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Ambulantes enfrentam dificuldades seis anos após retirada de camelôs do centro de BH

Vendedores alegam dificuldade para pagar aluguel em shoppings públicos; donos de lojas físicas veem operação como um sucesso

Seis anos depois da Prefeitura de Belo Horizonte retirar os vendedores ambulantes das ruas da capital, a decisão ainda gera opiniões controversas. Enquanto camelôs afirmam que chegaram a passar fome após a proibição, lojistas dizem que a operação foi um sucesso.

A diretora da Associação dos Lojistas do Hipercentro, Jacqueline Bacha, diz que antes do plano de realocação dos camelôs, o centro era muito mais bagunçado do que hoje. “Era um ambiente bastante tumultuado, de insegurança pública. Todas as manhãs a gente tinha que negociar, pedir às vezes para o camelô arredar um pouco para cá, para lá, para afastar um pouquinho para gente levantar a nossa porta”, disse.

O presidente da associação, Flávio Froes, explica porque é difícil competir com o camelô. “O IPTU do centro de Belo Horizonte ainda é muito caro. Pelo código de postura, a gente tem responsabilidade sobre os nossos passeios, que muitas vezes são usado por outros que estão concorrendo com a gente. De todo esse arcabouço, a gente só é prejudicado. Não tem como a gente concorrer com uma pessoa que não tem custo nenhum”, afirma.

“90% dos ambulantes voltaram para as ruas”

Adjailson Severo, presidente da Associação dos Trabalhadores Ambulantes da Capital, diz que a proposta deu muito errado. “Tanto é que não deu certo que já se passaram seis anos e 90% desses trabalhadores voltaram para a rua. Muitos deles não tiveram como arcar com os aluguéis que foram colocados pelos proprietários dos shoppings populares de Belo Horizonte. Eles desprezaram esses pais e mães de famílias que são ambulantes, que não tem de onde retirar outra fonte de renda a não ser das ruas da nossa cidade”, aponta.

Fabiano Gonçalves, de 37 anos, é ambulante há três anos e fala da sua experiência nas ruas. “Os fiscais vem e a gente tem que esconder as mercadorias, senão eles apreendem. É uma humilhação. Eles chegam e escorraçam a gente. Chegam batendo, daquele jeito que todo mundo conhece”, desabafa.

De acordo com a secretária municipal adjunta de política urbana, Lívia Monteiro, hoje a fiscalização é pacífica. “A gente fez um convite para as pessoas que estavam nos shoppings particulares irem para o shopping público. A gente teve algumas vagas preenchidas, mas o shopping ainda tem vaga. E a gente também teve uma ampliação do programa Jornada Produtiva para que eles pudessem se encaixar em outros ramos de atividade”, explica.

A Prefeitura prepara editais para desburocratizar a venda de ambulantes e caixeiros em eventos na cidade. Feiras livres devem ser criadas e a prefeitura oferece shopping popular público aos vendedores. Hoje o programa jornada produtiva tem tentado abranger ambulantes para venderem dentro da legalidade.

Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
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