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Pesquisa da PUC/MG mostra que falar suave com cães é mais efetivo

Pesquisadora da PUC-Minas publica estudo sobre efeitos do tom de voz no treinamento de cães

Parceria com o Wolf Science Center de Viena, na Áustria, sugere maior efetividade na resposta a comandos ditos em fala suave

O tom de voz usado com cães influencia como os cães respondem a comandos “sentar”, “ficar” e “rolar”. É isso que sugere o estudo publicado no ''Animals’’, da pesquisadora brasileira Melissa Gabriela Bravo Fonseca, estudante do programa de pós-graduação ao lado da professora Adjunta Angélica da Silva Vasconcellos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais a (PUC-Minas).

A reportagem da Itatiaia conversou com a mestre em Biologia de Vertebrados Melissa e com a professora Angélica sobre como os pets interpretam a voz humana e dicas de adestramento.

Como começou a pesquisa

“Essa linha de pesquisa iniciou em 2010, quando fui fazer um estágio pós-doutoral no Wolf Science Center, na Áustria. Essa instituição é voltada ao estudo dos efeitos da evolução e da domesticação em cães. Eles mantêm cães e lobos sob os mesmos protocolos, para fazer estudos comparativos em comunicação e cognição”, explicou Melissa.

Como lobos são animais silvestres — ou seja, não passaram pelo processo de seleção de características que facilitam o contato com seres humanos — as pesquisaras avaliam o efeito dessas sessões de treino nesses animais.

“O resultado me surpreendeu: tanto cães quanto lobos eram beneficiados pelas sessões de treino, através da redução do estresse. A partir desse resultado, restava identificar que características dessas sessões contribuíram para esse efeito”, contou Melissa.

Poderia ser o contato com pessoas conhecidas, poderia ser o petisco que era dado como recompensa, mas também poderia ser a interação de treino em si.

“Então, vieram vários trabalhos investigando diversos aspectos do treino: comparando respostas de cães de abrigo e cães de companhia (publicado em 2021), o trabalho publicado em março, mostrando os efeitos do tom de voz nas respostas de cães e lobos”, explicou.

Animais interpretam falas dos humanos

Os animais interpretam a fala e o comportamento humano. “Em geral, não apenas como simples sons ou gestos, mas como uma gama de sinais relacionados a contextos específicos. Isso tem um efeito importante no bem-estar e no desempenho dos animais, pois variações no “ambiente” de treinamento podem influenciar o significado dos comandos e a relação estabelecida entre a díade (animal e treinador)”, disse Ângela.

As pesquisadoras explicam que, considerando que a voz humana pode ser modulada e influenciada por diversos fatores, como estados internos ou condições externas, alterações na entonação são percebidas pelos animais.

Brigar com o animal prejudica o aprendizado

Os resultados dos levantamentos mostraram que, embora os animais possam ter um desempenho aceitável quando são treinados com o uso de uma fala repreensiva, o uso da fala suave tem melhores resultados.

“A fala amigável, além de estar relacionada a uma melhora no desempenho dos animais, também foi associada a um maior tempo dos animais a menos de 1 metro do treinador e exibindo por mais tempo comportamentos indicativos de estados internos positivos (abanar da cauda)”, afirmaram as pesquisadoras.

Portanto, segundo a pesquisa, a voz carrega uma série de pistas emocionais e afetivas. “Essas podem influenciar negativamente no comportamento e no estado emocional interno de cães — seja interferindo na percepção da interação estabelecida com o treinador, seja alterando a previsibilidade das respostas e a execução de comandos”, disseram.

Adestramento

Ângela e Melissa explicam que técnicas mais atuais de adestramento e condicionamento comportamental canino se apoiam em Treinamentos por Reforço Positivo (TRP).

“Isso oferece aos animais tanto uma maior capacidade de escolha quanto maior controle sobre o ambiente, contribuindo, assim, para um estado psicológico e hormonal mais saudáveis. A partir de TRPs consegue-se moldar o comportamento de um indivíduo a partir da associação entre um comportamento ou ação desejados e sua correta execução”, afirmou as pesquisadoras.

Confira as dicas

  • Mais importante do que mostrar ao animal o que ele fez de errado, é mostrar e reforçar o que está correto;

  • Se o seu cãozinho destruiu um objeto, não grite com ele, porque provavelmente ele não irá compreender o conteúdo do seu “sermão”, mas poderá ter sim suas emoções afetadas pelo seu tom de voz;

  • Procure formas de estimular o seu cachorro de modo positivo e premie quando ele se comportar corretamente. Assim, ele irá agir de modo certo mais vezes.

  • O reforço positivo já se mostrou mais eficaz que a punição em outros estudos. Verificou-se que aquilo que os cães aprendem por reforço positivo fica gravado por mais tempo que o que eles aprendem por punição.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.