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Zema faz mudança na Fapemig e instituições de ensino reclamam de ‘intervenção’ e ‘perda de autonomia’

Cargo para definir financiamento de pesquisas, antes ocupado por cientista, será de servidor indicado pelo governador de Minas

Decreto de Zema altera regras para gestão da Fapemig

Um decreto publicado na última semana pelo governador Romeu Zema (Novo) alterou o estatuto da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), órgão que financia projetos de pesquisa em Minas. A medida gera críticas da comunidade científica. A reitora da Universidade Federal de Minas Gerais, Sandra Regina Goulart Almeida, vê a decisão como ‘perda de autonomia’ da Fapemig ao abrir brechas para atuação política no órgão.

O decreto altera a escolha de gestores da Fapemig. Historicamente, a fundação escolhia o seu Presidente e Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação através de uma lista tríplice, elaborada pelo Conselho Curador da instituição, enviada ao governador do estado. Agora, o chefe do executivo terá o poder de escolher qualquer pessoa para ocupar os cargos.

O governador também irá indicar um servidor da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (SEDE) para ser o presidente do Conselho Curador, principal órgão da Fapemig e responsável pela elaboração de políticas públicas de fomento à ciência no estado.

Segundo o Governo de Minas, as medidas vão “ampliar ainda mais o protagonismo de pesquisa e da inovação no desenvolvimento econômico do Estado” (veja nota completa abaixo).

A reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, vê com preocupação a mudança de regras. “O presidente do conselho sempre foi uma pessoa com grande renome científico. Agora, estamos preocupados com quem irá ocupar essa função. Um servidor do estado, que não é da área científica, não vai conseguir pensar as políticas públicas e entender as necessidades da comunidade científica no estado”, pontua.

Comunidade científica critica

O Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior de Minas Gerais (Foripes) divulgou uma nota, no domingo (30), criticando o decreto estadual n° 48715, de 26 de outubro. O documento é visto como uma forma de ‘enfraquecer’ a fundação, ao acabar, por exemplo, com a lista tríplice para escolha da presidência.

A reitora da UFMG, uma das signatárias do comunicado, afirma que o decreto pegou as instituições de surpresa. “O decreto foi feito sem consultar a comunidade científica, sem nenhum diálogo. Existem várias fundações de amparo a pesquisa pelo país, nunca houve uma intervenção como essa em nenhuma delas. Isso é motivo de preocupação. Por isso, várias instituições estão se manifestando contra o decreto”, disse.

Os membros do Foripes também dizem estar preocupados com a intervenção política na fundação. “A Fapemig deixa de ser um órgão de Estado para ser um órgão de governo, sem nenhuma autonomia, com o governador podendo nomear e demitir seus dirigentes, que não terão mais mandato fixo. Esse novo estatuto (...) abre espaço para atuações político-partidárias e ignora o necessário envolvimento daqueles que, de fato, fazem ciência no Estado”, diz o comunicado.

As reitoras e reitores das instituições públicas acreditam que a mudança enfraquecerá a ciência no estado. “Essa mudança estatutária enfraquece a atuação da Fundação com o risco de torná-la mero instrumento de gestão administrativa e burocrática, a serviço de outros interesses que não sejam o pleno desenvolvimento socioeconômico do Estado”, diz trecho da nota.

Os pesquisadores cobram do governo a revogação do decreto. “A gente está na expectativa que esse decreto seja revogado. Para isso já estamos procurando interlocução com o governo e com a Assembleia Legislativa para nos ajudar nessa questão”, explica a Reitora da UFMG.

Resposta do governo de Minas

A reportagem da Itatiaia questionou o governo de Minas sobre as mudanças na Fapemig. Confira a íntegra da resposta:

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede/MG) esclarece que a alteração do Decreto 47.931, publicado na última sexta-feira (27/10) no Diário Oficial de Minas Gerais, prevê alterações acerca do Estatuto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) que buscam garantir maior sinergia entre a política estadual de ciência tecnologia e inovação, cuja formulação é de competência da Sede/MG, e sua execução, que em importante parte é feita pela Fapemig.

É esperado que este alinhamento ajude a ampliar ainda mais o protagonismo de pesquisa e da inovação no desenvolvimento econômico do Estado que, no ano passado, foi alvo de investimentos recordes.

O estatuto segue garantindo a autonomia administrativa e financeira da Fapemig e também a relevância da comunidade acadêmica em sua condução, já que ela seguirá tendo maioria na composição do Conselho Curador.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.