O que você procura? Essa é uma das perguntas mais simples, tanto quanto mais difíceis. É sempre um desafio saber qual o interesse, a busca, o propósito por detrás de nossas escolhas. É sempre angustiante discernir qual carreira seguir, se realmente queremos algo ou se “aquela” é realmente a pessoa certa para seguir a vida.
Não raro, a gente termina se sentido frustrado no trabalho, louco para sair de férias do cargo tão almejado. Não raro a gente mistura o urgente de um anseio momentâneo com a ilusão do que parece ser importante. É normal que num relacionamento amemos o que vimos até então é estejamos aflitos por ter que confiar no que virá em seguida.
A vida é um caminho, um processo, um Olimpíada. Nela somos todos atletas. A diferença é que temos que aprender fazendo, que não há treinamento ou estreia, e que o prêmio é dado também no processo. A beleza dessa competição é que ele é um sistema de ganhos e perdas. Viver requer, como em qualquer jogo: disciplina, resiliência, a retidão de propósito.
A clareza de onde se quer chegar é o último na intenção e primeiro na execução. Se você não sabe onde quer chegar, qualquer lugar serve. Com um bom competidor, é preciso ter uma meta clara, um podium. Parafraseando Nietzsche, o atleta que tiver saber o porquê “compete” suportará qualquer “como”.
É necessário também resiliência. Essa entendida como a capacidade de adiar pequenas “felicidades” em nome de uma realização satisfatória. Em tempos que são os nossos, em que tudo é tão imediato, há o risco de que o imperativo de sucesso rápido impeça de alcançar objetivos duradouros. Não é à toa que estamos respondendo à busca por resultados repentinos com ansiedade e depressão.
A história humana, os grandes inventos são sempre realizados por quem não teve compromisso com o erro, não esteve em dívida com o passado e, por não se levar muito a sério, não desistiu na busca por sua “medalha”.
A necessidade pode ser a mãe da criatividade. A tensão pode gerar transformações disruptivas. O fracasso tende a ser bom conselheiro. “Há pouca diferença entre obstáculos e a oportunidades. O sábio tira proveito de ambas” Maquiavel.
O Apóstolo Paulo, em sua grande lucidez e capacidade de tradução da realidade, lê a vida cristã na perspectiva do atletismo. Em 1 Cor 9, 24 ss ele incentiva a correr para conquistar o grande prêmio: a Salvação. O atleta que compete no estádio se impõe disciplina, busca os louros (coroas), o que compete pela fé possui uma meta que assumiu uma outra dimensão. Esse procura não o que é corruptível, o prêmio que não pode pertencer a todos ao mesmo tempo, mas algo duradouro.
A vida de todos é uma incessante busca. Como enseja o mito de Sísifo, todos rolamos uma pedra durante o dia (ao longo dos dias) ao alto do monte que é viver e essa teima em rolar, para que de novo a façamos subir...
Para o Apóstolo das gentes, em sentido diverso, a fé (diríamos a espiritualidade, o sagrado, o transcendente) nos possibilita correr, mas não à toa, lutar, mas não como quem golpeia o ar, mas na busca por um prêmio incorruptível.
A dica do dia é: em meio às coisas que passam, abrace as que não passam, a Olímpiada da vida é cheia de alegrias que ocorrem enquanto estamos distraídos; ajunte medalhas e tesouros que a traça e a ferrugem não destroem e os ladrões não possam roubar (Mt 6,20).