A dentista Camilla Groppo, investigada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) após ser denunciada por pacientes que teriam tido infecções graves após cirurgias de lipoaspiração de papada (lipopapada) em Belo Horizonte, foi alvo de três mandados de busca e apreensão nesta terça-feira (23). Segundo a investigação, uma esterilização mal feita de materiais usados nas operações pode ter sido a origem do surto.
O objetivo dos mandados era apreender prontuários de pacientes que estariam guardados na casa e no escritório da profissional, Camila Aparecida de Andrade Silveira. No total, 16 prontuários foram apreendidos, enquanto dois não foram encontrados.
Em coletiva de imprensa na tarde desta terça (23), o delegado Alessandro Santa Gema explica que a Vigilância Sanitária esteve na clínica logo após as denúncias serem realizadas. Os agentes identificaram erros no processo de esterilização do material e fez várias recomendações para que a clínica fosse liberada. Dias depois, a Vigilância Sanitária voltou ao local com fiscais do Conselho Regional de Odontologia (CRO) e, após identificar novos erros na esterilização, a clínica foi fechada pelas autoridades. O surto da micobactéria teria começado em dezembro de 2023.
O delegado conta que a profissional é formada em Odontologia, fez um curso de lipoaspiração de 10 horas e outro de 12 horas para bichectomia. No momento das operações, ela estaria irregular no CRO, mas a inscrição da profissional foi reativada após ela apresentar ao conselho o diploma válido. Uma espécie de ‘promoção’ oferecida pela profissional teria gerado uma grande procura à clínica dela.
‘Ela começou a atender em 2022, logo após sua formatura. Com o andar das investigações, vítimas relataram que a profissional atendia de 10 a 12 pacientes. Ela anunciou que faria um procedimento estético, que era a ‘lipoaspiração papada popular’. Ela cobrava um valor abaixo do que aparentemente é cobrado por médicos e isso gerou uma demanda muito grande. Ela atendia sozinha e isso gerou uma demanda muito grande. Então a gente sabe que isso pode ter sobrecarregado ela. A gente tem que analisar agora a conduta, se foi uma conduta culposa, por negligência ou se por ventura ela assumiu um risco com esse tanto de paciente’.
Camilla segue sendo investigada e deve prestar depoimento nos próximos dias. Ela pode ser indiciada por lesão corporal culposa, mas a tipificação do crime pode mudar de acordo com o resultado do inquérito.
O que diz o Conselho Regional de Odontologia?
No último dia 5 de março, a inscrição havia sido suspensa em decorrência da falta de apresentação do diploma de conclusão do curso no prazo estabelecido de dois anos após a colação de grau. O CRO afirma ainda que continua acompanhando, junto vigilância sanitária, que apura possíveis falhas no processo de esterilização. Confira a nota completa
“O Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) salienta que acompanhou a interdição da clínica da mesma pela Vigilância Sanitária, tendo aberto processo de fiscalização na ocasião e expediu, no dia 20 de março de 2024, uma Portaria (nº 74/2024) de Interdição Ética do estabelecimento, proibindo que outros profissionais atuem nele.
A inscrição da profissional foi reativada no último dia 26 de março de 2024, após a mesma apresentar ao Conselho o diploma válido, cumprindo assim os requisitos necessários para exercer a odontologia de forma regular. É importante ressaltar que a inscrição da cirurgiã-dentista foi temporariamente suspensa a partir de 5 de março de 2024. Essa medida foi tomada em decorrência da falta de apresentação do diploma de conclusão do curso dentro do prazo estabelecido de dois anos após a colação de grau.
Esse requisito é essencial para a alteração da inscrição provisória em definitiva, conforme as normativas do CRO-MG. O CRO-MG reitera seu compromisso com a qualidade e a ética no exercício da odontologia, garantindo o cumprimento das normas e regulamentos que regem a profissão, em benefício da saúde bucal da população, e continuará acompanhando junto à vigilância sanitária o inquérito acerca de possíveis falhas no processo de esterilização.”
Conforme o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde, a clínica odontológica continua fechada após a interdição pela Vigilância Sanitária de BH e segue a investigação do possível surto de micobactéria não tuberculosa de crescimento rápido na clínica.
Outro lado
Procuradas pela Itatiaia, a dentista e sua defesa não se manifestaram. Em posts divulgados nas redes sociais, a defesa da profissional afirmou que a profissional tem fornecido todas as informações pertinentes aos órgãos responsáveis pelas investigações. Nesta terça (23), a Itatiaia tentou procurar a dentista, mas suas redes sociais estavam indisponíveis.