Ouvindo...

Whisky mineiro supera barreiras e é servido até em eventos da família real britânica

Destilaria Lamas fica em Matozinhos e tem projeto em andamento de expansão para Pedro Leopoldo

Irmãos Márcio Lamas, Marcelo Lamas e Zé Carlos Lamas comandam destilaria mineira

Reconhecida pela produção de cachaças, Minas Gerais tem uma preciosidade que começa a ganhar reconhecimento em países europeus. Trata-se da destilaria Lamas, que produz whisky que já foi servido até em eventos oficiais da família real britânica em Belo Horizonte. A destilaria fica na cidade de Matozinhos, cerca de 50 km distante na capital, e nasceu em 2010, graças à paixão dos irmãos Márcio Lamas, 62 anos, Marcelo Lamas, 67, e Zé Carlos Lamas, de 70, pela bebida. A ideia inicial era produzir apenas para consumo próprio, mas a técnica foi aperfeiçoada e profissionalizada em 2019.

Atualmente, são oito rótulos de whisky de linha, além de edições especiais. O destilado mineiro é exportado para Rússia, França e Coreia do Sul. Márcio Lamas é o idealizador da destilaria, que está com um projeto em andamento para abertura de uma nova planta em um terreno que abrigou uma fazenda em Pedro Leopoldo, na Grande BH. A Lamas também produz rum, cachaça, gin e vodka.

Márcio destaca que o whisky precisou superar a desconfiança até conseguir reconhecimento internacional e conquistar prêmios, já que existia um “paradigma antigo de que as bebidas, principalmente os whiskies brasileiros, não tinham muita qualidade, quando comparados aos da Escócia, da Irlanda e dos Estados Unidos. No entanto, a família resolveu “enfrentar esse desafio” e teve uma grata surpresa”.

Reconhecimento

O sucesso veio rapidamente. Os whiskies Lamas foram bem aceitos pela comunidade internacional e a destilaria ganhou medalhas de ouro, de prata e de bronze em concursos fora do Brasil. Além disso, a qualidade dos produtos é atestada por uma das publicações mais respeitadas do mundo do whisky: a Jim Murray’s Whisky Bible, que avalia e confere pontuação aos principais rótulos da bebida ao redor do mundo, Os whiskies Lamas têm notas entre 86,6 e 95,5 pontos em 100 possíveis.

Na última semana, os destilados Lamas foram citados em um artigo publicado pela revista Forbes sobre os whiskies favoritos dos bartenders.

“A primeira exportação que a gente fez foi para França, depois pra Coreia do Sul e Rússia”, diz Márcio Lamas. Outro ponto de destaque é a ligação com eventos oficiais do Reino Unido. Em Belo Horizonte, a embaixada britânica já serviu produtos Lamas em duas ocasiões históricas: jubileu de 75 anos da rainha Elizabeth II e, mais recentemente, na posse do rei Charles.

“Tiveram eventos na Inglaterra e no mundo inteiro, nas embaixadas. Na embaixada britânica de Belo Horizonte, quando a rainha da Inglaterra fez o jubileu de 75 anos de coroa, eles nos convidaram para servir o nosso gin. A rainha gostava de beber gin e o nosso, vamos dizer, brindou na embaixada britânica em Belo Horizonte. E agora, com a recém posse do rei Charles, eles nos convidaram também para celebrar com o nosso whisky, com um dos nossos rótulos que se chama Rarus”, explicou Márcio Lamas.

10 mil litros de whisky

Márcio explica que a produção do whisky mineiro aumentou nos últimos anos. “Entre falar em fabricar e colocar no mercado, no caso de whisky, tem sempre um hiato de tempo, né? No passado, a gente fabricava em torno de 3 mil litros por mês, que correspondem a 4 mil e poucas garrafas, porque nosso whisky tem que ficar 6 anos nos barris. Hoje, a gente tem vendido 4 mil garrafas por mês de whisky. A nossa produção mais que dobrou, a gente tem 10 mil litros de whisky sendo produzidos”, explicou. Além de oferecer uma bebida de qualidade, a destilaria investe nas garrafas, algumas têm formato que homenageia o barroco mineiro, além de tampas de pedra sabão personalizadas.

Entre os rótulos, um que chama atenção é o whisky defumado. Inspirado pelos whiskies turfados escoceses, também conhecidos como peated whiskies, produzido com uma abordagem local. “Para trazer esse toque de brasilidade, ao invés de usar a cevada turfada, a gente defumou essa cevada usando inclusive a madeira de eucalipto”, explica Márcio. “É uma proposta diferente”, que busca trazer um toque de brasilidade para a defumação”, usando madeira em vez do combustível comum na Escócia”, acrescenta.

Whiskies Lamas têm reconhecimento internacional

‘Turismo de experiência’

Embora a fábrica original tenha nascido e continue em Matozinhos, a destilaria está construindo uma nova instalação em Pedro Leopoldo. Este novo espaço é projetado com um foco especial na interação com o público. “É um projeto maravilhoso para as pessoas poderem vir, porque vai ser uma espécie de turismo de experiência”, disse Márcio Lamas.

O projeto, assinado pelo arquiteto Gustavo Pena, permitirá que os visitantes conheçam “todas as etapas da produção do whisky.

“As pessoas vão poder visitar a fábrica com chance de conhecer todas as etapas da produção do whisky até o envelhecimento nas barricas. Vai ter um espaço dedicado para degustação, loja, um salão de eventos e estamos com a ideia de fazer um bar ao redor de um lago natural muito bonito que tem lá. Vai ser muito legar e bacana para as pessoas poderem aproveitar esse espaço junto com a gente”.

A casa da fazenda, que tem registros de eventos de 1840, foi tombada por iniciativa da família Lamas, com o objetivo de preservar e a ajudar a contar e manter a história da região. A nova destilaria vai começar a operar neste ano, mas a conclusão do projeto, incluindo o prédio principal, está prevista para o final de 2026.

Preocupação ambiental

A nova destilaria está localizada dentro de uma Área de Preservação Ambiental (APA) na qual há vários fósseis de animais históricos e pré-históricos, além de vestígios da primeira civilização a ocupar as Américas, incluindo o crânio de Luzia.

“Naturalmente, a gente tem todas as licenças e os requisitos ambientais já foram cumpridos. Além disso, temos outra intenção de fazer um ecorreflorestamento lá, de recuperar algumas espécies nativas daquela região”, destaca Márcio, que mostra preocupação com a atividade minerária na região.

“A gente fica muito preocupado, porque é uma região de muita mineração. A gente é vizinho de uma mineração de brita, que pediu uma área de servidão em cima do nosso terreno, inclusive. O pedido está, vamos dizer, em vias de ser de ser avaliado pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Esperamos ser beneficiados com a isenção do nosso terreno, para poder cumprir todos esses requisitos legais que nos dispusemos a fazer”, concluiu.

Leia também

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.