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BH Antigamente: fotos que revelam o passado da capital mineira fazem sucesso na internet

Páginas e grupos reúnem milhares de seguidores, que usam a nostalgia para visitar uma Belo Horizonte que já não existe mais

Fotos antigas revelam o passado de uma Belo Horizonte que já não existe mais

Quando Belo Horizonte foi inaugurada, em 12 de dezembro de 1897, a fotografia já existia há 70 anos. Por isso, BH é uma das poucas capitais brasileiras (e a única do Sudeste) a ter toda a sua história registrada em foto. Não é de se espantar que, com isso, o acervo de imagens da capital mineira seja grande, muito grande.

Só o Arquivo Público de BH conta com mais de 1,2 milhão de itens em acervo, como fotos, cartazes e jornais. Esses itens dão força ao sentimento de nostalgia, que reúne milhares de pessoas em grupos e páginas na internet. E são pessoas de todos os tipos: ricos e pobres, famosos e anônimos, jovens e velhos, nascidos em BH ou os que adotaram a capital como novo lar. Enfim: a memória cria coletivos.

Uma das páginas responsáveis pelo resgate da memória da capital mineira é a “BH Antigamente”, criada pelo químico e antropólogo Carlos Araújo. A mãe o criou contando histórias da época dos bondes e das casas antigas, e sempre pedia ao filho para encontrar fotos da Escola JK e da antiga Igreja de São Francisco, localizadas na região do atual viaduto São Francisco. Essas fotos ele nunca encontrou, mas de tanto juntar imagens para mandar para a mãe, ele acabou se vendo com um acervo considerável. E, para não perder nada, decidiu criar o perfil no Instagram.

“A página é só um arquivo mesmo, não é um trabalho. Mas foi crescendo aos poucos, sozinha. Um dia eu abri as mensagens e vi um recado do Samuel Rosa me parabenizando pelo trabalho. Pouco depois, veio o Haroldo e o Henrique Portugal, do Skank. Aquilo foi uma realização. Meu primeiro LP, lá em 1993, foi deles.”

Atualmente, a página conta com 40 mil seguidores, publicando fotos “garimpadas” em acervos ou enviadas por populares, sempre creditadas aos donos e autores. Uma das publicações mais recentes gerou um debate nos comentários: afinal, essa imagem de Milton Nascimento e Wagner Tiso realmente foi tirada no edifício Maletta? A confirmação veio do próprio Bituca, que ligou para Samuel Rosa e confirmou a informação.

Acervo

Boa parte dessas fotos vem de acervos públicos federais, estaduais e municipais. O Arquivo Público Mineiro, sozinho, reúne mais de 140 mil fotos de BH, de Minas e de outros lugares do país e do mundo. No site do APM, é possível fazer buscas por autor, data, local ou palavras-chave. A Superintendente de Bibliotecas, Museus, Arquivo Público e Equipamentos Culturais de Minas Gerais, Célia Ramos, dá detalhes do acervo.

“O Arquivo Público foi criado em 1895, mas possui fotos muito mais antigas, de 1839, por exemplo. Boa parte do acervo veio depois de 1998, quando encampamos os materiais da antiga Casa Civil. O que muita gente não sabe é que, além das exposições virtuais e do acervo digitalizado, é possível agendar visitas presenciais ao novo arquivo.”

Esse sistema digitalizado é uma das principais metas do Arquivo Público Municipal para os próximos anos. Michelle Torre, técnica de Patrimônio Cultural do Arquivo Público de BH, explica que o objetivo é que o grande acervo da instituição fique mais acessível ao público em breve.

“Temos mais de 1.500 metros lineares de documentos textuais, além de 1,2 milhão de itens, entre fotos, cartazes e revistas. Atualmente, temos exposições virtuais no site da PBH e projetos voltados ao público escolar. Mas já estamos na fase de implantação do sistema e queremos muito permitir ao público essa consulta online”.

Passado, presente e futuro

“Guaicurus, Caetés, Goitacazes, Tupinambás, Aimorés, todos no chão”. A frase de “Ruas da Cidade”, música de Lô e Márcio Borges, ajuda a explicar o interesse das pessoas em uma Belo Horizonte que, de certa forma, não existe mais. Henrique Portugal, tecladista do Skank, confessa que tenta conhecer a história da capital por meio dessas imagens.

“É muito interessante ver a transformação da cidade em que eu nasci e eu vivo. As mudanças nos bairros, nos solos, nas construções. Ver a Afonso Pena toda arborizada (com Ficus) é muito interessante. Não basta viver na cidade, a gente tem que cuidar dela, saber a história.”

Pode ser clichê, mas todo mundo sabe que o presente é o passado de amanhã. Então, o hoje pode virar história. Carlos Araújo, da página BH Antigamente, acredita que o resgate da memória da nossa capital não é algo passageiro.

“A vida é muito dinâmica. É curioso, mas os dois tópicos que mais repercutem na página são fotos do início da capital, da BH que não existe mais, e, ao mesmo tempo, da cidade há 20 ou 30 anos, que muitos seguidores viveram. No futuro vai ter outra BH Antigamente, eles vão mostrar essa nossa conversa online aqui como algo velho, antiquado.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.