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Imagem de carranca do Edifício Acaiaca com máscara de oxigênio viraliza em meio a dias de fumaça em BH

Artista mineiro fez montagens com fotos de estátuas da cidade em protesto contra queimadas; capital mineira amanheceu pelo quinto dia consecutivo encoberta por fumaça

Montagem viralizou na internet após publicação

Os moradores de Belo Horizonte lidam com o incômodo da fumaça das queimadas da região metropolitana e do tempo seco há vários dias. Nesta quinta-feira (5), a capital amanheceu mais um dia com o céu enfumaçado, como já havia acontecido todos os dias desta semana.

Como forma de chamar atenção da população e das autoridades sobre as questões climáticas, o fotógrafo mineiro Rafael de Paulo e Silva, de 38 anos, usou a arte para protestar. O artista fez uma montagem colocando uma máscara de oxigênio na carranca do Edifício Acaiaca, no Centro de BH, considerado um dos prédios mais icônicos da capital.

A foto foi publicada no perfil de Rafael no Instagram e rapidamente viralizou nas redes sociais. “Eu confesso que não esperava que fosse viralizar como viralizou. A minha página é pequena, eu tenho poucos seguidores. A minha intenção era fazer uma brincadeira séria, chamar a atenção da galera mesmo. Mas não esperava a repercussão que teve”, disse à Itatiaia.

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O fotógrafo, natural de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, conta que mora em Belo Horizonte desde 2019 e é apaixonado na cidade. A partir do amor pela arquitetura da capital mineira, ele teve a ideia de usar o Edifício Acaica para ilustrar o protesto.

Depois da ideia criada, era a hora de executar. “Lembrei que tinha tirado umas fotos da carranca e joguei ela no Photoshop. Eu embacei a foto para dar um aspecto de poeira, de poluição, e joguei uma máscara de oxigênio na carranca. Falei: ‘vamos chamar atenção, né? Se até até a carranca, a estátua, está necessitada de máscara, imagina nós, seres humanos’. O trem tá feio para a gente”, comenta.

A ideia conquistou os seguidores de Rafael e começou a circular pela internet. Vendo a repercussão da arte, ele decidiu colocar máscaras em outras estátuas de Belo Horizonte: as de Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez, que estão no Parque Municipal.

Estátuas de Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez

“Como eu estava no Parque Municipal no sábado, eu aproveitei para fotografar as estátuas. Geralmente, eu faço de um a dois posts por dia. E como eu havia feito um no dia anterior que repercutiu (a foto do Acaiaca), pensei: ‘vamos continuar nessa brincadeira. Vamos utilizar a fotografia com um pouquinho de ironia para chamar a atenção da galera. Aí peguei as fotos, coloquei a máscara novamente, e deixei o céu turvo, com uma névoa. O post chamou atenção, mas não como o outro. Mas até que muita gente curtiu e compartilhou também”, completou.

Por que BH está com o céu enfumaçado?

Se engana quem pensa que apenas os incêndios registrados na região metropolitana são o único problema. A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia, Anete Fernandes, explica que o tempo seco e as altas temperaturas também estão por trás desse fenômeno.

“Nós estamos a 139 dias consecutivos sem chuva. Então, já tem um bom tempo que a atmosfera não recebe uma limpeza, ou seja, que não tem chuva para melhorar a qualidade do ar. Associado a isso, nos últimos dias a gente teve uma elevação gradual das temperaturas. Sem chuva, com temperaturas elevadas e índices de umidade inferiores a 20%, a gente tem uma piora na qualidade do ar. O material particular em suspensão - ou seja, a poeira, a poluição, e o transporte de fumaça dos incêndios na própria capital e no entorno -, faz com que a gente tenha essa névoa seca”, disse.

A meteorologista afirma que o ar enfumaçado só deve melhorar quando chover em BH, mas não há previsão de que isso aconteça nos próximos dias.

“Não há perspectiva de melhora. Se reduzir as queimadas, melhora um pouco a questão do transporte de fumaça e fuligem. Mas uma limpeza da atmosfera, só com chuva. É o único mecanismo que realmente pode melhorar a qualidade do ar de maneira expressiva. Mas, por enquanto, não há perspectiva de chuva, não só na capital, mas em todo o estado, pelo menos até meados de setembro. Então, continuaremos com essa qualidade do ar complicada enquanto a gente tiver uma chuva que possa melhorar a situação”, esclarece.


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Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.
Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.