, de roupas. O uso massivo de redes sociais e parcerias com celebridades reforçam o desejo de ter. As marcas exploram a insatisfação constante, estimulando o desejo por novidades e tendências passageiras. Como se a felicidade fosse a obtenção daquele produto novo.

Acontece que esse excesso de consumismo líquido contribui para o excesso de descarte e impactos ambientais negativos. E, já falado aqui inúmeras vezes, estamos sofrendo com esse excesso de consumo.

Os celulares e notebooks dependem de metais raros como lítio, cobalto, ouro e terras-raras, minerais obtidos através da mineração. O lixo eletrônico gerado por eles (e-waste), é um dos resíduos mais poluentes do planeta. Apenas 17% do lixo eletrônico é reciclado globalmente. O restante é descartado em lixões ou exportado para países em desenvolvimento, contaminando solos e águas com metais pesados.

Uma forma de resolver com alternativas mais sustentáveis seria o incentivo à manutenção dos dispositivos ao invés da substituição.

Em relação à moda, especialmente o fast fashion, a liquidez das roupas ainda é maior. As coleções de primavera e verão, agora são divididas por mais duas, a pré verão e a pré inverno, sendo todas impulsionadas pelo consumo excessivo e tendências efêmeras. Como se as roupas fossem de papel, tipo usou e jogou fora.

Estima-se que 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis são produzidos anualmente. Para produzir 1 calça jeans, são necessários cerca de 7.500 litros de água. O algodão convencional usa pesticidas e fertilizantes que contaminam solos e rios. Tecidos sintéticos (poliéster, nylon) liberam microplásticos durante a lavagem, poluindo oceanos e afetando a vida marinha.

O consumismo acelerado de eletrônicos e roupas está devastando o meio ambiente, gerando desperdício, poluição e exploração de recursos naturais. A solução está em um consumo mais consciente, com foco em produtos duráveis, reutilização e reciclagem.

O consumismo deve ser sustentável e não líquido.


Participe dos canais da Itatiaia:

Cristiana Nepomuceno é bióloga, advogada, pós-graduada em Gestão Pública, mestre em Direito Ambiental. É autora e organizadora de livros e artigos.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.