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Melk do Violino: morador da maior favela de BH leva o funk para um ‘instrumento de elite’

Músico do Aglomerado da Serra tem 60 mil seguidores no Instagram e já tocou ao lado de Iza; Melk incentiva jovens músicos e pede menos preconceito com o funk

Melk tem 60 mil seguidores no Instagram

O violino é um instrumento muito ligado à música clássica e a locais como teatros, conservatórios e orquestras. Nos anos 1960, rockeiros dos Beatles e dos Rolling Stones causaram certa estranheza ao colocarem o violino em suas canções. Da mesma forma, um morador da maior favela de Minas Gerais tem surpreendido o público ao tocar grandes sucessos do funk no violino.

Melquisedec Silva, conhecido nas redes sociais como Melk do Violino, vive no Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ele conta que o violino não é um instrumento que está no cotidiano de quem mora na periferia, mas que acabou aparecendo na vida dele pra nunca mais sair.

“Em 2009, um projeto social do Sesi Minas começou a procurar jovens para formar uma orquestra. Eu nunca tinha visto um violino, nem tinha vontade, mas fui lá e comecei a estudar. No começo eu fui empurrando com a barriga, ia lá pra dar rolê, mas nos anos seguintes comecei a me dedicar mais.”

Apesar do início lento, Melk acabou se interessando pelo violino e tentou buscar formas de trazer o instrumento para o seu cotidiano. Daí surgiu a ideia de tocar as músicas que ele e os amigos conhecem em um instrumento que é desconhecido de muitos, segundo ele mesmo explica.

“Eu fui tocar no ano passado na Expo Favela em São Paulo e vários meninos da periferia pararam pra me ouvir tocar. Eles nem conheciam o violino, pararam pela música mesmo. Dessa forma eu consigo mostrar o instrumento de uma forma mais próxima deles.”

Nesses 14 anos, Melk já teve que dividir a música com os trabalhos como motoboy, garçom e atendente. Foi só há cinco meses que ele passou a se dedicar exclusivamente à música, tocando em praças, esquinas e pontos movimentados de Belo Horizonte. A música já rendeu oportunidades de trabalho com a cantora Iza e ajudou ele a conquistar quase 60 mil seguidores no Instagram, onde divulga o seu talento.

Quem tenta viver de música enfrenta muitas dificuldades, e Melk ressalta que as barreiras são ainda maiores para quem vem da periferia e quer tocar funk em um instrumento “de elite”. Mas ele faz questão de incentivar os jovens e pede para que o público não tenha preconceito com a sua música.

“Se isso fosse uma corrida, a gente da periferia enfrentaria muitos mais obstáculos que os adversários. O conselho que eu dou é: independente de onde você está, você consegue alcançar. Vai levar um pouquinho mais de tempo, mas com esforço você pode ter certeza que você vai conseguir atingir seu objetivo. Não vai ser fácil, mas o esforço é o segredo do sucesso. Sobre a música, o negócio é respeitar. O que eu acho bacana, às vezes não serve para outra pessoa e está tudo bem. Assim, as coisas vão funcionar.”

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.