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Cesio-137 furtado em Minas: lembre o desastre com material radioativo em 1987

Mineradora tem fontes radioativas furtadas no Sul de Minas; autoridades afirmam que equipamento é classificado como de ‘baixo risco’

Em 1988, a CNEN realizou uma operação pente-fino em todo o país

O furto de duas fontes de Césio-137 de uma mineradora em Nazareno, no Sul de Minas, é investigado pelas autoridades. Essa é o mesmo material que provocou o acidente radioativo mais grave do Brasil há 35 anos em Goiânia: no total, mais de 112 mil pessoas foram expostas aos efeitos do césio.

Entretanto, segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), as fontes furtadas têm atividade “300 mil vezes menor” do acidente de Goiânia. Além disso, o órgão garante que elas são feitas em material cerâmico, ou seja, “mesmo que fossem violadas em seus invólucros duplos de aço inox não seriam espalháveis como foi a fonte do acidente de 1987.”

Relembre como aconteceu o desastre em 1987
  • No dia 13 de setembro de 1987, dois catadores de materiais recicláveis encontraram em instalações do antigo Instituto Goiano de Radioterapia uma máquina que desconheciam ser um aparelho usado para esse tipo de tratamento;

  • Os catadores levaram o material para casa e, após retirar algumas partes, venderam o que restou a um ferro-velho, de propriedade de Devair Ferreira;

  • Devair, também sem saber do que se tratava, desmontou a máquina para reaproveitar o chumbo e expôs, assim, ao ambiente 19,26 gramas de cloreto de césio 137. O pó branco que emitia uma luz azulada no escuro foi exibido durante quatro dias para toda a vizinhança e, algumas pessoas levaram amostras do césio para casa. Como parte do equipamento acabou sendo vendida para outro ferro-velho, o material radioativo acabou se espalhando por uma área ainda maior.

  • Não demorou para que as pessoas começassem a apresentar os primeiros sinais de que carregavam no corpo altos níveis de radiação: diarreia, náuseas, tonturas e vômito.

  • Elas procuraram os hospitais da cidade, onde foram medicadas como pacientes de doença contagiosa. Somente depois de 16 dias, quando parte da máquina de radioterapia foi levada à Vigilância Sanitária, constatou-se que os sintomas eram de contaminação radioativa.

  • As primeiras vítimas da contaminação foram a esposa do dono do ferro-velho, Maria Gabriela, que morreu no dia 23 de outubro de 1987, e sua sobrinha, a menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, que ingeriu pequenas quantidades de césio depois de brincar com o pó azul. A menina foi a vítima que apresentou a maior dose de radiação. Ela morreu horas depois da tia.

  • 49 vítimas foram levadas para o Rio de Janeiro. 21 desses pacientes passaram por tratamento intensivo e quatro morreram. No total, mais de 112 mil pessoas foram expostas aos efeitos do césio, em Goiânia.

    * com informações de Agência Brasil

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.