O coração vive de procura. O que nos define e indica é que estamos sempre à “busca de”, inquietos e insatisfeitos. Isso é o que significa ser humano, não ter lugar que nos caiba, satisfação suficiente, momento que seja para sempre. A gente pediu chuva, e ela vem vindo, timidamente, mas acertada. Desejamos água nos tempos de seca e, já já, começaremos a reclamar do excesso de água e da saudade do sol.
E vida é isso, um ciclo contínuo de “insatisfações”. E é isso que a torna bela. A vida é bela porque é insatisfatória e porque passa. Por isso vale a pena apreciar cada momento, ainda que contraditório. Nós somos “instantes feitos de agora”. É na distração e na procura que a vida acontece. Somos felizes distraídos na rotina.
Oxalá, que a rotina não nos adoeça! Porque nesse ritmo frenético de “ganhar o mundo”, o cotidiano pode ser tornar um peso insustentável. Aí a gente reclama. E reclamar demais não costuma fazer bem...
É preciso, aqui, nos entendermos bem. Uma coisa é o descontentamento sobre os outros e sobre vida. Outra bem diferente é ser ressentido. Todo mundo precisa de um bom, irônico, às vezes simpático, às vezes cínico, deboche dos outros e da vida para se manter “vivo”. Isso não significa que a gente precisa colocar tudo na conta do “outro”, com ressentimento e perversidade.
O problema nunca é um dia de sol ou de chuva, mas a insatisfação com a própria vida. Nenhum chefe chato nos “invade” se as portas já nãos estiverem arrombados pela desmotivação. Pensemos, por exemplo, num casamento: todo casamento tem desafios, meias verdades, opostos que ora se atraem, ora se distraem. Quando a convivência se torna monótona, podemos ser tentados a pensar que ‘não era amor, era cilada’. No entanto, assim como na vida, esses momentos nos convidam à reflexão e, vendo o que há de bom, sermos mais gratos.
É justamente pensando na vida como um contínuo estado de gratidão que o Apóstolo Paulo sugere, em uma de suas cartas a: em tudo dar graças (Ts 5,18). Paulo escreve esse texto precisamente a um povo ansioso diante das “demoras” e dos desafios da existência.
Ah. Isso significa, então, que a gente deve estar o tempo todo iludido e eufórico? Não. Claro que não. Nem todas as situações são boas. Isso é um fato! O que essa afirmação do Apóstolo quer indicar é que nada nos acontece por acaso! Por isso ajuda muito focar no “otimismo” e na “gratidão”.
Para quem tem fé, os tempos difíceis não são outra coisa que parte de “desígnios” ainda maiores. A fé ajuda a perceber a vida como um “tecido do avesso”, o qual visto do lado contrário é confuso, mas que ao ser olhado de cima, cada trama passa a fazer sentido. E mesmo para quem, porventura, não crê (sem por isso deixar de ser gente boa!), viver em “ação de graças” significa entender que a necessidade é a mãe da criatividade, e que a vida não nos deve nada!
Faça chuva ou faça sol, num ambiente favorável ou não, com mais ou menos recursos, se a dor é inevitável o sofrimento é opcional! Cabe a cada um de nós tirar o melhor, ver o melhor, buscar o melhor. Não há desculpa para seguir na direção errada! Em tempos de ansiedade, de extremos climáticos, de incertezas, de polarização, escolhamos leveza, sensibilidade ecológica, criatividade, espiritualidade; cerveja!
Em tudo demos graças! Para além do clima mais fresco, chegando por aqui, que seja um novo tempo!
No novo tempo
Apesar dos castigos
Estamos crescidos
Estamos atentos
Estamos mais vivos!
Em tudo daí graças! Deixe o pessimismo para tempos melhores. A vida, como o “tempo”, é feita de estações. Você não está perdido, está só em processo....