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Réu pela morte do sargento Dias em BH diz ouvir vozes e revela supostas agressões

Welbert de Souza Fagundes alega que policiais ‘o tiram da cela, batem em sua cara e dizem que ele matou polícia

Laudo mostra supostas perfurações de tiro

Welbert de Souza Fagundes, réu pela morte do sargento Roger Dias da Cunha, morto com um tiro na cabeça no início de janeiro de 2024 em Belo Horizonte, estaria ‘ouvindo vozes que o mandam fazer coisas ruins’. A informação consta em documentos anexados ao processo e obtidos pela Itatiaia. Os arquivos ainda trazem detalhes sobre as supostas agressões sofridas pelo acusado dentro da cadeia.

O primeiro documento traz os detalhes do exame corporal realizado pela Polícia Civil no dia 15 de janeiro, cerca de 10 dias após Welbert ser preso. O acusado apresentava ferimentos nas pernas, provocados por disparos de arma de fogo durante troca de tiros com a polícia. O jovem, porém, relatou aos médicos que foi ‘agredido por policiais com socos na barriga durante a internação hospitalar’, no Hospital Risoleta Neves, e que não conseguia ficar de pé. As imagens do exame comprovam a presença dos ferimentos nas pernas, mas não dão mais detalhes sobre as supostas agressões cometidas por policiais.

As acusações feitas por Welbert e seus advogados contra policiais militares e penais são antigas. Em março, o jovem denunciou ter sido torturado dentro do presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves. Entre o fim de abril e o início de maio, Welbert se cortou e ateou fogo no colchão da sua cela como protesto aos maus-tratos supostamente sofridos na cadeia.

‘Vozes mandam fazer coisas ruins’

Em meados de março, Welbert foi ouvido por um psiquiatra na Nelson Hungria. Na consulta, o jovem relatou que sua medicação não tem surtido efeito, se queixou de insônia e revelou que ‘escuta vozes, tem visão espiritual, muitas vezes ruim…as vozes mandam fazer coisas ruins’.

Na mesma consulta, o psiquiatra anotou detalhes das supostas agressões sofridas por Welbert na cadeia: ‘policial o tira da cela, bate em sua cara, chuta sua perna, diz que ele matou polícia [...]. Relata estar sendo ameaçado pelos policiais, disseram que não bateria nele por ter atendimento hoje. Molharam sua casa, estão o perseguindo’.

A Itatiaia entrou em contato com a defesa de Welbert e aguarda retorno. O espaço segue aberto.

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Sargento baleado

A ‘saidinha’, como é conhecida a saída temporária, ganhou relevância especial depois de um sargento da polícia militar ser baleado no dia 5 de janeiro. O suspeito do crime é um homem que estava em saída temporária da cadeia. Welbert de Souza Fagundes, de 26 anos, é apontado como o responsável por disparar várias vezes à queima roupa contra a cabeça do sargento da Polícia Militar, Roger Dias da Cunha, no bairro Novo Aarão Reis, Região Norte de Belo Horizonte.

O Sargento Dias passou por duas cirurgias assim que foi socorrido ao Hospital João XXIII - uma para conter a pressão intracraniana e outra para conter o sangramento na perna, pois a bala atingiu uma artéria. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu na noite do dia 7 de janeiro.

Suspeito estava foragido da ‘saidinha’

Welbert tem 18 boletins de ocorrência registrados contra ele, por crimes como roubo, ameaça e tráfico de drogas. O Ministério Público foi contra a saída dele do sistema prisional, mas o benefício foi concedido pela juíza da Vara de Execuções Penais de Ribeirão das Neves, Bárbara Isadora Santos Sebe Nardy.

A juíza justificou sua decisão com base no atestado de conduta carcerária e disse que Welbert não havia cometido nenhuma falta grave, embora o Ministério Público tivesse apontado o episódio do furto de veículo. O MPMG recorreu da decisão junto ao Tribunal de Justiça e não recebeu nenhum retorno.

No dia 11 de janeiro, poucos dias após a morte do sargento Dias, Welbert se tornou réu por um furto qualificado cometido em julho de 2023. Poucas semanas depois, a Justiça aceitou a denúncia e Welbert se tornou réu por homicídio triplamente qualificado contra o sargento Dias. Ele segue detido desde a época do crime.


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Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.
Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.